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Lisboa viva

Comecemos pelo princípio. Ou melhor pelos princípios. Escrever artigos de opinião não deve impedir ninguém de tomar posição política, apoiar candidaturas ou mesmo apelar ao voto em época eleitoral. No entanto esse alinhamento, permanente ou temporário, de

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A prática corrente seguida por muitos jornalistas e comentaristas que sob a capa de uma pretensa e falsa independência escondem as suas opções políticas e partidárias não é tolerável. Assim sendo e porque o tema Lisboa é e será certamente um dos meus favoritos nas próximas semanas desde já declaro que apoio António Costa. O que, embora me considere um liberal radical, na verdade um libertário, e portanto sem partido nem compromissos, deve ser tido em conta.

Apoio Costa porque ele cumpre as condições mínimas para promover a mudança que Lisboa precisa. Apesar de ser um típico homem de partido foi capaz de manter o partido na ordem e, melhor ainda, afastar da sua lista aqueles que de forma tão negativa o representaram nestes últimos anos. Soube para mais escolher um conjunto de pessoas que valem pelos seus próprios méritos e não por terem um cartão partidário. Para além de Manuel Salgado e José Cardoso da Silva destaco Rosália Vargas, extraordinária mulher que transformou a divulgação da ciência no facto cultural mais interessante e inovador das últimas décadas em Portugal. Conhecendo a sua tremenda energia é de esperar que a Ciência Viva dê origem a uma Lisboa Viva.

Costa conquistou também o meu apoio por ter abordado como uma das suas prioridades a questão da limpeza e manutenção do espaço urbano.  Não é comum um candidato dar importância a um assunto aparentemente tão menor. Julgo que não me ficará mal contar aqui uma pequena história. Um dia João Soares, então Presidente da Câmara, chamou-me ao gabinete e perguntou: então diga lá o que falta fazer em Lisboa? Eu respondi: limpar as ruas. Olhou-me algo perplexo e disse: você não percebe mesmo nada de política.

Ora, limpar as ruas é seguramente um dos actos políticos e administrativos mais importantes que uma Câmara Municipal pode realizar. Um bom e agradável ambiente urbano gera boa disposição nas pessoas e reforça o sentimento de pertença à própria cidade. A limpeza e manutenção do espaço público têm um enorme impacto na qualidade de vida e na relação afectiva que cada um estabelece com a sua cidade.

Gostei também da posição frontal como Costa abordou a questão da Ota. Ao contrário de todos os outros que só vêem problemas e antecipam desgraças, Costa é o único candidato que vê a Ota como aquilo que efectivamente é para Lisboa. Uma grande oportunidade.

É hoje evidente que o novo aeroporto vai mesmo ser construído. Ele é absolutamente necessário para o desenvolvimento do país. A Ota resultou de dezenas de estudos, promovidos e validados por sucessivos governos e, nestas coisas, não se pode andar eternamente com dúvidas e a adiar o inevitável. A indecisão sai sempre muito caro. Tanto mais que o aeroporto da Portela está à beira do esgotamento e é um cancro ambiental altamente prejudicial à saúde e qualidade de vida dos lisboetas. Bastaria aliás pensar neste aspecto para se perceber o quanto a discussão sobre o novo aeroporto está inquinada. Que credibilidade resta a ambientalistas que criticam a escolha da Ota, mas se calam sobre a verdadeira catástrofe ambiental que é ter dezenas de aviões a sobrevoarem todos os dias a capital? E quanto vale esse amor à cidade, sempre tão exuberantemente declarado por tanta gente que defende a manutenção do aeroporto no meio da cidade, conhecendo-se os elevados riscos de segurança que ele representa, para além do real e enorme incómodo que provoca numa parte considerável da população? Ou que dizer do anunciado decréscimo de turismo que para mais é invariavelmente acompanhado da critica sobre o esgotamento em poucos anos da capacidade do novo aeroporto. Nesse caso, os aviões virão cheios de quê?

Este argumento da redução do turismo é aliás um dos mais desonestos e descarados num debate já de si muito pouco sério. Visa aliás objectivamente uma parte substancial da população que devido à sua precária condição económica não tem possibilidade de viajar e perceber o logro. Pois qualquer pessoa que já o tenha feito sabe que a distância do aeroporto à cidade nunca é uma questão importante. Ninguém deixa de visitar uma cidade porque o aeroporto fica longe. Pior do que isso, devido a recentes exigências da segurança, é ter de comparecer com duas ou mais horas de antecedência no aeroporto, por vezes para um voo que dura menos do que isso. E alguém deixa de viajar?

Por fim a questão económica. Como pode um presidente da Câmara de Lisboa rejeitar um empreendimento desta envergadura que irá proporcionar bastante trabalho para empresas e população de Lisboa e inúmeras oportunidades de negócio e investimento?

Ao invés de se continuar a alimentar a inconsequente polémica sobre a Ota, aos lisboetas interessa sobretudo saber o que fazer com os terrenos que vão ser libertos pela Portela. Esse sim é o debate do momento e uma das mais importantes decisões a tomar pela nova administração. E aí também só António Costa e a sua equipa me parecem ter capacidade e visão para o fazer. Até porque todos os restantes candidatos são contra a Ota, contra o encerramento da Portela e no fundo contra o desenvolvimento da cidade de Lisboa.

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