Opinião
A Estratégia ainda não aterrou na Ota
Para quem ouviu dizer que a Ota era muito longe de Lisboa e, depois, tem de tolerar os defensores de Rio Frio invocar a maior proximidade de Badajoz como factor preferencial, é duro!
Que atraia uma comunidade de mais de um milhão de espanhóis?, quando Badajoz tem 140 mil habitantes e é a maior cidade da Extremadura, é difícil porque quem vem a Rio Frio vem à Ota! Quando se vê na Net os terrenos alagadiços da Ota, dando a impressão de que não servem para fazer mais nada em cima deles do que um aeroporto, preferir os terrenos planos, de vocação agrícola, raros no país de Rio Frio é raciocinar ao contrário!
Claro que a estratégia de defesa de Rio Frio tem outros argumentos: os de custo, indubitavelmente!
Quem perguntar (e tem-se perguntado) se a decisão sobre a localização de um aeroporto é técnica ou política desconhece os campos de actuação de um processo decisório desta envergadura. Porque é as duas coisas. No âmbito técnico, os factores-base das opções são essencialmente físicos. Parece que não haveria grande espaço de subjectividade na decisão, dado que esta se baseia em elementos objectivos, mensuráveis: distâncias, comprimentos, dimensões outras, dados meteorológicos, ambientais, geológicos, exequibilidades, custos, etc. Mas há! Há subjectividade logo que o processo de decisão começa a entrar no âmbito da avaliação social, ou seja, quando se introduzem as necessárias e diferentes ponderações de avaliação dos diversos elementos acima referidos, segundo concepções sociais, políticas e não apenas técnicas.
O estudo da consultora francesa que serviu para apoiar a opção da Ota atribuiu 25% aos factores ambientais e 5% aos de custo da construção, além doutros. Ora, esta ponderação deveria ter sido adoptada segundo critérios políticos e não meramente técnicos. Critérios políticos que, em matéria ambiental, já não pertencem só aos portugueses, pois, alguns parâmetros são impostos pela UE e outros órgãos internacionais. O que importa considerar é que, a partir deste momento, no percurso decisório, a subjectividade está instalada e as opiniões passam a ser muitas e não devem ofender ninguém. Pessoalmente, parece-me que andamos há muito tempo a pagar muito caro pelo ambiente, em Portugal. Candidatamo-nos à posição do país mais atrasado com melhor ambiente? no espaço europeu. Compreendo, contudo, que outros argumentem que se além de mais atrasado fosse o de pior ambiente, a situação era muito mais grave?
O governo, pelos responsáveis mais directos da decisão sobre a localização do aeroporto, diz que está tudo estudado, com décadas de estudo (ou de estudos?) e que é altura de decidir. Se, se pretende com isto acabar com as discussões, temos má política? porque as questões sociais, por definição, não acabam por decreto. Se não se possuem argumentos para contrariar as opiniões opostas à Ota, estamos sem estratégia para defender a alternativa optada, o que é igualmente mau, senão pior.
"A ‘nossa’ estratégia nunca é pacífica." O factor polemológico está ínsito em todas as decisões estratégicas, como é o caso do local do NAL. Há, portanto, que fornecer à opinião pública os argumentos que "silenciem as razões" dos outros, nomeadamente, das diversas opções políticas, esclarecendo os cidadãos. Fazer-se de uma escolha estratégica uma opção indiscutível é negar a polémica, é desconhecer este pressuposto milenar da ideia estratégica. Sun Tzu, há 2800 anos, escrevia a palavra Estratégia com dois caracteres, um significava ‘ideia’ e o outro ‘guerra’. A Estratégia era a ideia da guerra. Não consta que Sun Tzu tenha ido à tropa nem que alguma vez tenha sido eleito para representar o que quer que fosse? Mesmo assim, é elementar proceder relativamente ao NAL, no mínimo, com a ciência que ele nos deixou: com Estratégia, ou seja, a polémica, em campo aberto, entre os vários estudos e, assim, chegar à "vitória da escolha segura, finalmente indiscutível".