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28 de Novembro de 2016 às 00:01

Itália, uma grande bota

O fascista Benito Mussolini, com a legitimidade conferida por 21 anos enquanto primeiro-ministro, concluía: "não é difícil governar a Itália. É inútil".

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Ao longo dos tempos a Itália sempre foi sinónimo de grande instabilidade governaria e de uma paralisia provocada pelo sistema bicamaral, deputados e senadores, gerador de grandes estropias.

O primeiro-ministro, Matteo Renzi, de centro-esquerda, tomou a iniciativa de desmontar esta arquitectura do poder e convocou para 4 de Dezembro um referendo para sufragar esta alteração legislativa.

Ao que tudo indica, Renzi deverá perder o referendo, facto que a confirmar-se abrirá mais uma crise política em Itália e possivelmente a demissão do primeiro-ministro, o que conduzirá a eleições antecipadas. E o pior, do ponto de vista da União Europeia, poderá chegar a seguir, dado que o Movimento 5 Estrelas, de Beppe Grilo, de matriz anti-europeia, lidera as sondagens de opinião.

A conjugação destes factores é potencialmente indutora de uma grave crise na Zona Euro e na União Europa porque, ao contrário de Portugal ou da Grécia, a Itália é um peso pesado no espaço comunitário. O Banco Central Europeu, na semana passada, tornou público este receio, ao avisar que a "elevada incerteza política" aumenta os riscos de uma crise da dívida na Zona Euro. E a Itália tem todos os ingredientes para desencadear esta crise.

A banca italiana tem 380 mil milhões de crédito malparado, a dívida pública é superior a 130% do PIB. A bolsa regista perdas acumuladas de 20% desde o início do ano, sendo que neste período dois bancos, o Unicredit e o Intesa Sanpaolo perderam 61% e 34% do seu valor de mercado, respectivamente.

Neste quadro, uma eventual demissão de Renzi, em resultado de uma derrota no referendo, será o rastilho para incendiar uma crise de proporções imprevisíveis na Zona Euro, capaz mesmo de fazer desabar os alicerces da moeda única.

Catastrofismo? Talvez. Mas a realidade dos factos sustenta a plausibilidade de uma desagregação da União Europeia e de um destino incerto para a Zona Euro, o qual, em larga medida, resulta da forma minguada como a Europa respondeu à crise financeira de 2008 e ao descrédito da política que se deixou subjugar pelas folhas de Excel. A tal ponto que se pode substituir na frase de Mussolini a palavra Itália por Zona Euro e chegar ao mesmo triste veredicto de impotência.

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