Opinião
Do prólogo para o epílogo
Já basta! É o que parece ter dito Santana Lopes este fim-de-semana sobre a comunicação social. No seu habitual jeito blasé, disse que o veto da central de comunicação não é assunto de pátria ....
No seu habitual jeito blasé, disse que o veto da central de comunicação não é assunto de pátria – se o Presidente não a quer, não a há, mesmo que isso moa Morais Sarmento; no seu habitual jeito pouco rigoroso, abriu espaço político para a privatização (sic) dos órgãos de comunicação social da Portugal Telecom.
O ouvinte crédulo pode assim concluir que o Governo se fartou – fartou-se de queimar a imagem com a fama de manipulador dos «media» e desistiu, entregou os pontos, abdicou: não há central de informação, venda-se a Lusomundo Media e não se fala mais nisso. Para trás fica o silenciamento de Marcelo, a substituição de um administrador da Lusomundo Media e do director de «Diário de Notícias», o abandono do director da RTP. Agora, governe-se. O ouvinte crédulo quer acreditar que há substância nas palavras de Santana Lopes e que, assim, os poderes continuam separados, tanto quanto algum dia poderão sê-lo. De um lado o poder político, de outro o quarto poder.
«O Quarto Poder» é o título de um livro de Jeffrey Archer, que conta a história de dois homens que se tornam magnatas dos «media». Nesta ficção, os dois patrões de grupos editoriais intervêm nos seus jornais sem pudor, impondo manchetes, censurando notícias e até escrevendo eles mesmos artigos para os quais os directores das publicações sabem apenas que espaço e destaque deverão ter na edição. Tudo, é claro, em proveito próprio. No livro de Archer, lê-se o desrespeito pelo conceito de liberdade de imprensa, a manipulação grosseira de notícias, a instrumentalização dos jornalistas, as pressões económicas sobre eles, mas também a sua frequente vulnerabilidade ética, a sua individual mesquinhez.
A ficção de Archer acaba mal – dramaticamente mal. A realidade de Pedro acaba apesar de tudo bem. Se já tiver acabado.