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09 de Agosto de 2000 às 19:49

José Martins Soares: «O Sonho "Americano"»

Para uma empresa de «software», o tamanho do mercado potencial é crucial. Por isso, acho que já está na altura de percebermos que o nosso sonho “americano” pode ser o Brasil. Não estou a...

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Para uma empresa de «software», o tamanho do mercado potencial é crucial. Por isso, acho que já está na altura de percebermos que o nosso sonho “americano” pode ser o Brasil. Não estou a falar daquelas praias maravilhosas nem do Carnaval. Falo de uma economia de 850 mil milhões de dólares, mais de 40% do PIB da América Latina e mais de oito vezes a economia portuguesa. Impressionante, não?

Os portugueses passam a vida a dizer que são pequeninos. E as empresas portuguesas seguem-lhes o exemplo. O nosso mercado é pequeno, não há ganhos de escala, blá, blá, blá. Os espanhóis descobriram a América Latina «hispano-hablante», a que carinhosamente chamam de El Dorado – 362 milhões de pessoas falam espanhol. Os americanos ou os ingleses tem um mercado de 470 milhões de «english-speakers». Impressionante! Mas há cerca de 209 milhões de pessoas a falar português, mais do que francês e alemão juntos. Quase 80% das pessoas que falam a língua de Camões, com sotaque ou não, vivem – já adivinharam – no Brasil.

A economia brasileira representa cerca de 850 mil milhões de dólares, mais de 40% do PIB da América Latina e mais de oito vezes a economia portuguesa. Apesar de ser um país com um PIB per capita de 6.500 dólares – comparado com 20.000 dólares para a maior parte dos paises europeus e 30.000 para os EUA, esta média disfarça a maneira como a riqueza está distribuída. Quase dois terços da riqueza está nas mãos de 20% da população. No entanto, o Brasil , em 1998, tinha mais de 60% dos internautas latino-americanos e gerava 65% das receitas de comércio electrónico da região. Cerca de 40% da população brasileira tem menos de 20 anos, o que talvez explique porque cerca de 50% dos acessos à Internet sejam feitos a partir de casa. Isto também serve como indicador de uma certa apetência pela Internet e por tecnologia em geral.

O objectivo deste artigo não e fazer promoção ao turismo, nem recomendar investimentos no país. É apenas a constatação de que o Brasil é um mercado grande. Para uma empresa de «software», por exemplo, o tamanho do mercado potencial e crucial. Desenvolver um programa para um cliente ou para 200 custa mais ou menos a mesma coisa – cópias adicionais desse programa não. Por isso, um programa em português – adaptado para português do Brasil – deveria ter potencial de rentabilidade maior que outro escrito em francês, por exemplo.

Um bom exemplo é o mercado de ERP (Enterprise Resource Planning) «software». Uma empresa brasileira de «software» e número dois do mercado latino-americano, a seguir à SAP, ultrapassando outros competidores bem conhecidos. Não é garantia de sucesso, mas o facto de ter um mercado «natural» com escala permitiu-lhe uma boa base de crescimento.

Falar português é uma vantagem que poderíamos usar como «arma secreta» para investir no que conhecemos. Claro que é preciso fazer os trabalhos de casa, o que é dificultado pelo facto de só 1% do conteúdo na Internet ser escrito em português, contra 75% em inglês. Isso não deveria ser problema. Aprende-se mais um pouco sobre outras línguas, outra vantagem que os portugueses tem sobre outros países da Europa. Por outro lado, também não seria má ideia dar um salto ao Brasil para ver mais de perto...

José Martins Soares é analista no banco de investimento J.P. Morgan, onde faz parte da equipa que acompanha os sectores de Software & IT Services na Europa. Comentarios/sugestoes: jose_martins_soares@hotmail.com

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