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Opinião
26 de Junho de 2009 às 13:22

Grande entrevista ao PM, agora no seu novo modo esquizofrénico

Concordará comigo que, se ele descobrisse alguma coisa no BPN e BPP, o sistema derrapava para a desconfiança, pois os banqueiros, para as massas na altura, ainda eram todos honestos.

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Onde a PRAVDA consegue uma entrevista com José Sócrates. Mas ao homem que, após a entrevista à SIC, se fragmentou em dois personagens - Dr. Hyde (a troca nome/título justifica-se por deficiências académicas), e o residual, mas suave, Mr. Jeckyll (1). Na superprodução subsequente, situou-se a entrevista em ambiente oficiosamente "Pros e Contras" e tentou-se convidar Ana Lourenço - mas o autor levou tampa. Ficou-se, pois, com a prata da casa e haja Deu.

FBM -
Bom dia, meus senhores! Bem dispostos?

JECKYL -
Uma droga! Depois da malhadela que levei nas eleições europeias, coisa penosa para a qual nem o nosso especialista Santos Silva conseguiu prever as equimoses, penso que isto, só com injecções de estética, já não vai lá.

DR. HYDE - Muito obrigado pela delicada atenção. Por mim, aguento contrariedades menores e, com a ajuda do novo medicamento da Pfeizer, Demagogic 5000g, espero arrastar o eleitorado para o caminho da rosa (ou agora será punho cerrado? Já nem sei bem o que o nosso excelente Catalino Vanas recomendará, em conjunto com as nossas profícuas agências de sondagem).

FBM -
O público assistiu comovido ao "mea culpa" governamental quanto ao abandono da cultura e ao excesso burocrático do método de avaliação aos professores. Não ocorreu mais nada, apesar de, dizendo, poder deixar o Largo do Rato em estado catatónico?

JECKYL -
Mais do que isso? Vc. já está a ser provocatório! Dinheiro para a dita cultura até foi demais: Já viu uma mostra subsidiada de "performing arts"? Aquilo, se fosse a pagar, eram todos corridos à pedrada.

FBM -
Que exagero! Espero que não veja as coisas assim, Hyde…

DR. HYDE - Meu caro FBM, aqui até ia um pouco mais longe, embora cordato, amigável e com sorriso "perdoname", estilo Buena Vista Social Club. Por exemplo, com aquilo dos professores, os dignos docentes o que tentavam era escapar à avaliação. Ou vê as coisas de outro modo?

FBM - A entrevista não sou eu que a dou e, seja como for, não queria entrar em polémica com aqueles da Fenprof, que ainda me inundam a rua com camionetas vindas de todo o País.

JEKYLL -
Além disso, como os alunos não estão lá para aprender (não está sequer previsto no Estatuto do Aluno), mas só para passar, sem a chaga da repetência, parece que a coisa nem importa muito. Estou convencido que irá ver as coisas pelo meu prisma.

PROF. MARCELO
(com o seu ar "resolvi o Cubo de Kubrick em 2 minutos") - Fazia-se um acordo em três tempos: - Os professores não ensinavam e os alunos não aprendiam, como já acontece. Ganhava-se imenso tempo para coisas realmente úteis, tudo pacificamente. Ficava só o Ministério da Educação, que, como se sabe, é um bem em si mesmo. O sistema de ensino em Portugal funcionava em beleza, se não tivesse o empecilho dos alunos.

Dr. PAULO RANGEL
(em audível à parte) - É melhor acordar, Drª Manuela! Isto até pode aquecer, era pena se perdesse o espectáculo!

Drª MANUELA (em surdina): Amanhã leio nos jornais, que estas coisas incomodam-me. É quase pior que levar beijos lambuzados de gente sem desodorizante.

FBM (pigarreando para suster um arruído crescente na sala) - Esta é para si, Jeckyll. Acha que daqui até às legislativas ainda ganha com maioria absoluta?

JEKYLL -
O meu amigo, que é um entendido em mercados, com uns livros pejados de ideias jeitosas, claro que já ouviu falar de produtos de retorno absoluto. Com as maiorias absolutas faz-se o mesmo: Garante-se o resultado e, se não houver fundos (ou, aqui, votos), os contribuintes cobrem a diferença. O ministro das Finanças há-de servir para alguma coisa, não?


