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Ideias futuras

Embora o mundo atravesse um período de extremo conservadorismo, tanto político quanto comportamental, tudo indica que se estejam a reunir as condições para realização de um projecto civilizacional verdadeiramente revolucionário.

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Não sabemos quando, mas existe uma probabilidade bastante forte de se evoluir para uma sociedade planetária cujo principal objectivo seja a sobrevivência, bem estar e desenvolvimento da espécie humana enquanto tal.

Não se trata de uma visão excêntrica. Mas de um cenário baseado em sinais do presente e previsíveis contrariedades futuras.

Pensar planetário é já hoje uma realidade em muitos domínios. Excede o projecto de globalização de mercadorias, ele mesmo tão irrisório que começa a ser contestado pelos seus próprios apologistas, logo ao primeiro embate do número.

Hoje sabemos que muitos problemas só podem ser resolvidos à escala do planeta. Do ambiente à economia tudo se acha envolvido numa mesma teia complexa, onde qualquer pequeno gesto de um lado pode ter enormes consequências no outro.

Daí que se venham multiplicando os areópagos internacionais sobre praticamente todos os assuntos imagináveis. Da migração da borboleta monarca à prevenção de pandemias.

Ainda que nos assuntos correntes se mantenha o essencial da velha divisão territorial, em países, regiões, federações, alianças económicas e militares, é cada vez mais evidente a inadequação e anacronismo deste tipo de modelos para tratar de assuntos sérios. A consciência planetária é uma exigência do real. E aí, mais do que a globalização, tem sido o extraordinário desenvolvimento das comunicações a jogar um papel determinante. Satélites e Internet são os verdadeiros demolidores de muitas fronteiras, físicas e culturais, deste mundo. E continuarão.

Por outro lado, não se pode continuar a olhar para a humanidade como um conjunto disperso de indivíduos ou meros aglomerados deles. A natureza da espécie é preponderante. E sê-lo-á cada vez mais, pelas boas e pelas más razões. Desde logo porque é uma praga. O seu crescimento descontrolado está não só a provocar a extinção de muitas outras formas de vida, como a colocar em risco a sua própria sustentabilidade por esgotamento de recursos. O crescimento demográfico é um problema da espécie humana no seu todo. Há muito que deixou de ser uma questão de governos.

Para além disso há que ter a consciência da realidade concreta da vida humana. Em números redondos. 50 % dos humanos consomem a sua existência à procura de comida. Outros 30% vivem numa espécie de limbo entre a pobreza extrema e a miragem do bem-estar. Só 20% de afortunados, quase todos do chamado mundo ocidental, gozam de alguma qualidade de vida, com acesso a bens essenciais, direitos, saúde e conhecimento. Nestes encontram-se os 6% que consideramos ricos e o tímido 1% que tem uma educação elevada.

A humanidade é um cérebro que utiliza uma ínfima parte da sua capacidade de processamento. O que não é simplesmente uma bela frase, mas coloca um desafio à sobrevivência. Perante o esgotamento da base de sustentação da vida no planeta, mudanças climáticas bruscas, potenciais riscos de contaminação generalizada, mais evidente se torna a necessidade de recorrer à inteligência, à inovação tecnológica e à solução por via artificial de problemas que já não têm remédio no estrito campo do mundo natural. Precisamos de toda a inteligência que seja possível encontrar, humana e artificial. Desperdiçar mais de dois terços dos cérebros disponíveis é uma estupidez monumental.

Por fim, como tantas vezes acontece na evolução, uma catástrofe ou uma mudança súbita das condições ambientais favorecem a mudança. É o que temos visto nos últimos desastres, em particular no tsunami do oriente, que mobilizou todo o mundo e reforçou simultaneamente a cooperação planetária e a consciência de espécie.

É por isso que contra todas as aparências, pensar planetário e agir como espécie vai deixando de ser uma utopia para se tornar num destino comum. Não por vontade revolucionária, mas por simples impulso de sobrevivência.

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