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28 de Junho de 2007 às 13:59

Estratégia precisa-se, para Lisboa

Alguém pode, hoje, dizer onde fica a primeira circular de Lisboa? Será que fizeram a segunda sem se ter chegado a perceber qual a utilidade da primeira, que não foi completada e é hoje ignorada? Alguém pode explicar porque em vez de se ter construído uma

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E quem sabe porque se repetiu o mesmo erro em Entrecampos, onde passava um comboio há mais de cem anos e as estações de metro mais próximas são no Campo Pequeno e no fundo do Campo Grande (apesar de se chamar de Entrecampos)? Poder-se-á dizer que o problema está resolvido com um tapete rolante em Entrecampos e nos Restauradores.

Mas alguma cidade ou país, empresa ou economia progridem com tão má qualidade de planeamento? Pior, com a descoordenação e o desrespeito adoptados como forma de autonomia e independência ("o metro faz as suas estações onde quiser?"). Alguma comunidade se desenvolve com a definição de objectivos egoístas, normalmente de pouca longevidade, porque excluem o interesse e ignoram o significado do que em Estratégia se chama ‘o ambiente externo’, no caso, a população de Lisboa? Objectivos assintóticos à realidade que, entretanto, constituem erros que se pagam caro durante muito tempo ou mesmo eternamente.

Imaginemos quanto custou, em matéria de despesa pública e privada, além de incomodidades pessoais, o facto de uma das próximas estações de metro a ser inaugurada dever ter sido, há mais de quarenta anos, a primeira. Refiro-me, obviamente, a Santa Apolónia, como me poderia referir a uma das últimas inauguradas, a do Cais do Sodré. Deliberadamente, nunca se pretendeu que quem viesse de comboio para a cidade tivesse acesso fácil ao metro, apesar das previsíveis consequências desta sinistra decisão.

O nível qualitativo do planeamento em Portugal é reconhecidamente abaixo da crítica. Até já houve quem quisesse atribuir justificações ‘idiossincrásicas do português para conseguir planear tão mal’? Não adiro a este tipo de explicações. Os erros de planeamento, ao longo da história, são clamorosos e até emprestam algum divertimento à Literatura de gestão. Em 1908, a Daimler concluía, num estudo de planeamento, que nunca poderia haver mais de um milhão de automóveis porque não era possível formar mais chauffeurs. Mas antes do motor de explosão, a prospectiva sobre o tamanho que as cidades poderiam atingir era de cem mil pessoas. O estudo foi efectuado tendo Londres como base. E a justificação principal residia na quantidade de excrementos dos cavalos, nas ruas de Londres, ser de impossível remoção, no caso da cidade ser maior? e sob pena de toda a gente ter a sensação de viver numa cavalariça.

Voltando a Lisboa, com o histórico atrás referido, agravado pelas circunstâncias do presente, de falência financeira, debilitação das estruturas de comando e controle da Câmara Municipal, se não forem reunidas capacidades de gerir um presente (temporal e qualitativamente envenenado) e preparar condições de planear com rigor um futuro, tal poderá significar uma sucessão de oportunidades perdidas, definitivamente.

As oportunidades nunca se repetem todas. E as que se repetem, raramente se apresentam em idênticas circunstâncias. Lisboa tem tido um azar histórico. São mais as oportunidades perdidas que as ganhas. Em grande parte por a CML não ter sabido coordenar-se com outras entidades e instituições do Estado que eliminem muitos dos constrangimentos à sua gestão. Por tudo isto, porque é impossível continuar a adiar o que se impõe fazer, as próximas eleições revestem-se de uma importância acrescida. É fundamental, agora, votar num candidato e na equipa que o acompanha segundo as provas dadas de competência, de dedicação ao serviço público e de capacidade de liderar as mudanças de que a nossa cidade precisa.

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