Opinião
Aforro, reformas, acções e sangue pelas ruas
(Onde o autor, com a cara ainda espichada do sangue das chacinas bolsistas, vem lembrar aos sofridos investidores umas verdades insofismáveis e, com risco de ser apedrejado, persistir na grande mensagem quase religiosa de que há que poupar para a reforma, principalmente através de acções ou produtos que as incorporem, mas com os desvelados cuidados que as mães dedicam aos filhos).
(Onde o autor, com a cara ainda espichada do sangue das chacinas bolsistas, vem lembrar aos sofridos investidores umas verdades insofismáveis e, com risco de ser apedrejado, persistir na grande mensagem quase religiosa de que há que poupar para a reforma, principalmente através de acções ou produtos que as incorporem, mas com os desvelados cuidados que as mães dedicam aos filhos).
Há poucos meses fui convidado pela "franchise" de Aveiro da organização "Ted Talks" para pronunciar uma palestra sobre tema à minha escolha, mas com a recomendação de que deveria ser inspiradora. Com o carácter prosaico que me caracteriza, ocorreu-me que deveria tratar-se de qualquer coisa ao contrário de "expiradora", algo referente a respiração, portanto. Elucidado, e atendendo a que o público-alvo estaria na zona dos trinta anos, propus-me timidamente perorar sobre as virtudes do aforro e lembrar aos esperançosos jovens que as reformas à grega eram coisa do passado e que havia que puxar pelo corpo, planeando para o futuro, para se vir a ser um velhinho de idade dourada. Foi há pouco tempo, mas foi há muito, porque ainda era a horda de Sócrates que desbaratava os cabedais do país e por isso um despertar de consciência pareceu-me o mais aproximado de "inspirador" que eu conseguia.
Propugnar pelo aforro nem tem nada de especial, é algo que os nossos pais faziam, e nos ensinavam a fazer, e os burros dos alemães têm de praticar para pagar a Alemanha de leste ex-comunista e deixar uns trocos aos socialistas gregos e portugueses. Mas na actualidade, imaginem , somos todos a ter de praticar, porque o facilitismo acabou e há facturas com cobrador do fraque. Porém, não me interessa aqui o presente, viro-me para o que os jovens têm que fazer, agora que a demografia mudou e se criaram sociedades de velhos. Nos sistemas de reforma de Segurança Social, baseado na distribuição, quem chega ao sistema desconta imediatamente para os que já estão a receber. Era um sistema adequado, mas que agora, como punha o "cartoon" do "NY Times", não passa de um sistema Ponzi, de pirâmide, em que quem está à bica recebe e os outros ficam a ver navios. A batota da demografia liquidou o método e agora cada um tem de pensar em si mesmo. Logo, como as coisas estão, é aforrar cedo para um futuro melhor, e nem estou a falar de sociedades ideais dos amanhãs que cantam como os passarinhos nas gaiolas.
Trata-se de uma campanha paciente e a longo prazo, baseada no investimento na economia global e no milagre da bola de neve, a capitalização - isto é, em acções e em reinvestimento. Com risco de provocar arrepios de pânico, vou passar para a evidência empírica, coligida em muitos lados, mas talvez com maior eficiência pela grande autoridade na matéria de retorno de investimentos globais, o prof. Ibbotson. Em Janeiro deste ano, o "Wall Strret Journal", a grande bíblia de "nosotros aficionados" do capitalismo, dava nota do último número referente a 140 anos, com base na bolsa americana, presumindo o reinvestimento dos dividendos: 9,43% de rentabilidade anual, os quais, despojados de inflação significavam, em termos reais, 4, 85%. Temo que socialistas de mau porte oponham que isto é coisa para gringos e seus lacaios e que o resto da populaça mundial tem mesmo de entrar na luta de classes a fim de apanhar ao menos margarina para o pão. Mas o grande estudo mundial para o séc. XX, suportado em 16 bolsas mundiais, "The Triumph of the Optimists" (Ed. Princeton), confirma a conclusão, com desvios negligenciáveis em relação à conclusão final.
Se ainda está a ler sem recorrer a valiums, lembre-se que nem tudo reluz à primeira e que outros grandes prosélitos avançaram com ideias muito acertadas, mas que os perigos colaterais não se podem esquecer. Veja-se, por exemplo, o meu colega em profecia, Maomé, que teve a grande ideia de preconizar o enxurro de porrada nas mulheres recalcitrantes, mas que deixou verdadeiros fiascos no sistema geral. Aqui não é assim, porque o longo prazo é o nome do jogo, e, se largar o irracional conceito de "comprar e guardar" que, para alguns, pouco dados ao raciocínio crítico, é um corolário do excelente método de "Value Investing", então as prazenteiras palmeiras tropicais com nativas curvilíneas a servirem sumos tropicais é possivelmente o destino dos seus anos dourados.
Advogado, autor de "Ganhar em Bolsa" (ed. D. Quixote), "Bolsa para Iniciados" e "Crónicas Politicamente Incorrectas" (ed. Presença). fbmatos1943@gmail.com
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Há poucos meses fui convidado pela "franchise" de Aveiro da organização "Ted Talks" para pronunciar uma palestra sobre tema à minha escolha, mas com a recomendação de que deveria ser inspiradora. Com o carácter prosaico que me caracteriza, ocorreu-me que deveria tratar-se de qualquer coisa ao contrário de "expiradora", algo referente a respiração, portanto. Elucidado, e atendendo a que o público-alvo estaria na zona dos trinta anos, propus-me timidamente perorar sobre as virtudes do aforro e lembrar aos esperançosos jovens que as reformas à grega eram coisa do passado e que havia que puxar pelo corpo, planeando para o futuro, para se vir a ser um velhinho de idade dourada. Foi há pouco tempo, mas foi há muito, porque ainda era a horda de Sócrates que desbaratava os cabedais do país e por isso um despertar de consciência pareceu-me o mais aproximado de "inspirador" que eu conseguia.
Propugnar pelo aforro nem tem nada de especial, é algo que os nossos pais faziam, e nos ensinavam a fazer, e os burros dos alemães têm de praticar para pagar a Alemanha de leste ex-comunista e deixar uns trocos aos socialistas gregos e portugueses. Mas na actualidade, imaginem , somos todos a ter de praticar, porque o facilitismo acabou e há facturas com cobrador do fraque. Porém, não me interessa aqui o presente, viro-me para o que os jovens têm que fazer, agora que a demografia mudou e se criaram sociedades de velhos. Nos sistemas de reforma de Segurança Social, baseado na distribuição, quem chega ao sistema desconta imediatamente para os que já estão a receber. Era um sistema adequado, mas que agora, como punha o "cartoon" do "NY Times", não passa de um sistema Ponzi, de pirâmide, em que quem está à bica recebe e os outros ficam a ver navios. A batota da demografia liquidou o método e agora cada um tem de pensar em si mesmo. Logo, como as coisas estão, é aforrar cedo para um futuro melhor, e nem estou a falar de sociedades ideais dos amanhãs que cantam como os passarinhos nas gaiolas.
Se ainda está a ler sem recorrer a valiums, lembre-se que nem tudo reluz à primeira e que outros grandes prosélitos avançaram com ideias muito acertadas, mas que os perigos colaterais não se podem esquecer. Veja-se, por exemplo, o meu colega em profecia, Maomé, que teve a grande ideia de preconizar o enxurro de porrada nas mulheres recalcitrantes, mas que deixou verdadeiros fiascos no sistema geral. Aqui não é assim, porque o longo prazo é o nome do jogo, e, se largar o irracional conceito de "comprar e guardar" que, para alguns, pouco dados ao raciocínio crítico, é um corolário do excelente método de "Value Investing", então as prazenteiras palmeiras tropicais com nativas curvilíneas a servirem sumos tropicais é possivelmente o destino dos seus anos dourados.
Advogado, autor de "Ganhar em Bolsa" (ed. D. Quixote), "Bolsa para Iniciados" e "Crónicas Politicamente Incorrectas" (ed. Presença). fbmatos1943@gmail.com
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