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16 de Abril de 2012 às 23:30

O erro de Obama no Banco Mundial

A escolha de um sucessor para Robert Zoellick, no cargo de presidente do Banco Mundial supostamente daria início a uma nova era de abertura à competição meritocratica, quebrando assim o tradicional domínio que os Estados Unidos têm no cargo.

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A escolha de um sucessor para Robert Zoellick, no cargo de presidente do Banco Mundial supostamente daria início a uma nova era de abertura à competição meritocratica, quebrando assim o tradicional domínio que os Estados Unidos têm no cargo. De facto, a nomeação de Robert Zoellick foi amplamente considerada, a partir desta perspectiva, como "ilegal". Mas o presidente norte-americano, Barack Obama acabou por desapontar o mundo - de forma ainda mais angustiante - com a nomeação de Jim Yong Kim para o cargo.

Para começar devia ser claro que o candidato mais notável - Ngozi Okonjo-Iweala – estava já próximo. Ela tinha credenciais impressionantes: uma especialização em economia em Harvard e no MIT, experiência de trabalho numa ampla variedade de questões de desenvolvimento enquanto directora-geral do Banco Mundial e uma passagem pelo Ministério das Finanças e dos Negócios Estrangeiros da Nigéria. (Ela tem demonstrado também qualidades raras: uma grande vontade para combater a corrupção à custa do seu próprio trabalho).

Além disso, Okonjo-Iweala é espirituosa e articulada e não tem problemas em aceitar argumentos maus. Ela era a candidata de sonho para liderar o Banco Mundial.

O que nos diz a escolha de Obama sobre a sua sincera retórica feminista? Será que ele traça as linhas onde mais lhe convém? De facto, se Obama e os seus conselheiros não apoiaram Okonjo-Iweala por ela não ser americana, certamente podiam ter nomeado uma mulher norte-americana que seria muito superior a Kim para desempenhar o cargo.

E pelo menos duas surgem na minha mente: Laura Tyson (antiga estudante do MIT), que presidiu ao Conselho de Conselheiros Económicos na presidência de Bill Clinton e Lael Brainard, que é uma estudiosa extraordinária e que, neste momento, trabalha para a secretaria do Tesouro para as Relações Internacionais.

Talvez Obama acreditasse que ao escolher Kim, um americano de origem coreana e especialista em saúde pública, actualmente presidente da Faculdade de Dartmouth, poderia dar um impulso na sua agenda para a segurança com o Seul [Coreia do Sul] (onde Obama aterrou logo após ter sido anunciada a nomeação de Kim), bem como a agenda económica, com a Ásia, a médio-prazo. Mas qualquer um pode perguntar: o que é bom para os Estados Unidos é, necessariamente, bom para o mundo?

Na mesma linha, o apoio americano para que Ban Ki-moon fosse nomeado secretário-geral das Nações Unidas deu aos Estados Unidos o que eles pretendiam, em termos de questões económicas internacionais. Enquanto o antecessor de Ban Ki-moon, Kofi Annan, era suficientemente independente para apoiar os esforços para concluir a Ronda de Doha sobre as transacções comerciais e promover um pacto mundial sobre a imigração (eu aconselhei-o em ambos os casos), a Administração Obama afastou-se desses assuntos. Tal como Ban Ki-moon.

Mas talvez o factor mais determinante na escolha de Barack Obama parece ter sido um mal-entendido sobre aquilo que o "desenvolvimento" exige. Micro-políticas como os cuidados de saúde são, para a administração Obama, o exemplo do que deve ser uma política de desenvolvimento. Mas políticas de nível macro, como a liberalização do comércio e do investimento, privatizações, e assim por diante, são fortes instrumentos de redução da pobreza: de facto, eles estão entre os principais componentes das reformas que países como a Índia e a China abraçaram em meados da década de 1980 e no início da década de 1990.

Essas reformas tiraram esses países da estagnação e impulsionaram o crescimento. Os lobbies anti-reformistas reagiram argumentando que a pobreza e as desigualdades pioraram. Mas os novos estudos empíricos mostram o contrário: o crescimento das economias beneficia os pobres não porque a riqueza “desce” mas porque o crescimento "puxa" os que estão no fundo.

De facto, é a rápida aceleração do crescimento económico nos principais países emergentes que reduz a pobreza, não apenas directamente - através do emprego e de rendimentos mais altos - mas também através da geração de receitas governamentais necessárias para apoiar o sistema de saúde público, a educação e outros programas que sustentem a redução da pobreza – e o crescimento – a longo prazo. A Índia seguiu este caminho. Assim como foi feito pelo anterior presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva – depois das reformas levadas a cabo pelo seu antecessor terem gerado receitas que puderam ser gastas em programas de assistência aos mais pobres.

O problema com Kim, e presumivelmente com os especialistas em desenvolvimento da administração Obama, é que eles não entendem que desenvolvimento bem-sucedido requer grandes pagamentos e políticas reformistas e pró-crescimento, não apenas políticas de pequenos pagamentos. O Bangladesh enveredou por esse caminho, substituindo essas políticas por reformas de nível macro, e o seu desenvolvimento anda a uma velocidade menor do que a da Índia, onde as reformas de nível macro chegaram primeiro.

Kim dificilmente entende esta dinâmica. Há uma década, ele partilhou as tiradas contras as reformas "neo-liberais" que, de facto, eram um prenúncio de um crescimento mais elevado e uma pobreza menor em todo o mundo. A presidência do Banco Mundial não devia ser uma aprendizagem.


Jagdish Bhagwati, Professor de Economia e Direito na Universidade de Columbia e conselheiro sénior em Economia Internacional no Conselho das Relações Externas, editou recentemente, "In Defense of Globalization".

Copyright: Project Syndicate, 2012.
www.project-syndicate.org
Tradução: Ana Laranjeiro


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