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Até agora, e agora?

No primeiro jogo nas Antas, benzeu-se repetidamente e beijou um ícone. Na chegada a Inglaterra anunciou-se especial. Trazia já um rasto de êxitos. Até agora os sucessos de José Mourinho assentaram em dois pilares. Por um lado, a constituição de grupos de jogadores ambiciosos, com mais futuro do que passado.

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Escolhas pessoais para quem a mão dada por Mourinho significou sempre um passaporte para as vitórias e fortuna. Por outro, a imagem e discurso do técnico sempre evidenciaram uma figura desassombrada e guerreira, que a golpes de frases tablóides pairava acima dos intérpretes.

Até agora, nas equipas dirigidas por Mourinho, a principal vedeta sempre foi ele próprio. Era ele que as câmaras mais buscavam. Ninguém tanto como Mourinho reduziu os jogadores a meras peças de tabuleiro que um cérebro genial parece movimentar para o êxito.

Na generalidade dos jogos, o futebol das equipas do autodenominado “special one” é tão entediante que parece ter como função disponibilizar tempo para planos de corte onde se espraie a imagem do general no cimo da colina. Em baixo, no campo de batalha, a infantaria sempre de lanças em riste corta espaços de progressão pelo centro e a cavalaria não pára de massacrar os flancos. Um, no máximo dois jogadores, têm direito à liberdade das acções de guerrilha na área contrária. Assente em treino metódico e excelente antecipação do “stress” competitivo, o futebol de Mourinho tende para o bocejo. Um sono de que os adversários acordam derrotados. Terrivelmente eficaz.

Até agora foi sempre assim. Ou melhor, foi assim até ao momento em que Abramovic decidiu compor o ramalhete do Chelsea com um jogador veterano, rico, já farto da palavra vitória. Perante o consentimento contrariado de Mourinho, ao negócio Shevechenko, a aura de plenipotenciário da área técnica empalideceu no olhar dos jogadores. Afinal Mourinho pode ser contrariado e suportar como qualquer assalariado. Afinal é tão humano.

Lampard, Terry, Cole começam a duvidar do criador e a mirarem-se para lá do reflexo de meras criaturas.

Mourinho saiu do Chelsea no momento certo. Todos os sintomas eram já de desastre numa equipa que, sem ele, chegou à última jornada a disputar o título inglês e marcou presença pela primeira vez na final da Liga dos Campeões.

Agora o desafio que se coloca a Mourinho vem de Itália. Ali, onde as tácticas são rigorosas, a elegância é regra e o sangue quente e latino, como irá Mourinho estabelecer a sua diferença?

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