Opinião
Boa Sorte, Dr. Nuno Crato
Claro que escrever sobre o problema do emprego precário oferece uma dificuldade acrescida
Claro que escrever sobre o problema do emprego precário oferece uma dificuldade acrescida, um temor natural de se ser acusado de insensibilidade, tal é, neste momento, a calamidade dos números ao nível do desemprego propriamente dito. Ainda por cima, esse outro flagelo que é a precaridade, não oferece intrinsecamente as mesmas possibilidades de análise estatística (daí que seja, inclusive, menos mediático); o monstro é mistificante, difícil de medir, tremendo de solucionar, pois uma coisa é uma Economia não gerar emprego, outra coisa é uma Sociedade pagar misérias e subverter a sua civilização com uma perigosa falta de sentido do valor do trabalho, seja por parte de quem faz, seja por parte de quem manda.
Cavaco Silva já resgatou, entretanto, do baú da "magistratura de influência", a importância estruturante no desenvolvimento económico de sectores como a Educação e a Cultura, o Mar ou a Agricultura; mas enquanto Primeiro-Ministro, desvalorizou política e executivamente tal possibilidade de aumento de competitividade do tecido produtivo Português, abrindo caminho a uma nova vaga política que os Estados Gerais conduzidos por António Guterres vieram legitimar, através de um então inédito, mas infelizmente fugaz, real envolvimento da sociedade civil nas áreas de governação estruturantes para a requalificação do nosso modelo de desenvolvimento. Tratou o aparelho partidário socialista de invadir esta delicada tessitura com esse autêntico cavalo de Tróia que foi José Sócrates, e a sua meteórica, mas claramente programada, ascensão. Afastámo-nos mais da Europa, e o capitalismo popular chegava disfarçado de modernidade. A educação tinha o seu totem, o Magalhães, uma maquineta política, um símbolo do equívoco entre educação e conhecimento, que permitiu, entre outras coisas, que não se falasse de mais nada, muito menos de política. E com esta obsessão em imiscuir questões do poder de compra no sucesso ou insucesso escolar, continuou o retrocesso civilizacional; por ventura os fracassos políticos portugueses não serão piores nem melhores que os dos nossos congéneres europeus, mas é certo que a qualidade do nosso debate público e a inconsciência colectiva que a novelização da política trouxeram entretanto, atingiram níveis preocupantes. Basta ligar o principal canal de televisão pública, e assistir a um circo como é o programa "Prós e Contras", por exemplo, para perceber até que ponto já nos demitimos colectivamente de reconhecer a importância do conhecimento, e com que frivolidade, e por que ridículo preço, o trocámos pela ilusão googleiana da informação.
Não é fácil a tarefa de Nuno Crato, ministro da Educação. A discussão em torno da política para o Ministério que tutela está reduzida a questões sindicais, tal é a miséria de se ser professor em Portugal. E onde há "luta", dificilmente há "ideias". A necessidade de diminuir todo e qualquer debate a um formato generalista, fez desaparecer do palco os bons políticos, trocando-os por políticos com "boa imagem" (*). E a precariedade traiu a esperança que o país soube depositar no investimento na educação dos jovens, criando com isso um desânimo que não é Fado nem pessimismo místico nenhum, mas consequência de inertes e cínicas Governações.
Portugal passou por índices de analfabetismo surreais ainda há bem pouco tempo, bem como por outros atrasos entretanto vencidos com todo o mérito, como sejam a evolução da diminuição da taxa de mortalidade infantil nos últimos 50 anos, onde estamos à frente da Alemanha, por exemplo. É essencial que se faça o ressarcimento do papel do Estado em tudo o que de bom foi feito para nos restituir a dignidade e brio colectivos. O restabelecimento do normal funcionamento da nossa Economia terá de ter protagonistas políticos; espero, francamente, que Nuno Crato possa ser um deles. Por aí se dará, então, o resgate. W
(*) Há excepções, mas não ganham eleições porque não são "bons candidatos" e não têm a "simpatia" da imprensa; Vox Media, Vox Dei.
Cavaco Silva já resgatou, entretanto, do baú da "magistratura de influência", a importância estruturante no desenvolvimento económico de sectores como a Educação e a Cultura, o Mar ou a Agricultura; mas enquanto Primeiro-Ministro, desvalorizou política e executivamente tal possibilidade de aumento de competitividade do tecido produtivo Português, abrindo caminho a uma nova vaga política que os Estados Gerais conduzidos por António Guterres vieram legitimar, através de um então inédito, mas infelizmente fugaz, real envolvimento da sociedade civil nas áreas de governação estruturantes para a requalificação do nosso modelo de desenvolvimento. Tratou o aparelho partidário socialista de invadir esta delicada tessitura com esse autêntico cavalo de Tróia que foi José Sócrates, e a sua meteórica, mas claramente programada, ascensão. Afastámo-nos mais da Europa, e o capitalismo popular chegava disfarçado de modernidade. A educação tinha o seu totem, o Magalhães, uma maquineta política, um símbolo do equívoco entre educação e conhecimento, que permitiu, entre outras coisas, que não se falasse de mais nada, muito menos de política. E com esta obsessão em imiscuir questões do poder de compra no sucesso ou insucesso escolar, continuou o retrocesso civilizacional; por ventura os fracassos políticos portugueses não serão piores nem melhores que os dos nossos congéneres europeus, mas é certo que a qualidade do nosso debate público e a inconsciência colectiva que a novelização da política trouxeram entretanto, atingiram níveis preocupantes. Basta ligar o principal canal de televisão pública, e assistir a um circo como é o programa "Prós e Contras", por exemplo, para perceber até que ponto já nos demitimos colectivamente de reconhecer a importância do conhecimento, e com que frivolidade, e por que ridículo preço, o trocámos pela ilusão googleiana da informação.
Portugal passou por índices de analfabetismo surreais ainda há bem pouco tempo, bem como por outros atrasos entretanto vencidos com todo o mérito, como sejam a evolução da diminuição da taxa de mortalidade infantil nos últimos 50 anos, onde estamos à frente da Alemanha, por exemplo. É essencial que se faça o ressarcimento do papel do Estado em tudo o que de bom foi feito para nos restituir a dignidade e brio colectivos. O restabelecimento do normal funcionamento da nossa Economia terá de ter protagonistas políticos; espero, francamente, que Nuno Crato possa ser um deles. Por aí se dará, então, o resgate. W
(*) Há excepções, mas não ganham eleições porque não são "bons candidatos" e não têm a "simpatia" da imprensa; Vox Media, Vox Dei.