Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião

Gato no sofá (28-03-2008)

A discussão sobre a educação, especialmente depois de se ter transplantado para o YouTube, tornou-se uma espécie de relação esquizofrénica entre um pelotão de fuzilamento e o fuzilado. A questão aqui é que, a qualquer momento, o fuzilado pode ter uma face

  • ...

A política da encenação

A discussão sobre a educação, especialmente depois de se ter transplantado para o YouTube, tornou-se uma espécie de relação esquizofrénica entre um pelotão de fuzilamento e o fuzilado. A questão aqui é que, a qualquer momento, o fuzilado pode ter uma face diferente: os alunos, os professores, os pais ou o Ministério da Educação. Há uma sensação: a escola tornou-se um território minado, onde todos se arriscam a desaparecer em combate. Uns porque deixaram de ter autoridade, outros porque vivem neste imenso mundo de consumo obrigatório em que tudo é fácil: até passar de ano, sem se saber ler nem escrever, para garantir as estatísticas positivas que se mostram à União Europeia. Já quase tudo se disse sobre esta educação nacional, que o “sistema”, entrincheirado há dezenas de anos no Ministério da Educação, e com a conivência de todos, foi criando para belo prazer das “Novas Oportunidades”. No fundo, com tantas “aulas de substituição”, avaliações, “áreas de projecto”, aulas de “formação cívica” e outras palermices, foi-se criando uma imensa massa de idiotas úteis. Há muitas excepções, mas não passam disso. Olha-se para a escola e que é que se ouve? Queixas de todos os lados. Mas sobretudo nota-se uma coisa crucial: estamos a pseudo-formar gerações de jovens que acham que tudo é fácil, e que a vida do futuro vai ser uma mistura entre um Sms, uma gravação feita por um telemóvel, e uns insultos aos professores. O que parece que ninguém quer discutir é o mais óbvio: como é que estas gerações vão chegar às empresas (à vida real) e lidar com a hierarquia, as regras, a sensação de que não fazem o que querem? Não é uma questão de valores ou falta deles. É óbvio que as gerações mais antigas partilhavam a sua história comum, e que estas mais novas partilham valores de tribo. O “sistema” fez do facilitismo a sua Cartilha Maternal. E ao denegrir sistematicamente os professores conseguiu fazer com o que restava da autoridade destes perdesse o simbolismo. E os jovens de hoje movimentam-se por símbolos. As sucessivas políticas do Ministério da Educação têm tido apenas um objectivo: tornar as escolas locais ingovernáveis. Já o conseguiram.

Caos organizado

O senhor secretário de Estado, Valter Lemos, no seu inexcedível sonho, criado após ter ouvido, por certo, um rap de Eminem ou de 50 Cent, acredita que os problemas das escolas têm origem externa. Segundo as suas declarações, que nos deixam todos mais descansados, “os gangs formam-se fora da escola e, quando muito, funcionam dentro da escola”. É quase verdade: no outro dia vi o comportamento de jovens alunos de uma escola de elite de Lisboa, ao almoço no McDonalds de um centro comercial. O que me deixou à vontade para perceber que o problema da educação não era apanágio dos filhos das classes de excluídos. O que vi foi, por certo, o momento de formação de um “gang”, que com toda a certeza só actuava de forma expansiva na forma como tratavam clientes e empregados e com uma linguagem das docas, fora da escola e não se tinha criado dentro dela. O senhor secretário de Estado também acha que não há caos dentro das escolas. Também acho. Penso, no entanto, que é uma variante: o caos organizado.

Começou a campanha eleitoral

Começou oficialmente a campanha eleitoral. José Sócrates deu, alegremente, o tiro de partida. O IVA vai baixar. O défice desceu. O paraíso está aí à porta. Só a Euribor a subir é que estraga as contas. Logo agora que pode vir a haver mais dinheiro para gastar é que ele tem de ser desviado para pagar as dívidas da casa?

Olhares sobre Angola

Extremamente interessante é a revista “Economia Global e Gestão”, do ISCTE Business School, que acaba de ser lançada. Uma série de textos, de indiscutível qualidade, permitem-nos conhecer melhor a realidade angolana, as relações económicas e comerciais com Portugal, mas também dentro do seu próprio mercado. Textos como os de Carlos M. Lopes, sobre as diferenças entre os mercados de S. Pedro, dos Kwanzas e Roque Santeiro, ou de Cecilie Oien, sobre a diáspora angolana em Lisboa são extremamente pertinentes e esclarecedores. Um número que é um bom instrumento de trabalho para quem se interessa sobre Angola e a sua realidade económica e social.

Crescendo muito bem

É um novo branco da Altas Quintas. Dá pelo belo nome de Crescendo e o que nos chega é o resultado da sua colheita de 2007. Encontro de sonhos, memórias e capacidade de concretização do produtor João Lourenço e do enólogo Paulo Laureano, é um vinho elegante feito a partir das uvas que cresceram num planalto da formidável serra de S. Mamede, no Alentejo. As castas Verdelho e Arinto (com um pequeno toque de Fernão Pires) conferem-lhe uma frescura surpreendente e um aroma conquistador. Pode sonhar-se que se está num local com vista para o mar, entre os trópicos, a desfrutar da paisagem, enquanto se bebe este vinho. Mais sólido do que a sua anterior mostra, em 2005. A descobrir.

Sons da América profunda

Escutem os sons que não são promovidos incessantemente na MTV ou nas rádios, que se tornaram verdadeiros gira-discos onde se escuta, sistematicamente, a mesma coisa. Mariee Sioux, traz em “Faces in the Rocks” o universo da folk americana que ainda se interessa pela beleza da poesia. Vem de Nevada, na Califórnia. Mas não é o mundo do surf, da praia e da pop que se escuta aqui. A voz de Mariee traz-nos algo mais profundo, mais melancólico e melódico. Para ouvir com muita atenção.

Ver comentários
Mais artigos do Autor
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio