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28 de Setembro de 2010 às 12:10

Mitos proteccionistas

Num debate realizado no ano passado em Nova Iorque intitulado "As políticas que visam a compra exclusiva de produtos norte-americanos e a contratação de trabalhadores norte-americanos vão ter resultados opostos ao desejado"

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Num debate realizado no ano passado em Nova Iorque intitulado "As políticas que visam a compra exclusiva de produtos norte-americanos e a contratação de trabalhadores norte-americanos vão ter resultados opostos ao desejado", com centenas de pessoas na assistência, a minha equipa de três partidários do comércio livre enfrentou um trio de proteccionistas que aparecem com frequência em público. Esperávamos perder por 55% contra 45% na votação final da audiência. Mas a verdade é que ganhámos por uma margem sem precedentes, de 80% contra 20%. Vários participantes comentaram que ganhámos porque tínhamos os "argumentos e a evidência", enquanto os nossos oponentes tinham "afirmações e injúrias".

É evidente que o pessimismo e o desespero que os defensores do comércio livre muitas vezes sentem não se justifica. Os argumentos dos proteccionismos (os novos e os velhos) são apenas mitos que podem facilmente ser contrariados. Olhemos para alguns dos exemplos mais chocantes.

Mito 1: "Os custos de protecção e os benefícios do comércio são negligenciáveis."

Isto significa, naturalmente, que se o proteccionismo é politicamente conveniente, não há razão para chorar pelos prejuízos que este causa ao país, uma atitude que muitos democratas nos Estados Unidos consideram conveniente adoptar.

Ironicamente, este mito é um produto de metodologia desapropriada e resulta da pesquisa do meu eminente professor em Cambridge, Harry Johnson; e tem sido, inexplicavelmente, desde 1990, uma das teorias preferidas do premiado estudante do MIT Paul Krugman. Mas apesar de esta teoria continuar a ser bem vista em Washington, nenhuma académico sério lhe dá crédito, dadas as convincentes refutações publicadas em 1992 por Robert Feenstra, o mais competente empirista em matéria de política comercial, e em 1994, por Paul Romer, de Stanford.

Mito 2: "O comércio livre pode aumentar a prosperidade económica mas é mau para a classe trabalhadora."

Este argumento tem grande credibilidade junto dos sindicatos que acreditam que o comércio com países mais pobres cria indigentes nos países mais ricos. Assim, defendem que deve existir um campo de jogo igual para todos, ou seja, devem aumentar os custos dos seus rivais nos países pobres, impondo os mesmos padrões laborais que existem nos países ricos. A utilização Orwellian de termos como "comércio justo" mascara o facto de que se trata de uma simples forma insidiosa de proteccionismo que visa reduzir a concorrência das importações.

Muitos economistas concluíram, no entanto, que são as contínuas e profundas alterações tecnológicas que poupam mão-de-obra, e não o comércio com os países pobres, os principais culpados pela actual estagnação dos salários nos países ricos. Além disso, os trabalhadores beneficiam dos preços mais baixos de bens importados como roupas e material electrónico.

Mito 3: "O comércio livre exige que os outros países também abram os seus mercados."
Este é um argumento que aparece sempre que uma nova administração norte-americana toma posse. Mas os factos são muitas vezes ficção, e a lógica não é convincente. Os construtores automóveis norte-americanos estavam convencidos de que, durante os anos 80, o mercado japonês estava fechado e o do Estados Unidos estava aberto. Mas eram os Estados Unidos que tinham uma quota correspondente a 2,2 milhões de veículos japoneses, já que o mercado japonês estava aberto mas era difícil entrar nele. Este argumento voltou agora a aparecer em relação à China.

Mesmo que as outras economias estejam fechadas, as economias abertas podem continuar a beneficiar do seu comércio livre. Existia algum cepticismo em relação a esta visão. Argumentava-se que se o mercado japonês estava fechado e o dos Estados Unidos aberto, então as empresas japonesas teriam acesso a dois mercados e as companhias norte-americanas teriam acesso a apenas um mercado. As empresas japonesas teriam custos unitários mais baixos que as empresas dos Estados Unidos. Mas neste caso, como sempre, o problema é a hipótese de que as empresas japonesas iriam continuar a ser tão eficientes como as norte-americanas, apesar do proteccionismo.

Mito 4. "Paul Samuelson abandonou o comércio livre e ele foi o maior economista do seu tempo."

É verdade que Paul Samuelson foi o maior economista do seu tempo. Mas não é verdade, como defendem muitos proteccionistas, que tenha abandonado o comércio livre. Mesmo Hillary Clinton, na sua campanha para a presidência dos Estados Unidos, adoptou, erradamente, esta falácia.

O que Samuelson mostrou foi que qualquer alteração exógena poderia afectar negativamente uma economia de comércio; ele não defendeu que a resposta certa a essa situação era o abandono do comércio livre. Considerem uma analogia: se a Florida for devastada por um furacão, a situação só piorará se o seu governador decidir abandonar o comércio com os outros estados.

Mito 5: "A deslocalização de postos de trabalho devasta os países ricos."

Este alarme surgiu durante a campanha presidencial falhada do Senador John Kerry, em 2004, quando foram enviados raios-x digitalizados do Massachusetts General Hospital em Boston para serem vistos na Índia. Mas, desde aí, nenhum radiologista nos Estados Unidos perdeu o seu posto de trabalho ou viu os seus rendimentos diminuírem. Na verdade, é claro que o aumento da transacção de serviços não desencadeou um tsunami económico nos países ricos.

Muitas vezes, os postos de trabalho que, de qualquer forma, iriam desaparecer devido aos elevados custos nos Estados Unidos e em outros países ricos ressurgiram onde os custos são mais baixos, permitindo o fornecimento de serviços que, de outra forma, se teriam perdido. Assim, alguns economistas, como Alan Blinder, preocupados com a deslocalização, passaram a defender simplesmente que, devido ao aumento da comercialização de serviços, devíamos alargar aos serviços os programas de ajuda ao ajustamento das actividades afectadas pelo comércio.

Ao que o comércio livre responde: "isso não é um problema!"


Jagdish Bhagwati, professor na Universidade de Columbia e membro da International Economics, fazendo parte do Conselho de Relações Externas, está a terminar um livro intitulado "Terrified by Trade: How to Contain Protectionism Today".



© Project Syndicate, 2010.
www.project-syndicate.org
Tradução: Ana Luísa Marques




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