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Octávio Ribeiro: Treze é número de sorte

Permitam uma nota pessoal. O treze é-me número mágico desde o Mundial de 1966, a minha mais longínqua e difusa memória de infância. Ao colo do meu pai, num café do Pedrógão, a ver aquela maravilha da natureza a correr, rematar, marcar golo e levantar os gritos dos homens graças ao televisor a preto e branco. O treze era o número do Eusébio.

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O décimo terceiro ano de vida do Negócios vai seguramente ser de afirmação desta marca que se faz respeitar pela independência com que trata o mundo económico. À equipa que torna o Negócios uma leitura obrigatória, aos membros da direção, e ao seu diretor, Raul Vaz,  o meu obrigado, enquanto leitor.

Sendo treze os anos, procurei treze medidas que pudessem colocar Portugal a salvo dos golpes de azar, que acontecem muito mais aos que não fazem por merecer a sorte.
   

1 – Posicionamento no mundo:
Portugal precisa de uma afirmação clara e inequívoca da nossa soberania e vocação atlântica. A Europa é o espaço geográfico a que pertencemos, mas a nossa dimensão é global. E a nossa diplomacia respeitada vai para 900 anos. 


2 – Combate ao "tsunami" demográfico:
Não enfrentar de forma enérgica, criativa e inteligente a crise na reposição das gerações é comprometer o nosso futuro enquanto Nação. Estamos ainda longe do esforço orçamental e civilizacional que esta tragédia sem rostos – os bebés não nascem – deveria impor.


3 – Educação pública:
Sem uma educação pública de qualidade não podemos garantir igualdade de oportunidades às crianças que vivem em Portugal. As famílias que podem pagam colégios aos filhos para depois estes poderem entrar nos melhores cursos públicos. As que não podem esfalfam-se para pagar o curso possível nas privadas. Claro que há exceções, mas esta é a darwiniana regra geral.


4 – Saúde pública paga:
Se vou ao setor privado e pago com o seguro de saúde, porque não pode o serviço público de saúde fazer o mesmo? Para manter o nosso excelente Serviço Nacional de Saúde é necessária boa gestão e cobrar a quem pode pagar. Não taxas moderadoras. Valores reais de mercado.


5 – Justiça célere focada nos resultados:
Se toda a sociedade portuguesa é conservadora, avessa a qualquer modernização e mudança (veja-se os mais poderosos sindicatos), as corporações que compõem o setor da justiça são o superlativo deste nosso defeito. O controlo orçamental, com tudo o que isto de facto implica, sobre a justiça não deveria caber ao poder executivo, que, pela prática, tornou o legislativo um seu braço dócil, e a justiça o outro. 


6 – Revisão salarial dos cargos políticos:
Quem vai servir o país não deve auferir menos do que obteve na sua atividade privada no ano anterior. Desde o regresso dos populismos – vai para trinta anos – os privilégios formais dos políticos estreitaram, enquanto outras formas de retribuição crescem como tumores da democracia.


7 – Criação de círculos uninominais:
Os deputados, mesmo os escassos de qualidade inequívoca, apresentam-se ao povo debaixo da longa asa do líder nacional de ocasião. Os partidos devem reinventar-se como fonte essencial de democracia e deixar como pesadelo passado esta era de ovelhas que balem afinadas ao gesto do seu pastor.


8 – Simplex legislativo:
Uma séria comissão de sábios deveria limpar o lixo legislativo e avançar com propostas para que o Parlamento fixasse regimes estáveis em áreas nevrálgicas da nossa atividade social. Áreas como a fiscal, o direito administrativo, comercial, têm de encontrar estabilidade para atrair investimento.


9 – Ambiente "versus" desenvolvimento:
Por vezes, o Homem parece ser o verdadeiro problema dos ambientalistas. O ambiente sem homens, sem a sua necessidade de transformar as condições naturais, seria uma maravilha. Parece. Veja-se a polémica da construção de novas barragens, num território onde os principais rios nascem fora das suas fronteiras. As barragens são meios essenciais para armazenar água. Ponto.


10 – Setor primário pujante e fundado na ideia de que Portugal é um produtor de qualidade:
No mercado interno e externo, a nossa oferta tem de privilegiar a qualidade. A nossa dimensão exige opção pela qualidade e proíbe o combate no terreno da quantidade.  


11 – Soberania económica:
Precisamos contornar o espartilho europeu, sendo criativos nos apoios às empresas produtoras de bens transacionáveis.


12 – Soberania financeira:
Portugal precisa de assegurar o funcionamento de uma banca competitiva, com critérios objetivos de atribuição de créditos. E que não sirva os interesses estratégicos do gigante espanhol.


13 – Liberdade de Imprensa:
Nesta fase de rapina por parte de gigantes globais, com o Google à cabeça, é essencial zelar pela independência financeira dos grupos de comunicação social e pela independência editorial  dos projetos jornalísticos. Sem o que desaparece a Liberdade de Imprensa.  n
                     
Director do Correio da Manhã e da CMTV

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