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12 de Setembro de 2005 às 13:59

Alemanha: o que fazer?

Num contexto de globalização da economia e de liberalização das regras de concorrência internacional, a competição entre as grandes empresas internacionais tem aumentado muito e ....

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Num contexto de globalização da economia e de liberalização das regras de concorrência internacional, a competição entre as grandes empresas internacionais tem aumentado muito e mesmo as empresas até agora mundialmente mais competitivas parecem sujeitas a uma espécie de «tremor». Na Alemanha, até agora a mais forte economia europeia, a crise social permanece.

Apesar do recente artigo publicado na revista «The Economist» intitulado «Germany’s surprising economy», que indica o reavivar da economia germânica e atribui esta mudança, em parte, à expectativa que existe quanto às próximas eleições, o sentimento que envolve os agentes económicos permanece, em geral, pouco optimista.

De facto, não obstante a ligeira melhoria sentida na economia no passado mês de Julho, atestada pelo instituto alemão IFO – devida quer à baixa do euro face ao dólar, elemento essencial para relançar as exportações, principal motor da economia alemã, quer à previsível retoma do crescimento mundial – o índice relativo ao clima económico registou, no primeiro trimestre deste ano, o nível mais baixo desde Setembro de 2003. Encontrando-se há mais de um ano em queda consecutiva, este índice reflecte um forte abrandamento do crescimento económico: desde a indústria manufactureira, passando pela indústria automóvel e pela construção, terminando no comércio, a situação é difícil para os empresários.

Segundo o Bundesbank, o crescimento da economia estagnou no primeiro semestre do ano tendo as importações superado as exportações. Também o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que, em 2006, a economia alemã apresente um crescimento do PIB de apenas 1,3%. O FMI estima que o défice público alemão chegue aos 3,8% do PIB, o que, a confirmar-se, representa o quarto ano consecutivo em que a Alemanha atinge um défice público acima do limite exigido pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento.

Grande parte da explicação para o abrandamento económico alemão está na actual incapacidade de reacção do sector empresarial ao movimento das deslocalizações. Na Alemanha têm-se multiplicado as deslocalizações para a Ásia e para outros Estados-membros da União Europeia, o que implica o encerramento local de muitas unidades produtivas em função de factores de atracção de outros países (como, por exemplo, os impostos mais baixos, a mão-de-obra muito mais barata ou os mercados em expansão). O governo de Gerhard Schröder ainda procurou reagir e relançar a economia tendo, por exemplo, aprovado uma proposta de lei (com efeitos a 2006) que visa reduzir o IRC alemão dos 25% para os 19%. Mas o desemprego persiste e atingiu mesmo o nível mais elevado dos últimos sete anos: de acordo com o Eurostat, em 2004 a média da taxa de desemprego foi de 9,8% e, actualmente, encontra-se acima dos 11,5%. 

Neste país, onde tem predominado uma lógica de direito colectivo ao emprego, as deslocalizações apresentam-se como um novo dado que veio, pelo menos em parte, alterar esta lógica. Na verdade, muitos empresários são atraídos pela informação disponível em «sites» da Internet que apelam ao «jobdumping», convidando os empregadores a deslocalizar os seus investimentos para locais mais atractivos.

Perante a perda significativa de milhares de postos de trabalho no sector industrial, algumas empresas têm proposto a (re)negociação do período de trabalho horário semanal. Em 2004 e 2005, a Siemens, a Opel, a DaimlerChrysler e a Volkswagen negociaram com os seus trabalhadores o aumento da semana horária de trabalho (em alguns casos passando das 35 às 45 horas por semana) em troca do abandono de projectos de deslocalização. A duração do trabalho foi aumentada sem compensação salarial, mas garantindo a protecção social na saúde, na reforma e, sobretudo, a garantia de emprego a médio prazo.

Quando o número de desempregados aumenta diariamente – actualmente são mais de 5 milhões de pessoas – a Alemanha procura uma resposta para esta sua crise. Os «mini-empregos» ou empregos de curta duração destinados a activos com poucas qualificações que auferem próximo de 400 euros de rendimento mensal livres de encargos sociais e fiscais, assim como o programa Hartz IV, que procura chamar os desempregados de longa duração ao mercado de trabalho, através do exercício de uma actividade de utilidade pública, são duas iniciativas que não parecem ter obtido grandes resultados na tentativa de combate ao desemprego.

É assim que, longe dos objectivos definidos na Estratégia de Lisboa e das necessárias reformas sociais e económicas a concretizar em 2010, o governo de Schröder enfrenta o efeito avassalador das deslocalizações e uma grave crise social e económica que o sujeita agora a eleições antecipadas em 18 de Setembro. Na actual situação de bloqueio social e económico, será pois curioso observar qual o «veredicto» a que os alemães chegarão. E este será, certamente, fundamental para compreender o futuro próximo da economia europeia.

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