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27 de Maio de 2018 às 21:27

As notas da semana de Marques Mendes

Nas suas notas da semana, Luís Marques Mendes questiona quais são as verdadeiras funções do ministro Adjunto, Pedro Siza Vieira. Sobre o Sporting, o comentador diz que se está a preparar uma "guerra civil" dentro do clube.

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A CRISE DO SPORTING

 

1. Pelo que se viu esta semana, a crise está para durar. Pelo menos até à Assembleia Geral do dia 23 de Junho. E, "pelo andar da carruagem", o ambiente que se prepara é de autêntica guerra civil dentro do Sporting. Não é um cenário brilhante.

 

2. Bruno de Carvalho mudou de estratégia. Agora passou a arvorar-se em vítima. Ele não tem culpa de nada. Parece que é vítima de tudo e de todos. Dos atletas que não o compreendem. Dos dirigentes que o abandonaram. E, claro, da comunicação social.


Na conferência de imprensa desta semana, o Presidente do Sporting parecia José Sócrates
, quando o ex-PM se queixou do Ministério Público, da comunicação social e agora também do PS.


A mudança é tão artificial que ouve-se Bruno de Carvalho e ele parece aquele condutor que entra na auto-estrada em contramão e depois pensa que todos os outros automobilistas estão errados e ele é o único que está certo.

 

3. Numa palavra: é o populismo à solta. Pelos vistos, toca a todos. Já sucedeu num período negro do Benfica (Vale e Azevedo). Sucede agora com o Sporting. Mas é perigoso para uma instituição tão importante e prestigiada quanto o Sporting.

 

 

 

O MINISTRO SIZA VIEIRA

 

1. O ministro Siza Vieira está no centro de dois casos muito diferentes: o caso da empresa imobiliária dá mais nas vistas; mas o mais sério é o caso ligado à energia e à OPA sobre a EDP. Aqui, é tudo estranho e imprudente:


a) Primeiro: o Ministro pede escusa de intervir em casos de energia porque o seu passado profissional esteve muito ligado a questões energéticas. Sendo assim, por que é que só pediu escusa agora e não logo no início de funções? É muito estranho  e pouco prudente.


b) Segundo: o Ministro pede escusa de intervir agora mas já antes tinha reunido com o acionista chinês da EDP. Que coerência tem isto? Parece gato escondido com rabo de fora. É novamente estranho e imprudente.


c) Terceiro: mas o mais estranho são as funções do ministro Siza Vieira. São muito nebulosas e pouco transparentes. Ele trata de energia mas não é Ministro da Energia. Ele trata de questões económicas mas não é Ministro da Economia. Ele trata de questões empresariais mas não é Ministro do sector.  Parece que temos 2 Ministros da Economia: o oficial e o oficioso; o titular e o suplente; o Ministro A e o Ministro B. Tudo isto é, politicamente falando, muito estranho e pouco transparente.

 

Conclusões políticas a tirar:


a) Já se percebeu que António Costa tem uma virtude: é amigo dos seus amigos. Foi assim com Diogo Lacerda Machado e é assim com Siza Vieira. Mas, num caso e no outro, houve facilitismo a mais, informalidade a mais e transparência a menos.


b) Claro que nada disto tem a ver com corrupção. Mesmo assim, depois dos casos Sócrates e Pinho, o PS devia ter mais cuidado e atenção.

c) António Costa tem sorte. A sorte de não ter oposição. Os líderes do PSD e CDS são muito "meiguinhos". Ou estão anestesiados ou estão condicionados. Seja no caso Sócrates, Pinho ou Siza Vieira, abdicam de fazer oposição. Se fosse ao contrário, já tinha caído o Carmo e a Trindade.



O CONGRESSO DO PS

 

1. Confirmaram-se as previsões que aqui fiz há uma semana: que este Congresso seria um super comício; que António Costa seria aclamado; que Pedro Nuno Santos seria lançado para o futuro: que vários jovens "turcos" subiriam à direcção do partido.

 

2.Fora isso, que conclusões a tirar do Congresso?

a) Primeira conclusão: nem uma intervenção sobre Sócrates. O que mostra que o ex-PM é passado. Rei morto, rei posto.

b) Segunda conclusão: a seguir a António Costa, o próximo líder do PS será Pedro Nuno Santos. Vê-se que tem qualidades e apoios. Fez, a seguir a Costa, o melhor discurso do Congresso. Assertivo, cortante e com instinto matador, o que é próprio de um líder.

c) Por último e mais importante: o PS tem um líder incontestado com um objectivo muito claro – tentar a maioria absoluta nas próximas eleições. Isso ficou claro em todo o Congresso. Por isso é que não se discute política de alianças. A esse respeito, eu diria o seguinte:


Por um lado, António Costa quer a maioria absoluta por estado de necessidade. Ele sabe que sem ela dificilmente conseguirá um governo estável de mais 4 anos. Porque repetir a geringonça com a solidez que ela tem hoje é impossível. E fazer um Bloco Central é uma ilusão. Não passa no PSD.


Por outro lado, António Costa sabe que a maioria não é impossível. Hoje, a política em Portugal é um filme que tem apenas 2 actores principais – Marcelo e Costa. Todos os outros são actores secundários. Isso ajuda muito à maioria. Além do mais pode conquistar, pelo voto útil ao centro, muitos eleitores que não querem um governo PS/Bloco de Esquerda.


