Opinião
Águas Revoltas
Viveu-se algum nervosismo nos mercados financeiros nas últimas sessões. Os resultados trimestrais da maioria das empresas não têm desapontado nos Estados Unidos, mas outras questões estão a dominar Wall Street.
No mercado cambial, circulam rumores de uma reavaliação do «peg» da moeda chinesa com o dólar americano, o que por sua vez o está a pressionar em baixa contra o iene.
Entretanto, adensam-se as dúvidas em relação à firmeza da retoma nas principais economias. No mercado accionista, será um eufemismo afirmar que o panorama não é famoso. O Nasdaq atingiu mínimos de 6 meses nos últimos dias, enquanto o Dax acumula perdas de 1,6% desde o início do ano. O optimismo que se vivia no início do ano dissipou-se completamente, apesar dos últimos resultados trimestrais da maioria das empresas não estarem a desapontar. Como explicar? Alguns indicadores menos bons nos EUA assombraram e aumentaram os receios de um abrandamento na economia.
Por exemplo, as vendas a retalho em Março foram abaixo do esperado, as ordens de bens duráveis registaram uma contracção de 2.8% e o início de construção de novas casas surpreendeu em baixa. Subitamente, o cenário de estagflação ganhou adeptos; algo que não é desejado pelos mercados financeiros, deixando o Federal Reserve numa posição complicada – e recordamos que o Federal Open Market Committee se reúne na próxima terça feira.
Por um lado, as pressões ao nível dos preços tem de ser controladas, o que força a subida das taxas directoras. Por outro lado, o FED tem de ter algumas cautelas porque uma postura agressiva quanto a subida de taxas pode levar a um abrandamento súbito da economia. Na Europa destaca-se a reunião do BCE na próxima quarta-feira. O consenso aponta para a manutenção das taxas directoras. Porém, durante a conferência de imprensa que se vai seguir, será interessante saber a opinião de Trichet sobre as últimas estatísticas (decepcionantes?) na zona euro ou sobre as críticas que alguns políticos dirigiram ao BCE devido à sua postura «pouco pro-activa» na última semana. Em termos de indicadores, as atenções voltam-se para os dados do PMI do sector transformador da zona euro e ainda para o ISM nos EUA. Na zona euro, antecipa-se um declínio deste indicador em Abril para 49.50 – valores abaixo de 50 representam contracção. Nos EUA, o número de empregos cridos pela economia em Abril deverá dominar as atenções (espera-se a criação de 170.000 empregos). Nos mercados cambiais, o nervosismo deverá continuar na ordem do dia. Com o triplo feriado (terça, quarta e quinta-feira) da Golden Week no Japão, a menor liquidez nos mercados asiáticos poderá ser aproveitada pela China para reavaliar o peg do yuan face ao dólar.