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29 de Dezembro de 2006 às 13:59

Banca para os pobres

No início de 2005, as Nações Unidas publicaram um relatório, sob a orientação do Professor Jeffrey Sachs, sobre o progresso dos Objectivos do Milénio ...

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No início de 2005, as Nações Unidas publicaram um relatório, sob a orientação do Professor Jeffrey Sachs, sobre o progresso dos Objectivos do Milénio (estes são um conjunto de objectivos para ajudar no desenvolvimento das nações mais pobres e subscritos por todos os Países do Mundo e algumas Instituições dos Países Desenvolvidos, veja-se http://www.un.org/millenniumgoals/).

A ideia central deste relatório é que os países mais pobres se encontram na chamada "armadilha da pobreza" (muitas vezes causada por falta de recursos naturais e humanos) que resulta, normalmente, numa Economia estagnada, com baixos índices de rendimento disponível, excesso de população e fugas de talentos para o Mundo Desenvolvido. Estes factores, por sua vez, originam mais pobreza, encetando assim um ciclo de ineficiência económica. Para combater este problema, o Professor Sachs sugere uma forte iniciativa em termos de investimentos básicos, até 2015, englobando (entre outros) o aumento da produtividade rural, o controlo das doenças nestes países, o desenvolvimento da educação, da ciência e da tecnologia e a igualdade entre géneros, cuja consequência será o Desenvolvimento Económico dos países em questão. Como forma de se alcançar estes objectivos, é dado uma grande relevância ao papel dos Governos dos Países Desenvolvidos, nomeadamente, pretende-se que as doações aos Países Pobres atinjam 0,7% do PIB em 2015.

Obviamente que os Governos (e também as ONG) têm um papel fundamental na precursão dos Objectivos do Milénio, mas é fundamental que o sector privado também participe (mais) activamente. De facto, é necessário que a ajuda vá mais além do que os referidos investimentos básicos, que se actue para lá das acções de filantropia/mecenato, que se avance mais nas parcerias e contribuições público-privadas na criação de emprego. Assim, é relevante que se aposte, por exemplo, na liberalização dos mercados, no desenvolvimento do Sector Financeiro e no acesso generalizado da população à Banca e Sector Segurador, nos Países Pobres. Como o Sector Financeiro é o sector de apoio do Desenvolvimento Económico, sem um Sector Financeiro robusto e bem articulado, não será possível o desenvolvimento de ajudas locais nem a criação de empreendedores locais, por forma a proporcionar as condições certas para um Desenvolvimento Sustentável. Mas como podem, por exemplo, as Instituições Financeiras dos Países Desenvolvidos contribuir para este desenvolvimento?

Parece certo que são necessárias mais acções e maior concertação entre os vários agentes do Sector Financeiro, bem como um contexto legal mais robusto, maior educação e formação dos profissionais financeiros (por ex. em segmentação de mercado e inovação, pois em muitas ocasiões o modelo aplicado pelos Bancos em diferentes Países é essencialmente o mesmo). Na verdade, o Sector Financeiro Privado necessita de reconhecer a importância que o mercado "dos não financiáveis" tem. Isto é, a Banca Privada deverá perceber as necessidades e características dos consumidores e empresas nos Países Menos Desenvolvidos, e assim fornecer produtos/serviços de acordo com essas características. Por exemplo, porque não desenvolver soluções de micro-seguros para zonas rurais, baseadas em alianças com outros stakeholders locais (e.g. NGOs, pequenas instituições financeiras locais). Aliás, servir os Pobres vai mais além do que a MicroFinança/MicroCrédito, por exemplo, desenvolvendo mecanismos sustentados em acções de cooperação entre instituições bancárias, mobile phone banking.

A própria ideia da banca postal (em 2005 existiam cerca de 500 000 postos dos correios nos Países Desenvolvidos, utilizados por mais de 65 milhões de pessoas para pagamentos de serviços financeiros) foi aplicada com sucesso no Brasil.

Se pensarmos que a existência de um Sector Financeiro sólido (como o dos Países Desenvolvidos) implica um contexto favorável ao surgimento quer de novos empreendedores quer de uma componente de Poupança robusta, levando ao aparecimento de investimentos rentáveis, aliás como defende o Professor Sachs, as poupanças locais são o principal e mais sustentável recurso de investimentos de qualquer País, pobre ou não pobre, então o Sector Financeiro deverá ser capaz de proporcionar os rudimentos necessários para o crescimento económico e a criação de emprego, contribuindo assim para o alcançar dos Objectivos do Milénio e para a melhoria do bem-estar de biliões de pessoas que actualmente vivem nos Países Pobres.

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