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02 de Abril de 2009 às 12:02

Do acessório ao essencial

Confesso que não compreendo o que leva um jornalista a abrir um telejornal ou a primeira página de um jornal com uma notícia de que foram despedidas 10.000 pessoas de uma qualquer empresa...

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Confesso que não compreendo o que leva um jornalista a abrir um telejornal ou a primeira página de um jornal com uma notícia de que foram despedidas 10.000 pessoas de uma qualquer empresa.

Como notícia para as pessoas envolvidas não traz nada de novo, pois foram as primeiras a serem informadas. Para a sociedade, a informação tem alguma importância mas não é seguramente nem urgente nem interessante. Para a situação económica que o Mundo atravessa, é um reforço da carga negativa que apenas pode ser útil para prolongar a desgraça e, na melhor das hipóteses, não tem qualquer efeito.

Talvez o próprio jornalista possa sentir-se realizado por ter sido notícia de abertura e por ver o seu nome destacado em relação aos seus pares, no entanto eu desafio-os a tentarem recordar o nome de um jornalista que tenha assinado tal notícia.

Enfim, parece-me que num Mundo em que tanto se tem falado de voltar ao que é essencial e em que tanto se advoga que devemos voltar a valorizar o que importa, seria muito importante conseguir fazer o mesmo numa classe de pessoas que, gostemos ou não e queiramos ou não, têm um enorme poder de manipular os acontecimentos numa sociedade e de influenciar a sua caminhada.

Naturalmente que não pretendo justificar de maneira nenhuma a dimensão e a profundidade da crise que vivemos hoje no Mundo por haver esta interferência jornalística, aquilo que me preocupa é ver que o jornalismo ainda não se assumiu como um elemento comprometido com o combate a essa mesma crise. Não por não divulgar a informação sobre o que vai sucedendo, como os tais despedimentos, mas não lhes dando a cobertura sensacionalista que influencia mal uma sociedade que se debate já com enormes dificuldades.

O papel da comunicação social é sem da dúvida da maior importância na defesa do direito à informação e, nesse sentido, tudo o que for importante ao conhecimento da realidade deve ser divulgado e tratado com a abertura que as sociedades democráticas se têm preocupado em defender. O que já não é razoável é desproporcionar o efeito dessa informação, já de si grave e preocupante, dando-lhe a imagem de catástrofe que em tudo faz piorar o ânimo baixo dos cidadãos.

Mas há um outro papel que pertence à comunicação social e que tenho encontrado menos vezes ao longo de todo este trajecto. É o dever de informar quais os acontecimentos que estão a ser desenvolvidos em diversos locais e que poderão contribuir para a solução desta crise que tanto mal está a fazer, deixando de transmitir e repetir as notícias fáceis que todos dão porque lhes chegam sem trabalho e criando uma forma de jornalismo mais condizente com o que foi a sua razão inicial.

Se fosse este o entendimento já antes da crise instalada, talvez se tivessem encontrado mais rapidamente os erros que a provocaram e talvez a tivéssemos ultrapassado com outra facilidade.

Presidente da Associação Comercial de Lisboa


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