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Engenharia da inovação

Uma escola para a inovação deve ser um centro de produção, de ideias e produtos, intelectuais ou de uso corrente. Nenhum outro ambiente é tão propício à exploração de sinergias e interacção colectiva.

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Existe hoje um amplo consenso sobre o papel da inovação no desenvolvimento das sociedades contemporâneas. Para países como Portugal ela apresenta-se mesmo como uma das poucas saídas para a crise estrutural. Menos consensual são contudo as metodologias a seguir. A inovação não se pode decretar, nem resulta simplesmente da vontade dos indivíduos ou das organizações. Inovar é essencialmente um acto criativo, ou seja, caótico e muito difícil de prever.

Mesmo assim algumas coisas vão-se tornando óbvias. A necessidade de um ensino para a inovação, por exemplo. O que desde logo implica uma escola diferente. Onde à componente formação há que acrescentar uma verdadeira cultura heurística, ou seja, de experimentalismo e descoberta, em particular utilizando as extraordinárias capacidades recombinatórias das novas tecnologias.

Uma escola para a inovação deve ser um centro de produção, de ideias e produtos, intelectuais ou de uso corrente. Nenhum outro ambiente é tão propício à exploração de sinergias e interacção colectiva. Em nenhuma outra idade, como na juventude, existe tanta disponibilidade para a partilha e a cooperação. Dito de forma simples, mais do que memorizar saberes os estudantes devem ter a possibilidade de fazer coisas e aprender com elas.

Mas não só de jovens e estudantes se trata. Uma cultura da inovação é antes de tudo uma cultura de exigência individual. Porque a sociedade humana, que é por natureza fortemente social, tem vindo na sua evolução a valorizar crescentemente o papel dos indivíduos, a sua liberdade, a sua iniciativa e inventividade. O todo, a sociedade, resulta de muitos milhões de pequenas acções locais, numa rede muito dinâmica de forças e interacções que, a cada momento, determinam um sentido evolutivo para o conjunto da humanidade. Se é certo que ninguém por si só pode alterar o curso da história, não é menos verdade que pequenos contributos individuais e até relativamente solitários, podem desencadear verdadeiras revoluções colectivas. Pense-se na descoberta dos transístores, do computador pessoal, da estrutura molecular do ADN, da teoria do caos, só para dar alguns exemplos recentes. Uma sociedade para a inovação deve reconhecer o papel central dos indivíduos. E estes devem compreender e interiorizar que são a força decisiva da mudança.

Por fim as organizações. Na sociedade capitalista que é a nossa, o lucro apresenta-se como o mecanismo por excelência da inovação. A competitividade empresarial organiza-se em torno dos efeitos do mercado e suas exigências de expansão e hegemonia. Mas existem outros mecanismos. O bem estar colectivo, a cultura, a curiosidade científica, a competição no interior dos grupos.

Por condição as organizações tendem a ser fechadas e muito hierarquizadas, o que as torna pouco permeáveis às novas ideias. O fechamento dificulta os processos recombinatórios entre visões, saberes e expectativas diversos. A hierarquia bloqueia a chamada inteligência colectiva, ou seja, as ideias dos chefes tendem a menosprezar as ideias dos subordinados o que, como afirma Francis Heylighen, faz com que nestes grupos nunca se consegue mais do que se conseguiria consultando simplesmente os chefes.

Mas é possível conceber novos tipos de organização. E para isso nada melhor do que recorrer à natureza. Pois, desde Darwin, sabemos que nada é mais inovador do que a vida na sua constante necessidade de adaptação.

A evolução processa-se através de um mecanismo muito simples: o aleatório. Perante uma alteração de condições ambientais sobrevivem aqueles que sofreram mutações, acidentais, que os tornam mais aptos. Não parece muito inteligente, mas é extremamente eficaz. O que significa que se queremos inovação devemos criar condições para que o experimentalismo aleatório possa desenvolver-se. Ou seja, um experimentalismo essencialmente recombinatório, sem objectivo, nem constrangimentos de qualquer espécie. Aquilo a que afinal correntemente chamamos arte ou simplesmente criatividade.

Em conclusão. É preciso criar um novo tipo de organizações onde se possa aplicar uma verdadeira engenharia da inovação, juntando ao saber tecnológico e científico o experimentalismo aleatório da arte e da criatividade.

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