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23 de Outubro de 2008 às 13:00

As exportações e a crise

Os mercados europeus que escoam 75% das exportações portuguesas estão em abrandamento ou mesmo em recessão. Será que isto afecta as exportações portuguesas? Claro que afecta. Mas será que este facto é suficiente para determinar que as exportações do País vão cair em 2008 e 2009, e que o défice externo ainda se vai agravar mais? Eu penso que não.

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O abrandamento da economia europeia não provocou até agora uma diminuição das nossas exportações. Aliás, o crescimento das exportações para os mercados extra-comunitários continua a bom ritmo, mesmo com as perdas verificadas nos EUA. E a redução dos preços do petróleo e das matérias-primas podem ajudar ao reequilíbrio externo, e dar alguma folga aos consumidores portugueses. A desvalorização do euro também pode ajudar, dando mais competitividade externa dos países da Eurolândia.

Entre 2005 e 2007, as exportações portuguesas cresceram quase 8% ao ano. Este forte crescimento não consistiu em exportar mais do mesmo para os mesmos mercados. Pelo contrário, correspondeu a um grande esforço de diversificação de mercados e alteração dos produtos exportados. Neste período, as exportações portuguesas cresceram claramente acima do crescimento dos nossos principais mercados, o que aconteceu por duas razões. A primeira foi por termos conseguido ganhar quota de mercado em países de grande importância como Espanha e a Alemanha. A segunda resultou da estratégia de diversificação dos mercados das empresas portuguesas.

Metade do crescimento das exportações portuguesas verificado entre 2005 e 2007 foi impulsionado pelas saídas de produtos para os países extra-comunitários. E nos últimos 12 meses esta tendência acentuou-se ainda mais. Quando se comparam os primeiros sete meses de 2008 com igual período de 2007 verifica-se que os mercados extra-comunitários foram responsáveis por 2/3 do crescimento das exportações portuguesas.

É verdade que a crise financeira mundial se agravou em Setembro e Outubro, meses para os quais ainda não há dados. Mas também é verdade que o primeiro semestre de 2008 foi já um semestre de forte abrandamento nos nossos mercados europeus, particularmente Espanha, França e Alemanha. Mercado para onde as nossas exportações registaram um crescimento positivo, sendo especialmente interessante salientar que as exportações para Espanha cresceram 4,5%, num semestre em que a economia espanhola esteve praticamente estagnada.

O crescimento de 5% das nossas exportações nos primeiros sete meses de 2008 representa um abrandamento relativamente ao ritmo de 2006 e 2007, mas é, ainda assim, extremamente positivo, pois aconteceu num ambiente de abrandamento da procura dos nossos principais mercados e de uma forte valorização do euro, que penalizou a nossa capacidade competitiva nos mercados extra-europeus. Neste contexto, é extremamente interessante verificar que nos primeiros oito meses(*) de 2008 as exportações portuguesas para os países extra-comunitários conseguiram crescer a um ritmo de 15%.

Desempenho que ocorre num contexto de abrandamento de um dos mais importantes mercados externos do País, os EUA, e de valorização do euro. De facto, nos primeiros oito meses de 2008 as exportações para os EUA caíram 15%. Ou seja, nos primeiros oito meses deste ano exportamos menos 172 milhões de euros para a maior economia do mundo. No entanto, no mesmo período, as exportações para os PALOP aumentaram em 500 milhões de euros e as exportações para os países produtores de petróleo cresceram 150%, o que significa que em 2008 poderemos estar a exportar para estes países mais 300 ou 400 milhões de euros do que exportámos em 2007. Um montante que também pode ser alcançado no aumento das exportações para a Ásia.

Concluindo, o abrandamento das economias europeias não implicou até agora uma quebra das nossas exportações para a União Europeia. O crescimento das nossas exportações no último ano assentou principalmente nos PALOP, países da OPEP, Ásia e América do Sul, economias para as quais as instituições internacionais continuam a prever mantenham um forte crescimento em 2009. Alguns destes mercados poderão desacelerar, em particular os muito dependentes do petróleo, com a prevista diminuição do preço, mas nestes mercados a desvalorização do euro estará a ajudar as exportações em 2009.

A descida do preço da energia e das matérias-primas poderá ter um efeito ainda maior nas nossas balanças externas. Nos primeiros sete meses de 2008 pagámos uma factura 54% maior nos combustíveis e 17,2% nas outras matérias-primas do que em igual período de 2007. Ou seja, só nos primeiros sete meses, os aumentos de preços resultaram num acréscimo de gastos com as importações, de 2.592 milhões de euros. Por isso, a reversão da trajectória de aumento do preço do petróleo e dos produtos agrícolas levanta boas perspectivas para que a diminuição das importações possa dar um contributo importante para o reequilíbrio externo de Portugal.

Por fim, referir apenas o desempenho menos feliz do turismo. Os dados de Janeiro a Agosto mostram uma estagnação do sector, revelando os efeitos do abrandamento das economias europeias. Aí não será fácil apostar na diversificação dos mercados de origem de turistas. O grosso dos nossos clientes vai continuar a ser constituído por europeus. No entanto, a crise poderá levar alguns a substituir viagens mais longas por destinos mais próximos, como Portugal. A competitividade, neste caso, pode depender da nossa capacidade de atrair e manter voos baratos. Aumentar as ligações "low cost" deve ser visto como importante.

(*) Existem dados de comércio extra-comunitário até Agosto, e apenas até Julho para o comércio com os países da União Europeia.

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