Fernão Magalhães 127: Este é o nome do empreendimento imobiliário que vai ser construído no lugar onde durante mais de 30 anos existiu um inacabado edifício, que foi palco de um dos mais hediondos crimes ocorridos em Portugal: em 2006, entre os dias 15 e 22 de fevereiro, Gisberta Salce Júnior foi espancada até à inanição por 14 jovens, entre os 12 e os 16 anos.

Esta mulher transgénero, que tinha apanhado SIDA e sofria de tuberculose pulmonar, pneumonia e candidíase laríngea, foi atirada para uma cratera na placa de betão que formava um poço com água, onde acabou por morrer. Tinha 45 anos.

Agora, demolido o inacabado edifício, já este ano, a promotora imobiliária vai começar a construir o novo empreendimento localizado na avenida do Porto que homenageia o navegador português, dando também início à comercialização do projeto, a cargo das consultoras consultoras JLL, Luximos Christie’s e Savills/Predibisa.

"Com um investimento de 150 milhões de euros, o Fernão Magalhães 127 conta com aproximadamente 49 mil metros quadrados de área residencial, comercial e de escritórios, e vem contribuir para a revitalização de uma zona nobre da Invicta", sublinha a Avenue, em comunicado.

O projeto residencial é composto por 334 apartamentos, com tipologias T0 a T3+1 - com áreas entre 35 e 144 metros quadrados -, distribuídos por quatro edifícios autónomos entre si e com entradas independentes, incluindo duas torres com 80 metros de altura, conferindo-lhes o estatuto de edifícios mais altos do Porto.

"Está prevista a instalação de painéis fotovoltaicos para a produção de energia elétrica e todos os apartamentos têm estacionamento privativo coberto, com pré-instalação para carregamento de veículos elétricos e parqueamento de bicicletas", realça a Avenue.

De acordo com a promotora imobiliária, o Fernão Magalhães 127 terá ainda zonas de "coworking", espaços verdes com jardins e hortas urbanas, ginásio, pista de corrida, campo de padel, sala de jogos e uma sala de condomínio e eventos.

"Estamos muito entusiasmados com este novo projeto da Avenue - o Fernão Magalhães 127. É um projeto ‘mixed use’, com principal foco na habitação, que vai não apenas requalificar uma importante área urbana, mas também reforçar o investimento da Avenue no Porto. É um empreendimento que reflete o nosso compromisso com a cidade e com o bem-estar da comunidade local", enfatiza Aniceto Viegas, CEO promotora imobiliária.

Uma história de 50 anos que mete o Pão de Açúcar e a Lucios

A história da construção imobiliária neste local tem meio século.

Em 1974, era lançada a primeira pedra de um edifício na Avenida Fernão de Magalhães, junto ao Campo 24 de Agosto, no centro do Porto, que iria integrar uma galeria comercial e um parque de estacionamento.

O investimento promovida pelo grupo Pão de Açúcar acabou por não dar em nada, tendo a obra sido suspensa no início dos anos 90, após o afastamento do grupo brasileiro, tendo sido nesse inacabado edifício que Gisberta viria a ser assinada em fevereiro de 2006.

Uma dúzia de anos depois, a construtora Lucios adquiriu o imóvel, tendo no final de 2019 apresentado o seu projeto para o local: o Edifício Pacífico, que teria um hotel de 231 quartos, ginásio, residências, espaços comerciais e escritórios, num investimento, então, estimado em 97 milhões de euros.

Com a chegada da pandemia de covid-19 e a entrada da Lucios em Processo Especial de Revitalização (PER), o Edifício Pacífico nunca avançou, tendo este ativo sido vendido, no verão passado, à promotora imobiliária Avenue - detida pela gestora de fundos britânica Aermont -, que este ano procedeu à demolição do inacabado edifício e avança agora para construção do empreendimento Fernão Magalhães 127.