JERÓNIMO DE SOUSA, Dr. FERNANDO ROSAS E HELOÍSA APOLÓNEA
(do fundo da sala, em quase assuada): Neoliberal! Carrasco dos trabalhadores! Vai carregar cascalho para o Afeganistão, com o teu sócio, o lacaio Barroso!

Dr. LOUÇÃ
(em contratenor): Eu não lhe admito insinuações, Jeckyll/Hide! Ouviu bem? A minha honra está acima da do próprio Trotsky!

JEKYLL E HYDE (em uníssono): Mas nós não dissemos nada que o ofendesse, ó Louçã!!

DR. HYDE (prosseguindo, em visível discordância com a suavidade de Jekyll) - Tu, o que precisavas era duns sopapos na tromba, ou julgas que és melhor que o Vital? Ele arrenegou o Estaline, e tu não escondeste a pagela do Henver Hodja que estava ao lado da do Sagrado Coração de Jesus, em ilusão de três dimensões? Tem mas é vergonha! O que te vale é a Apolónea.

Dr. PAULO PORTAS
(conseguindo fazer-se ouvir à 5ª tentativa) - Essa é de risota! O marido ainda há dias se me queixou que aquilo lá em casa é um autêntico "goulag", só come coisas verdes e bebe "hortelã-pimenta shake"! Diz que a balança nem acusa peso! Não a estou a ver a safar o Jeckyll/Hyde, para além de se ter a considerar as incompatibilidades. Não foi ele que lhe fez trejeitos tipo Miss Piggy quando ela, há umas semanas, interveio no hemiciclo?(2)

FBM - Já só temos breves minutos. Como vê o PM a inquirição parlamentar a Vítor Constâncio?(3)

Dr. MÁRIO SOARES
(quase em uníssono) - O Constâncio? "É o nabo mais inteligente que eu já conheci".

JEKYLL -
Esse gajo é um amigalhote! Eu posso ser uma fera, mas os amigos é ombro com ombro. Acha que algum Governador de Banco Central arranjava aquele défice virtual de 6,83%, em 2005? Proclamar um défice que nunca existiu, com aquele detalhe, não é para qualquer bancário lateral, quanto mais um banqueiro central!(4)

Dr. HYDE -
Tenho que concordar, até pela harmonia Zen que ele introduziu no sistema. Concordará comigo que, se ele descobrisse alguma coisa no BPN e BPP, o sistema derrapava para a desconfiança, pois os banqueiros, para as massas na altura, ainda eram todos honestos. Está ver a corrida aos bancos, a convulsão social, o caos? Assim não se soube de nada, ficou tudo na maior e os sobressaltos actuais são só para os investidores do BPP. Os contribuintes - que lá estarão para pagar as contas - estão por tudo, já só pedem "com vaselina".

FBM - Muito obrigado, foi muito elucidativo e os nossos leitores seguramente aumentaram a sua vontade de emigrar, mesmo para a Guiné-Bissau.

Dr. HYDE -
"F..k you very much!"...

JECKYLL -
Obrigado eu, FBM, pela oportunidade que deu de continuar a sentir-me contente comigo mesmo.


(1) A imagem Jeckyll/Hide, vi-a usada por Vilaverde Cabral na TVI. Como já havia escrito esta peça nesse momento, não há fonte a citar ou autoria a atribuir.

(2) Esta não é chalaça. Assisti à cena num debate quinzenal televisionado e fiquei passado com a chacota e falta de respeito, para a pessoa e a instituição.

(3) Fora as piadas de mau gosto que se seguem, convém não esquecer que foi Constâncio, secretário-geral dum PS que, pela altura, até repudiava Mário Soares, quem viabilizou, à esquerda, a revisão constitucional de 1989, o fim do "rumo ao socialismo" e das "nacionalizações irreversíveis".

(4) No final do período, o défice apurado foi de 5,8%
Advogado, autor de " Ganhar em Bolsa" (ed. D. Quixote) e "Bolsa para Iniciados" (ed. Presença)

fbmatos1943@gmail.com
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