Opinião
Artur Fernandes: «A demografia e o futuro»
O enriquecimento cultural a que assistimos só será consolidado se tivermos estruturas capazes de receber os imigrantes como alguém bem vindo e fundamental para o nosso futuro, não como recursos desvalorizados.
Doze países perderam população no último ano e dezassete registaram mais mortes do que nascimentos, dos quais treze do leste. Os países do ocidente europeu devem, em parte, ao aumento da imigração o pequeno aumento da população verificado, e no caso da Alemanha, Grécia, Itália e Suécia só há estabilidade demográfica devido aos fluxos migratórios que procuram esses países. Em Portugal verifica-se o mesmo fenómeno.
Com excepção da Turquia e da Islândia, todos os países europeus têm taxas de fecundidade inferiores ao patamar de substituição das gerações (2,1 filhos por mulher). Em geral, os índices são relativamente altos no norte e muito baixos no sul. As taxas mais baixas são de 1,1 na Arménia e na República Checa e 1,2 na Espanha, Itália, Letónia e Rússia. Portugal tem vindo a aumentar a sua taxa de fecundidade, mas ainda está longe dos 2,1.
O envelhecimento demográfico é geral em todo o continente, mas há grandes diferenças entre o oeste e o leste. A Itália tem a maior proporção de idosos e a Albânia e menor. O fenómeno do envelhecimento demográfico espera-se que continue a aumentar. A paridade um trabalhador para um reformado aproxima-se a uma velocidade imprevisível há pouco tempo.
Mas a diferença mais importante entre países do ocidente e do leste, está na esperança de vida ao nascer, muito inferior no leste. As mais baixas registam-se na Rússia (59 anos para os homens e 72 para as mulheres) seguido da Ucrânia e Bielorússia (63 e 74 anos). Por outro lado, as mais altas correspondem aos países ocidentais: para os homens 78 na Islândia e 77 na Suécia e Suíça; para as mulheres, 83 anos em Espanha e Suíça e 82 na França e Itália.
Analisando a situação em Portugal, encontramos um país estável, devido aos fluxos migratórios que nos procuram que nos tornam um país equilibrado do ponto de vista demográfico. Esse equilíbrio deve-se aos fluxos migratórios em si e por essas populações migrantes terem taxas de fertilidade muito mais elevadas do que a taxa dos portugueses. Aliás, são os fluxos migratórios os responsáveis pela inversão da curva da taxa de natalidade, que já nos levara ao grupo dos países com capacidade de renovação das gerações mais baixa.
Esta realidade trás consigo grandes desafios.
Somos forçados a concluir que a sobrevivência do sistema de segurança social só será possível se os fluxos migratórios para dentro do país se mantiverem. Pelo menos enquanto os níveis de fertilidade dos autóctones for tão baixa. Felizmente que os países da Europa meridional, normalmente fornecedores de emigração, passaram a ser portos de destino de enormes massas de imigrantes. Este fenómeno, ao ter contribuído para o rejuvenescimento da população e para o necessário aumento da taxa de fertilidade, acabou por ter um efeito benéfico inesperado que se manterá a médio e longo prazo.
Numa conclusão extrema, concluímos que a Europa na sua globalidade, com Portugal como exemplo bem ilustrativo, depende dos outros continentes para construir o seu futuro. Podemos também concluir que a cultura viva europeia, como a conhecemos, está em processo de grande transformação. Tentar adivinhar o que será a nossa cultura é uma busca aliciante e fundamental para preparar as nossas organizações para o futuro.
Acredito que uma boa integração dos que nos procuram, a exemplo do que fazem países como o Canadá ou o Brasil, contribuirá para uma fácil assimilação das outras culturas, com impacto directo, por exemplo, na paz social. O enriquecimento cultural que estamos a assistir em Portugal, consequência directa da acção dos milhares de cabo-verdianos, brasileiros, ucranianos ou guineenses que nos procuram, só será consolidado se, hoje, tivermos estruturas capazes de receber esses imigrantes como alguém bem vindo, porque fundamental para o nosso bem estar futuro, e não como recursos desvalorizados a quem damos o trabalho que já ninguém quer. Como a França fez aos portugueses que para lá foram nos anos 60.
Receber bem aqueles que nos procuram é, a curto prazo condição de equilíbrio, a médio prazo condição de estabilidade e a longo prazo condição de sobrevivência.
Consultor
Comentário e críticas para artur_fernandes@netcabo.pt
Artigo publicado no Jornal de Negócios - suplemento Negócios & Estratégia