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07 de Maio de 2008 às 15:16

A violência e a falta de visão estratégica

O forte aumento da violência ocorrida ao longo do último mês é uma clara demonstração da frustração em que vive a nossa sociedade e que resulta grandemente da falta de um projecto unificador da sociedade portuguesa e da ausência de uma visão estratégica q

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O forte aumento da violência ocorrida ao longo do último mês é uma clara demonstração da frustração em que vive a nossa sociedade e que resulta grandemente da falta de um projecto unificador da sociedade portuguesa e da ausência de uma visão estratégica que nos motive para atingir objectivos de desenvolvimento que nos envolvam como parte integrante de um destino maior.

Muito se disse em relação a estes acontecimentos na maioria das vezes tentando retirar vantagem política dos mesmos, a oposição dramatizou e o Governo desconsiderou. Quase sempre se discutiu se o número de polícias era suficiente ou se a legislação era a mais correcta. Discutiu-se também se o tratamento das minorias e dos desempregados estaria ou não a influenciar os comportamentos.

Discutiu-se sempre o imediato e nunca o mais profundo e, uma vez mais, arriscamo-nos a nada fazer para resolver o verdadeiro problema que é a total inconsequência dos nossos governantes em termos da condução dos destinos do País: não têm a mínima ideia de para onde vamos nem de como vamos.

Qualquer empresa minimamente bem gerida tem um plano estratégico definido, baseado numa visão do seu negócio e das suas capacidades e fraquezas, que determina os objectivos a serem alcançados e a forma de os alcançar. Será demasiado esperar que um país, com responsabilidades maiores para com os seus habitantes do que qualquer empresa tem para com os seus trabalhadores, viva décadas sem pensar em qual é a sua missão? Sem saber quais são os seus objectivos e qual é o seu caminho? Que um país não envolva a população em projectos de dimensão nacional e que os una em torno de um objectivo comum de forma a estimulá-los e a dar-lhes uma razão de caminhar aonde se possam focar e dedicar?

A par desta forma de facilitismo de vida em que ninguém assume a responsabilidade de criar uma estratégia nacional, a permanente desculpabilização de todos os responsáveis perante os assuntos que deles dependem veio criar nas novas gerações uma mentalidade de direitos sem qualquer responsabilidade que é insustentável em qualquer sociedade. O resultado é que em face de qualquer exigência ou dificuldade a reacção torna-se violenta, pois não houve aprendizagem para reagir às frustrações e a única forma de o fazer é a mais extrema.

Desde o 25 de Abril que pouco trabalho foi feito em termos de planeamento estratégico e de projectos nacionais. Ao princípio, a motivação de criar um país democrata foi fórmula suficiente para que a maioria da população se mantivesse unida em torno de um ideal e, por isso, pouco se notava a falta de visão de longo prazo ou de objectivos estratégicos.

À medida que o tempo foi passando e que a democracia se consolidou no nosso país, as novas gerações foram sendo educadas com base num bem-estar e conforto em que pouco lhes era exigido e em que se foram tornando mais exigentes e menos colaborantes, pela simples razão de que tal não lhes era pedido.

Numa primeira fase, o crescimento económico foi também ele escondendo estas falhas da nossa governação e a população afogava as suas ânsias num projecto de aumentar o consumo como forma de esquecer a frustração de não ter um projecto.

O pior vem quando, sem mais poder "comprar" a satisfação da sua ânsia, a população vê-se sem emprego, sem dinheiro e a viver num país sem caminho e sem destino. Não há maior frustração do que estar a sofrer e não poder ter esperança.

Foi aqui que chegámos!

Duvido que se resolva a prazo a questão da violência se não resolvermos a questão do projecto Portugal.

Infelizmente vejo os nossos dirigentes e os seus opositores sempre focados no momento presente e nas próximas eleições para que possam tratar desta questão de profunda necessidade para o nosso país. Se não actuarmos, vamos sofrer muito mais e sofrerão ainda mais os nossos filhos a que vamos entravar uma sociedade sem futuro e em destruição.

Vale a pena que façamos uma estratégia de todos para Portugal!

Presidente da Associação Comercial de Lisboa

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