Opinião
Antígona e a Europa
Na notável obra de Sófocles, Antígona é a voz da rebeldia contra Creonte, que chegou ao trono de Tebas. Embriagado pelo poder, Creonte diz: "e a cidade é que vai prescrever-me o que devo ordenar?". Ao olhar para o que se passa na Grécia não podemos deixar de nos questionar sobre a relação hoje existente entre o poder e os governados na democrática Europa.
A falta de transparência dos executivos, na hora de dar más notícias e no momento de combater a crise, a fraude e a corrupção, é aterradora. A economia e a política esquecem-se, não se analisam e resolvem após o recurso a astrólogos ou feiticeiros. E a Europa sabe que, no contexto da globalização, parte da sua classe média foi empurrada para baixo e os sonhos prometidos são hoje miragens do Second Life. A ilusão foi vendida como substituta da realidade. Tal como nos Estados Unidos, a falta de planos de segurança social para os mais velhos foi colmatada com a ilusão do investimento em bolsa para salvaguardar o futuro. O preço, alto, começa a ser pago. Com juros que estão a dinamitar o equilíbrio social. Os governos europeus muitas vezes olham para os seus cidadãos como se estes fossem apenas turistas num centro comercial. Estão ali apenas para consumir produtos, trocar de dirigentes partidários na hora em que estes se cansam do poder e pagar impostos. Antígona cansou-se e saiu às ruas na Grécia. Agora os justos pagam pelos pecadores. Sófocles teria, com esta crise, um bom argumento para escrever mais uma tragédia sobre a Europa.
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