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Sófocles, na "Antígona", sabia que há coisas que não mudam com o tempo: ninguém gosta do mensageiro que traz notícias pouco agradáveis. O drama português é que ninguém quer ser portador das más notícias. É também por isso que Portugal está cheio de homens...

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Sófocles, na "Antígona", sabia que há coisas que não mudam com o tempo: ninguém gosta do mensageiro que traz notícias pouco agradáveis. O drama português é que ninguém quer ser portador das más notícias. É também por isso que Portugal está cheio de homens cinzentos nas estruturas públicas e privadas: eles querem guardar as boas notícias para si. A criação da democracia do crédito (compras coisas, como casas e carros, através de crédito que terás de pagar no futuro) foi a compensação para a má distribuição de boas notícias. Tudo isso funciona quando os preços das coisas adquiridas a crédito sobem. Quando assim não acontece o sistema entra em colapso. Alimentados pelo crédito, a Grécia, Portugal e Espanha sabem que o mensageiro das más notícias chegaria, mais tarde ou mais cedo. Só que nenhum político gosta de ser o mensageiro do fim da festa. Até porque a democracia de crédito está a transformar-se na democracia de descrédito.

O problema português é, no entanto, mais grave. A uma crise económica grave (que junta a derivada da financeira global à sua estrutural) junta uma crise política. Derivada do cinzentismo reinante na sua pretensa elite. A classe política está mais preocupada em sobreviver como sistema do que em lançar as bases para o futuro de Portugal. Onde as grandes empresas não têm espaço para crescer e onde os novos quadros olham para fora para sobreviver. Há más notícias que têm de ser dadas. Mas elas não poderão ser enviadas por e-mail sem emoção, como uma inevitabilidade. Portugal não pode encarar a crise como mais um Fado sobre a depressão nacional.
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