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António Horta Osório 31 de Maio de 2016 às 11:00

António Horta Osório: Portugueses têm de sentir que é possível fazer mais e melhor

A sorte é, por definição, um fenómeno que resulta da casualidade, que ignora qualquer tipo de atuação racional.

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Um país não pode, por isso, ficar dependente da sorte. Sempre vi a sorte como o resultado de "muito trabalho", ou como uma combinação de preparação e oportunidade. E a preparação é, portanto, essencial para assegurar que quando a oportunidade surge existem condições para a aproveitar.

Portugal, sendo uma pequena economia aberta, é muito dependente do exterior, pelo que se torna essencial que estejamos em sintonia com os períodos de crescimento da economia europeia e mundial, e que se implementem reformas adicionais que permitam ao país crescer proporcionalmente.

Nos últimos anos, foram implementadas reformas importantes, por exemplo, ao nível da saúde, da administração pública e a nível fiscal. Algumas foram revertidas ou estão em revisão pelo atual Governo. Para assegurar que o país cresça mais e que não volte a viver uma crise tão profunda como a que viveu recentemente, é necessário que se continuem a implementar reformas estruturais, que levam tempo e nem sempre são fáceis mas que, no longo prazo, contribuirão para melhorar a competitividade do país o que, por sua vez, levará ao aumento do nível de vida dos portugueses.

Considero que existem três eixos fundamentais nos quais o país deve apostar prioritariamente:
O primeiro é o da educação, que é um dos principais falhanços do país depois do 25 de Abril. Apesar de alguma evolução positiva, Portugal continua a ser um dos países da União Europeia com piores índices de escolaridade. Em 2014, apenas 16,5% da população portuguesa tinha formação superior e, já em 2015, apenas 45% da população portuguesa entre os 25 e os 64 anos completou pelo menos o ensino secundário. Entre os 28 países da UE, só Malta tem dados piores do que Portugal a nível de educação.

Se, por um lado, o mundo global em que hoje os jovens crescem oferece oportunidades, por outro, é também mais exigente. A aposta na educação é fundamental para aumentar a preparação média do país. A formação e o treino dos mais jovens são os pilares de uma sociedade que aposta no futuro, de um país que quer ser competitivo a nível global. Por último, o país tem de se preparar para a Revolução Digital, que é uma realidade a nível global e está a alterar as competências necessárias, o que exige planear o futuro não só para os mais jovens, mas também para aqueles que atualmente desempenham funções que se vão tornar redundantes ou até desaparecer.

O segundo é o da justiça. Portugal é um Estado de Direito Democrático, e um dos pressupostos de um Estado de Direito Democrático é o direito à justiça com segurança e rapidez. Para isso, é necessário que os tribunais estejam organizados de forma a poderem concentrar-se naquilo que é a sua missão e que as decisões sejam rápidas e deem segurança a quem recorre à justiça.

Em terceiro lugar, considero que temos de ter como objetivo prioritário crescer mais e subir  significativamente o nível de vida dos portugueses, como fez, por exemplo, a Irlanda. Para isso, é necessário trabalhar mais ou trabalhar melhor (aumentar a produtividade). Costumo dizer à minha equipa que o único sítio onde o "sucesso vem antes do trabalho" é no dicionário. Ao mesmo tempo, o país tem de estimular a concorrência, baixar o peso do Estado e libertar espaço para baixar impostos e estimular a iniciativa privada. E temos de viver dentro das nossas possibilidades para não aumentarmos a dívida para níveis incompatíveis, como aconteceu no passado, o que, como vimos, se traduz inevitavelmente em impostos no futuro.

Desde 2011, foram pedidos enormes sacrifícios aos portugueses. Esse esforço coletivo foi infelizmente necessário e entendido como temporário. Dependendo do caminho que for agora seguido, não é seguro que esse esforço tenha terminado e que novas exigências não venham a ser pedidas. É essencial evitar que isso aconteça, os portugueses têm de sentir que há um caminho, que é possível fazer mais e melhor. Criar essa visão e consenso a nível nacional é fundamental para poder implementar as prioridades corretas que levem a um crescimento significativo a prazo e à consequente melhoria do nível de vida, no país.

Presidente executivo do Lloyds Banking Group

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