Em teoria, o crescente desinteresse que os portugueses têm pelo trabalho dos políticos é compensado pela enorme curiosidade sobre o que eles fazem nas férias. É compreensível. Nas férias temos o lado humano; e balofo; do político exposto. Sem fato e gravata, descobrimos que os políticos são carne flácida, varizes e barriga como todos nó… vocês. O mundo é um lugar mais simples e acolhedor quando vemos que o poderoso José Sócrates também tem bronze à camionista. Há um sentimento de irmandade no momento em que nos apercebemos que Passos Coelho tem joanetes, usa havaianas com a bandeira do Brasil, e não compra jornais mas vai para o quiosque ler as gordas e folhear sem pagar. Esta comunhão só termina quando Cavaco Silva, depois de aparecer com uma toalha de banho, ao ombro, a fazer de toalha de praia, estraga tudo e aconselha uma obra imortal de Vital Moreira & Canotilho como leitura de férias.

Eu, desde que ouvi falar em queda de arribas na praia, estou sempre atento às férias dos nossos políticos e não passo sem o arejado suplemento do CM. E foi graças a ele que tomei conhecimento que: "Sócrates, está a banhos no resort de luxo Sheraton Pine Cliffs. Onde, além da piscina, passa o tempo a ler as memórias de Gore Vidal. Sócrates escolheu um dos mais luxuosos resorts algarvios, onde a diária custa de 300 a mais de 1000 euros por dia." Resumindo. Temos um homem de quarenta e tais, com bom aspecto, de calções curtos, sozinho numa piscina de um resort de luxo a ler Gore Vidal, e o que os jornalistas destacam são os preço dos quartos e não velhos boatos do passado. É esta a beleza dos suplementos de Verão. A política pura é posta de lado. Nem sequer apresentam testemunhas, ou fotografias, que provam que o livro que Sócrates está a ler tem o carimbo da biblioteca Municipal de Alcochete e o prazo de devolução de 2006. O mais longe que vão, em termos de polémica, é quando afirmam que os calções de banho do primeiro-ministro são os mesmos que usou o ano passado - e nota-se. Não porque a moda tenha mudado, mas porque os calções, outrora rosa, estão cor de salmão tantas as vezes que foram à máquina. Já os reciclava.

Esta pureza jornalística só é possível encontrar nos suplementos de Verão. No Expresso, por exemplo, ficamos a meio caminho. Se no CM abordam as férias do líder da oposição como: "o candidato ao título 'Sexy Platina' está a descansar com a família em Manta Rota", no jornal de Pinto Balsemão, a ausência de um especialista neste tipo de jornalismo leva que a legenda que acompanha a fotografia da capa (Pedro Passos Coelho deitado numa espreguiçadeira de perna traçada e calções à Aquaman) seja: "Passos Coelho na casa onde passa férias, no Algarve, a preparar o discurso do Pontal." Esta abordagem não resulta, porque mistura política com férias e a notícia perde leveza e espontaneidade e passa a soar a falsa. Somos levados a desconfiar que, a foto tem photoshop e que o discurso do Pontal foi aumentado e o joanete do pé direito diminuído.

Ninguém acredita que Passos Coelho possa estar a escrever um discurso (mesmo sendo o do Pontal) com os jornalistas e fotógrafos do Expresso a olhar para ele - "Agora, se não se importam, vou escrever o discurso do Pontal. Podem ficar aí a tirar fotografias mas não façam muito barulho, não usem o flash e não me atirem comida". Há quem diga que o que ele está a escrever não é o discurso do Pontal, mas sim a reportagem do Expresso. Aliás, a semana passada, o jornal da Impresa em vez do habitual saco de plástico devia vir com um saco de aspirador porque parecia uma edição especial inteiramente dedicada à limpeza. À limpeza do Carlos Queiroz, do Pinto da Costa, etc. Até para a semana, aproveitem o que resta do Verão e como dizia o companheiro de férias de Sócrates, Gore Vidal, "Write something, even if it's just a suicide note".