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Mancha negra

O que se passa na Europa de hoje faz-nos regressar ao mundo do grego Sófocles e das suas grandes e trágicas personagens, Antígona e Creonte.

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Este representa o poder estabelecido e para ele os fins justificam todos os meios, mesmo que estes impliquem a dor profunda.

O seu autoritarismo sobre Antígona lembra o de agora da UE sobre a Grécia. Começa a ponderar entrar na esfera de soberania do Estado grego, entregando a uma agência externa a gestão das privatizações e a cobrança fiscal, o que será abrir uma caixa de Pandora. A UE começa a comportar-se como um choco com tinta.

De idiotice em idiotice vai tingindo tudo de tinta preta. Ninguém já parece ter o dom da visão minimamente objectiva neste mundo de obscuridade em que a UE se esconde para não tomar medidas inteligentes e sensatas. A UE, que nunca conseguiu unificar a sua política económica e financeira de forma consistente, está a fazer do livre arbítrio a sua forma de ultrapassar a falta de reflexão e diálogo num continente que fez da democracia o seu orgulho.

A política da UE é hoje uma gigantesca mancha negra que não nos deixa ver o futuro. E o problema é que Portugal tem muito pouco espaço de manobra para não se tornar numa nova Grécia. Os chamados "ajustes de pormenor" do documento com a Troika são uma forma de pressão sobre o Governo que sair destas eleições que não lembra a ninguém. A menos que a UE se queira transformar numa nova Inquisição. O que é lamentável é que, entregue à dívida e ao défice, Portugal navega hoje à bolina. Pesca o que vem à rede. E neste caso só nos sai uma UE disfarçada de choco com tinta.
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