Opinião
Imobiliário, inovação, cultura e imigração
Não podemos adormecer no "Portugal está na moda". Muitas destas modas são efémeras, como a história recente demonstrou.
Nos últimos anos, assistiu-se a uma nova vaga de investimento imobiliário, setor que passou a atrair disponibilidades que noutros tempos estiveram afetas a aplicações financeiras tradicionais e a certas "commodities". Trata-se de um novo cenário, bem diferente do que se viveu naquele outro tempo do crédito fácil, que levou ao rebentar da bolha. Foi despertada a atenção de novos investidores institucionais, que estão fortemente dotados de capitais próprios, que são assessorados com precisão técnica, que apostam em cada mercado de modo cientificamente escrutinado e que seguem as tendências de vida e de formas de deslocação das pessoas.
Em pouco mais de três anos, Portugal entrou nesta Champions League. Os números são supersónicos: em transações, volumes, valorizações, rentabilidades e dormidas, mas também em prémios, distinções e nomeações. Consolidar a permanência nesta "short league" exige segurança jurídica, estabilidade na lei, a manutenção das infraestruturas, a continua valorização dos edifícios e a diversificação da oferta, para que voltem ou que passem a residir.
O primeiro-ministro acaba de anunciar que é preciso sermos capazes de "atrair para Portugal talentos, força de trabalho, pessoas, que, sendo estrangeiros, vivendo noutras partes do mundo", permitam aumentar o equilíbrio demográfico. Apesar de sermos um país fortemente inclusivo, bem sabemos o que se pretende: estrangeiros com capacidade económica, que, no novo encanto em que nos tornámos, tragam consigo investimento ou capacidade de reforçar a posição de Portugal no mundo. Isso implica que o país não tenha somente uma boa imagem. Exige que saibamos fixar estrangeiros, para residir.
A reabilitação nos centros históricos e a nova construção deverá passar a incorporar modernidade. A automação, a robotização, o "hi-tech", o digital, a sustentabilidade ambiental e a eficiência energética são vias de diferenciação dos nossos edifícios. Dão-lhes competitividade para com os mercados mais maduros e sólidos com que passámos a concorrer.
O recém-lançado "Casa Eficiente 2020" pretende chegar a 12.000 habitações para melhorar a eficiência energética e hídrica dos edifícios. Soa a pouco, mas o caminho é este. Não basta o atual curto benefício fiscal para a eficiência energética. Impõem-se incentivos para "clusters" tecnológicos que inventem, criem e desenvolvam produtos e serviços inovadores para melhorar os edifícios e valorizar as nossas cidades face à forte concorrência europeia.
Diversificar exige apostar em áreas que levem estes novos consumidores, que são de rápida mutação, a ter mais oferta e mais pontos de atração. Há que fixá-los por cá, como agora diz o primeiro-ministro. É aqui que ganha especial destaque a vertente cultural.
O Programa REVIVE está a revelar-se uma boa ferramenta para a recuperação e rentabilização do devoluto património cultural e histórico, através da alavancagem do investimento privado. Temos de acabar com certa mesquinhez política: a riqueza deste património nacional tem de estar ao serviço do turismo, do imobiliário e desta nova imagem de Portugal no mundo.
O investimento público na cultura deverá passar a centrar-se em conteúdos relevantes e deve levar a uma estratégia mais agressiva, até a nível da redução ou da isenção de IVA nos produtos culturais.
Tem de se promover o surgimento de uma nova indústria cultural, que deverá ter uma identidade própria, com conteúdos não sazonais e assente no médio/longo prazo. Esta indústria deverá aproveitar a liquidez e o grau de exigência dos novos consumidores estrangeiros, deverá gerar novos públicos nacionais e não poderá ficar refém dos apoios estatais. Os atuais números do turismo e do imobiliário devem ser a mola para levar esta nova indústria a retirar o país da periferia cultural europeia.
