Opinião
Bastará ser bom aluno?
A troika vai dar-nos boa nota, com distinção mesmo em algumas disciplinas como a austeridade. Será o "prémio" de um País que se submete disciplinadamente a um enorme sacrifício colectivo
Segundo o "Economist", David Cameron teria afirmado na última reunião de Davos que o êxito de uma união monetária dependia da verificação cumulativa de três pressupostos: existência de um Banco Central que possa intervir como prestamista de último recurso; integração económica; flexibilidade para lidar com as crises, as transferências fiscais e a dívida colectiva.
"Não é que falte um deles presentemente à Zona Euro; faltam-lhe todos!", concluiu.
Enquanto na Primavera e Verão de 1975 nos entretínhamos, em Portugal, a nacionalizar empresas privadas para as entregar à gestão do Estado, Steve Wozniak inventava, na Califórnia, o primeiro computador pessoal que Steve Jobs apelidaria de Apple I. A brochura de apresentação da empresa com maior capitalização bolsística do mundo apresentava a seguinte máxima: "a simplicidade é o cúmulo da sofisticação".
Ora, nesta Zona Euro faltam-nos os pressupostos, falta-nos a simplicidade e falta-nos também liderança carismática e imaginativa. Do dia para a noite desapareceram Sarkozy, Durão Barroso e Van Rompuy, e todos os outros, para darem lugar ao protagonismo quase exclusivo (se exceptuarmos o Comissário Rehn) da Chanceler Merkel e de um número crescente de alemães. A Alemanha fala em seu nome, como gestor de negócios dos outros quatro países "tripleA" da Zona Euro com quem discute amiúde a questão da Grécia... E em nome do resto da Zona Euro, que não a mandatou para o efeito.
Na Alemanha, o "default" da Grécia é uma hipótese que, agora, está claramente em cima da mesa. Venizelos, o ministro grego das Finanças, culpou os alemães pelo eventual insucesso de novo resgate grego. Em Berlim, o ministro Schaube já foi avisando de que não se pode continuar a despejar dinheiro numa garrafa sem fundo. Economistas e politólogos garantem que se a Grécia for forçada a abandonar o euro, o risco de contágio na Zona Euro será, neste momento, de apenas de 10% ou 20% e que há dois anos é que esse risco era grande!
Das duas, uma: ou tudo não passa de um enorme bluff para obrigar os gregos a mais austeridade, ou a hipótese de a Grécia abandonar o euro está, final e claramente, em cima de uma pequenina mesa de reuniões situada algures em Berlim.
Richard Parker é professor de Política Económica em Harvard e, entre Novembro de 2009 e Dezembro de 2011, foi conselheiro do primeiro-ministro Papandreou. Ontem escreveu no "Financial Times" um artigo que sugestivamente intitulou "uma viagem pessoal ao coração da escuridão grega".
Para todos os que olham a Grécia com algum preconceito (e eu sou um deles), recomendo a leitura deste artigo, que foi escrito com aquela simplicidade sofisticada que os americanos tão bem cultivam e que fez a grandeza da Apple.
Parker escreveu: "O plano de resgate, se for acordado, concederá à Grécia um pequeno espaço para fazer as reformas necessárias. Algumas partes da economia podem reiniciar muito, muito lentamente. Mas estes sectores, orientados para a exportação, não absorverão muita mão-de-obra; o desemprego e a pobreza manter-se-ão elevados. "E afirma que na Grécia não há mais corrupção ou sobreemprego do que a média europeia; o que existe é uma enorme desorganização e falta de informatização que vai demorar tempo a sanar.
Entretanto, Portugal entrou numa nova Época de Exames – das Agências de "rating" e da troika. A Moody’s, como era de esperar, baixou-nos a nota. Mera constatação de que o doente, se não morreu da doença, poderá com alguma probabilidade morrer da cura.
A troika vai dar-nos boa nota, com distinção mesmo em algumas disciplinas como a austeridade. Será o "prémio" de um País que se submete disciplinadamente a um enorme sacrifício colectivo.
