Opinião
Adeus Mr. Crick
Morreu um dos pais da economia do séc. XXI mas os economistas, demasiado preocupados com os resultados semestrais, nem deram por isso. Tamanha indiferença não é sinal de ingratidão. É sinal de ignorância. Porque morreu o fundador do negócio de milhares de
... o pai da esperança de tratamento e cura das doenças de milhões de seres humanos, o homem que transformou a biologia numa tecnologia, um mistério num jogo de Lego, uma abstracção numa realidade.
Porque morreu Francis Crick, pai da dupla hélice e do segredo da vida, fundador da biologia molecular, descobridor da natureza do código genético, descobridor dos pares de letras AT e GC e da diferença entre dois genes.
O homem que, em toda a sua vida, apenas realizou uma experiência com as suas próprias mãos, demonstrou também que cada gene se escreve com palavras de três letras. E escreveu a primeira listagem dos aminoácidos. E determinou que a ordem pela qual se encadeiam os aminoácidos para estabelecer as distintas proteínas é definida pelos genes. E, em mais um passo genial, formulou a ideia da molécula-ferramenta, um adaptador que se conseguiria ligar, num extremo, a uma séria de três letras e, no outro extremo, a um aminoácido. Adaptador que rapidamente os bioquímicos detectaram.
É certo que Francis Crick não trabalhou sozinho nem para as descobertas genéticas nem ao longo do resto da sua vida. Ele não era biólogo mas físico-químico quando em 1953, do alto dos seus 36 anos, fez as descobertas fundamentais para a genética aplicada. Consigo estava James Watson, um jovem licenciado em biologia de 24 anos, que com ele partilhou um prémio Nobel.
Mas a questão é que se as Bolsas fossem ágoras do dinheiro e não apenas os seus templos, o sino do New York Stock Exchange teria tocado no dia 28 de Julho e um minuto de silêncio teria mostrado o respeito do capital por quem lhe proporciona novos lucros.