Finalmente, não havendo a maioria, isso vai ser um problema sério para Costa. Semelhante ao problema de Guterres em 1999. Não teve maioria. Ficou abalado psicologicamente. Ficou fragilizado politicamente. Caiu a meio do mandato.

 

 

 

ARNAUT E A SAÚDE

 

1. Há 40 anos morria-se em Portugal por falta de dinheiro para tratar uma doença. Quem acabou com esta realidade foi o SNS universal e gratuito. Esta é a melhor homenagem que se pode prestar a António Arnaut. Um homem impoluto, de princípios e valores, corajoso e com visão de futuro.

 

2. Quarenta anos depois, o SNS corre o risco de acabar? Acabar, não. Mas corre o sério risco de se degradar e de perder muita qualidade. E aí quem perde, uma vez mais, são os mais pobres. Os mais ricos têm sempre alternativas nos serviços privados de saúde.

 

3. O SNS tem 4 problemas essenciais:

a) Um problema de eficiência. O nosso SNS não é dos mais caros da Europa. Mas é dos menos eficientes. Basta pensar nas listas de espera.

b) Um problema de investimento. Aumento de esperança de vida; doenças raras; medicamentos inovadores; equipamentos tecnologicamente avançados. Tudo isto exige muito investimento. Não havendo dinheiro para investir, o SNS degrada-se. É o que está a suceder.

c) Um problema de financiamento. O nosso SNS está sub-financiado. Somos dos países da UE que menos gastam per capita com o SNS. Só que o OE não tem grande folga para maior financiamento. De duas uma: ou a economia cresce mais de 2% ou então tem que haver cofinanciamento dos cidadãos com rendimentos mais elevados.


d) Um problema de motivação. Há muita desmotivação nos nossos profissionais do SNS. Por razões remuneratórias e não só.


Conclusão: o SNS não está nada bem. Salvá-lo bem justificava um Pacto de Regime.

 

 

 

EUTANÁSIA – SIM OU NÃO?

 

1. Debate com elevação mas insuficiente – Manda a verdade que se diga que o debate tem sido feito com elevação. Mas é um debate insuficiente. Ainda nem sequer chegou ao comum dos cidadãos. Como disse Jorge Sampaio, o debate devia ser aprofundado.


Eu estou como a maioria dos portugueses – com mais dúvidas do que certezas. Dúvidas éticas, médicas, jurídicas, constitucionais. Sensibilizado para situações limite, mas com o receio de abusos e perversidades que têm existido lá fora, com jovens e com idosos.


E na dúvida não se arrisca nem se entra em aventura. Aprofunda-se o debate e o contraditório. Além do mais, qual é a pressa? Não há pressão social; e, na UE, até hoje só 3 países legalizaram a eutanásia.

 

2. Deve existir referendo? Há um ano disse o que hoje repito: matérias que dividem profundamente a sociedade e os partidos; matérias que são acima de tudo do foro ético, moral e de consciência individual de cada um devem ser decididas em referendo e não no Parlamento. É o caso da eutanásia. Mas como nenhum partido tomou essa iniciativa, fica apenas o registo da minha coerência.

 

3. Os deputados têm legitimidade para decidir?


a) Legitimidade têm. O que não têm é autoridade moral e política. Porque os deputados não têm, neste caso, um mandato dos eleitores.


b) Esta matéria não foi discutida em qualquer campanha eleitoral. Não estava inscrita nos programas eleitorais de qualquer um dos principais partidos. Ora, nós vivemos numa democracia representativa. Os deputados devem representar o povo e não representar-se a si próprios. Neste caso, não têm um mandato dos eleitores.


c) O que seria mais correcto e sensato? Adiar a decisão por mais um ano e meio. Para depois das eleições de 2019. E, no entretanto, aprofundar o debate e discutir o tema na próxima campanha eleitoral.



CRISE EM ESPANHA?

 

1. Espanha vive um momento de instabilidade.

Um tribunal espanhol condenou vários antigos dirigentes do PP a penas pesadas por actos de corrupção (incluindo o próprio partido);


Na sequência, o PSOE apresentou uma Moção de Censura;


Ao mesmo tempo, o Ciudadanos pede eleições antecipadas.

 

2. Conclusões a tirar:

a) A moção de censura não deve ser aprovada. O Ciudadanos não deverá aprová-la porque isso significaria viabilizar um governo do PSOE. Em Espanha vigora a Moção de Censura Construtiva (a queda de um governo faz-se com a aprovação de um novo governo e novo PM). Mesmo assim, é um sinal de que a situação política está a agravar-se.


b)A popularidade de Rajoy e do PP espanhol está pelas ruas da amargura. Apesar de a economia estar em alta. Melhor mesmo que a portuguesa. A que se deve então esta baixa de popularidade? Aos inúmeros casos de corrupção que estão a ser julgados e que envolvem dirigentes do PP. Isto devia ser também sinal de preocupação para o futuro do PS em Portugal.


c) Nada disto é bom para a Europa e para Portugal: perigo em Itália com um governo populista e nacionalista; crise catalã em andamento; instabilidade política em Madrid. Porquê?


Porque faz subir as taxas de juro (é o que está a suceder);


E pode afectar a economia nacional (porque a nossa economia está muito interligada com a economia espanhola).

 

 

 

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