Ao contrário de 1975, em que Kissinger tentou fazer do caso português uma vacina contra às pretensões comunistas no resto da Europa Ocidental, desta vez Portugal é o bom aluno que não estará sujeito a esforços reforçados, nem ao risco de expulsão da escola.
O problema reside em saber se esta expectativa é razoável, ou seja, se alguém que ainda há bem pouco tempo garantia que a terapia receitada à Grécia era adequada, e que Grécia jamais seria conduzida ao abandono do euro, nos poderá garantir algo fiável!
"Não é que falte um deles presentemente à Zona Euro; faltam-lhe todos!", concluiu.
Ora, nesta Zona Euro faltam-nos os pressupostos, falta-nos a simplicidade e falta-nos também liderança carismática e imaginativa. Do dia para a noite desapareceram Sarkozy, Durão Barroso e Van Rompuy, e todos os outros, para darem lugar ao protagonismo quase exclusivo (se exceptuarmos o Comissário Rehn) da Chanceler Merkel e de um número crescente de alemães. A Alemanha fala em seu nome, como gestor de negócios dos outros quatro países "tripleA" da Zona Euro com quem discute amiúde a questão da Grécia... E em nome do resto da Zona Euro, que não a mandatou para o efeito.
Na Alemanha, o "default" da Grécia é uma hipótese que, agora, está claramente em cima da mesa. Venizelos, o ministro grego das Finanças, culpou os alemães pelo eventual insucesso de novo resgate grego. Em Berlim, o ministro Schaube já foi avisando de que não se pode continuar a despejar dinheiro numa garrafa sem fundo. Economistas e politólogos garantem que se a Grécia for forçada a abandonar o euro, o risco de contágio na Zona Euro será, neste momento, de apenas de 10% ou 20% e que há dois anos é que esse risco era grande!
Das duas, uma: ou tudo não passa de um enorme bluff para obrigar os gregos a mais austeridade, ou a hipótese de a Grécia abandonar o euro está, final e claramente, em cima de uma pequenina mesa de reuniões situada algures em Berlim.
Richard Parker é professor de Política Económica em Harvard e, entre Novembro de 2009 e Dezembro de 2011, foi conselheiro do primeiro-ministro Papandreou. Ontem escreveu no "Financial Times" um artigo que sugestivamente intitulou "uma viagem pessoal ao coração da escuridão grega".
Para todos os que olham a Grécia com algum preconceito (e eu sou um deles), recomendo a leitura deste artigo, que foi escrito com aquela simplicidade sofisticada que os americanos tão bem cultivam e que fez a grandeza da Apple.
Parker escreveu: "O plano de resgate, se for acordado, concederá à Grécia um pequeno espaço para fazer as reformas necessárias. Algumas partes da economia podem reiniciar muito, muito lentamente. Mas estes sectores, orientados para a exportação, não absorverão muita mão-de-obra; o desemprego e a pobreza manter-se-ão elevados. "E afirma que na Grécia não há mais corrupção ou sobreemprego do que a média europeia; o que existe é uma enorme desorganização e falta de informatização que vai demorar tempo a sanar.
Entretanto, Portugal entrou numa nova Época de Exames – das Agências de "rating" e da troika. A Moody’s, como era de esperar, baixou-nos a nota. Mera constatação de que o doente, se não morreu da doença, poderá com alguma probabilidade morrer da cura.
A troika vai dar-nos boa nota, com distinção mesmo em algumas disciplinas como a austeridade. Será o "prémio" de um País que se submete disciplinadamente a um enorme sacrifício colectivo.
Ao contrário de 1975, em que Kissinger tentou fazer do caso português uma vacina contra às pretensões comunistas no resto da Europa Ocidental, desta vez Portugal é o bom aluno que não estará sujeito a esforços reforçados, nem ao risco de expulsão da escola.
O problema reside em saber se esta expectativa é razoável, ou seja, se alguém que ainda há bem pouco tempo garantia que a terapia receitada à Grécia era adequada, e que Grécia jamais seria conduzida ao abandono do euro, nos poderá garantir algo fiável!
Advogado
mcb@mcb.com.pt
Assina esta coluna semanalmente à sexta-feira
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