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Como disfarçar ultimatuns, Sócrates way

No rescaldo da cimeira da União Europeia, o primeiro-ministro disse esperar que os mercados se tranquilizem com as medidas anunciadas pelo Governo

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No rescaldo da cimeira da União Europeia, o primeiro-ministro disse esperar que os mercados se tranquilizem com as medidas anunciadas pelo Governo (onde avultam alterações à fórmula de cálculo das indemnizações por despedimento). Mas Sócrates não ficou por aqui: disse também que, caso seja preciso (leia-se se os mercados não ficarem impressionados), o Governo tem na manga um plano alternativo.

É curiosa esta declaração. Porque no final da mesma cimeira Angela Merkel fez rasgados elogios a Portugal, dizendo-se "impressionada" com as reformas adoptadas. Ora como Merkel é pouco dada a elogios, vale a pena perguntar o que levou Sócrates a antecipar novo pacote de medidas. Em condições normais o primeiro-ministro ter-se-ia limitado a capitalizar internamente os elogios, com aquele marketing avassalador a que nos habituou…

A resposta é óbvia: o Governo português voltou a ser "apertado" no Conselho Europeu. Ou seja, alguém (provavelmente Merkel) exigiu que o primeiro-ministro apresentasse uma agenda mais ambiciosa de reformas, para implementação futura… E como Sócrates desconfia que os mercados não vão ficar satisfeitos e que, por isso, terá de fazer a vontade a Merkel, resolveu preparar os portugueses para isso… antecipando eventuais novas medidas. Ou seja, se as circunstâncias exigirem mais austeridade, o primeiro-ministro poderá anunciar: "Eu sempre disse que faríamos o que fosse preciso para tranquilizar os mercados". Fugindo assim ao "remake" da humilhação resultante do facto de se ter percebido que as medidas de Maio e Outubro foram tomadas à última hora, por pressão directa da chanceler alemã.
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