Tem de se criar um mix entre o que são tendências internacionais e a riqueza da cultura nacional, o que passa pela criação de ícones culturais das cidades (o que falta para Fernando Pessoa, o nosso autor mais traduzido no mundo, ser a imagem cultural de Lisboa?), pela promoção de Vieira da Silva, Vhils ou Joana Vasconcelos ou pela exposição de acervos de grande impacto internacional (porque não se investe em ter "Mona Lisa", a tela recordista mundial de visitantes, no superpremiado MAAT?).
Exige-se ambição. Não podemos adormecer no "Portugal está na moda". Muitas destas modas são efémeras, como a história recente demonstrou e como Portugal acabou por beneficiar.
Este artigo foi redigido ao abrigo do novo acordo ortográfico.
Em pouco mais de três anos, Portugal entrou nesta Champions League. Os números são supersónicos: em transações, volumes, valorizações, rentabilidades e dormidas, mas também em prémios, distinções e nomeações. Consolidar a permanência nesta "short league" exige segurança jurídica, estabilidade na lei, a manutenção das infraestruturas, a continua valorização dos edifícios e a diversificação da oferta, para que voltem ou que passem a residir.
A reabilitação nos centros históricos e a nova construção deverá passar a incorporar modernidade. A automação, a robotização, o "hi-tech", o digital, a sustentabilidade ambiental e a eficiência energética são vias de diferenciação dos nossos edifícios. Dão-lhes competitividade para com os mercados mais maduros e sólidos com que passámos a concorrer.
O recém-lançado "Casa Eficiente 2020" pretende chegar a 12.000 habitações para melhorar a eficiência energética e hídrica dos edifícios. Soa a pouco, mas o caminho é este. Não basta o atual curto benefício fiscal para a eficiência energética. Impõem-se incentivos para "clusters" tecnológicos que inventem, criem e desenvolvam produtos e serviços inovadores para melhorar os edifícios e valorizar as nossas cidades face à forte concorrência europeia.
Diversificar exige apostar em áreas que levem estes novos consumidores, que são de rápida mutação, a ter mais oferta e mais pontos de atração. Há que fixá-los por cá, como agora diz o primeiro-ministro. É aqui que ganha especial destaque a vertente cultural.
O Programa REVIVE está a revelar-se uma boa ferramenta para a recuperação e rentabilização do devoluto património cultural e histórico, através da alavancagem do investimento privado. Temos de acabar com certa mesquinhez política: a riqueza deste património nacional tem de estar ao serviço do turismo, do imobiliário e desta nova imagem de Portugal no mundo.
O investimento público na cultura deverá passar a centrar-se em conteúdos relevantes e deve levar a uma estratégia mais agressiva, até a nível da redução ou da isenção de IVA nos produtos culturais.
Tem de se promover o surgimento de uma nova indústria cultural, que deverá ter uma identidade própria, com conteúdos não sazonais e assente no médio/longo prazo. Esta indústria deverá aproveitar a liquidez e o grau de exigência dos novos consumidores estrangeiros, deverá gerar novos públicos nacionais e não poderá ficar refém dos apoios estatais. Os atuais números do turismo e do imobiliário devem ser a mola para levar esta nova indústria a retirar o país da periferia cultural europeia.
Tem de se criar um mix entre o que são tendências internacionais e a riqueza da cultura nacional, o que passa pela criação de ícones culturais das cidades (o que falta para Fernando Pessoa, o nosso autor mais traduzido no mundo, ser a imagem cultural de Lisboa?), pela promoção de Vieira da Silva, Vhils ou Joana Vasconcelos ou pela exposição de acervos de grande impacto internacional (porque não se investe em ter "Mona Lisa", a tela recordista mundial de visitantes, no superpremiado MAAT?).
Exige-se ambição. Não podemos adormecer no "Portugal está na moda". Muitas destas modas são efémeras, como a história recente demonstrou e como Portugal acabou por beneficiar.
Este artigo foi redigido ao abrigo do novo acordo ortográfico.
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