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Acreditar em Portugal

Acredito no Portugal decente e recto que certas tribos profissionais desprezam. A acção da IGAE sobre os taxistas do aeroporto era um imperativo nacional. Anos a fio, portugueses e estrangeiros foram ludibriados.

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Há muito, muito tempo que os portugueses não atravessavam uma crise material e existencial tão profunda. Nada nos corre bem - a economia em recessão, o investimento em queda, o défice orçamental descontrolado, a confiança de rastos, o governo desnorteado, a máquina pública desarticulada, a auto-estima doente. Temos de dar a volta a esta psicose maníaco-depressiva. Portugal ainda tem muito para dar aos portugueses e ao mundo. Se quisermos, podemos ter um país de progresso e bem-estar. Se soubermos agarrar o destino com as nossas próprias mãos, com ardor e rasgo, não desiludiremos as gerações futuras. Se revelarmos engenho para potenciar as nossas qualidades intrínsecas, obteremos benefícios certos. Assim haja governantes, empresários, gestores e trabalhadores capazes de interpretar este desafio colectivo. Tenho confiança nos portugueses e nas suas escolhas.

Acredito no Portugal desinibido, lúcido e personalizado que a nossa selecção de Esperanças revelou, na passada terça-feira, contra os imbatíveis gauleses. Não está ao alcance de todos (provavelmente de mais ninguém) dar a volta, em plena Gália, a um resultado adverso e roubar aos franceses o lugar na fase final que julgavam adquirido. Soube bem esta vitória, mas saberá certamente melhor conquistar o título europeu. Basta tirar partido das inúmeras qualidades da equipa e contrariar três dos mais perigosos defeitos nacionais - o deslumbramento, o individualismo e a falta de empenho sustentado.

Acredito no Portugal decente e recto que certas tribos profissionais desprezam. A acção da IGAE sobre os taxistas do aeroporto era um imperativo nacional. Anos a fio, portugueses e estrangeiros foram maltratados e ludibriados por esse grupo de “industriais” (na deliciosa terminologia do presidente da associação dos taxistas) da extorsão. Anos a fio, as autoridades policiais e administrativas mostraram-se ora impotentes ora indiferentes ao fenómeno-Portela e às múltiplas queixas dos consumidores. Foi preciso um grupo corajoso de “comandos” da IGAE (de quem nunca ninguém se lembra) para desmascarar e punir quatro dos tribalistas. Só podemos aplaudir e esperar que estas operações se repitam até ao extermínio final desse gang que deslustra, logo no primeiro contacto, a imagem de Lisboa e do País.

Acredito no Portugal sonhador e temerário que fará do Euro 2004 um exemplo de capacidade empreendedora e de competência industrial. Muitos criticam a ambição desmesurada do projecto e o exagero no número de novos estádios (sete, mais três remodelados). Incluo-me nesse grupo, embora esteja consciente de que o torneio dificilmente teria escapado à Espanha se a nossa candidatura tivesse apostado num número inferior de recintos. Outros, entre os quais muitos notáveis da nação, preferem desdenhar ou mesmo troçar do evento. Pouco importa.

Em Junho, provaremos ao mundo que os grandes desafios, como as grandes empreitadas, não nos assustam. Pelo contrário, estimulam-nos o engenho. Além de um tremendo impacto promocional e mediático, como nenhum outro acontecimento alguma vez realizado em terras portuguesas produziu, o Euro 2004 deixará marcas indeléveis. Os novos estádios são magníficos, modernos e funcionais, alguns deles são verdadeiras obras-primas de arquitectura e engenharia. Induzem qualidade, novos negócios e externalidades positivas. Os imensos sacrifícios a que os clubes e as autarquias envolvidas se sujeitaram para poderem financiar o grosso das despesas de investimento sairão recompensados pela oportunidade única de requalificação dos seus vetustos parques desportivos. Assim o Estado saiba honrar, em tempo útil, os compromissos estabelecidos no tocante às acessibilidades. Já é dificilmente aceitável que os recintos estejam prontos sem que as obras circundantes pareçam sequer avançar.

Acredito num Portugal renovado e menos “engravatado” (na imortal expressão de Vinicius de Moraes sobre os portugueses). É tempo de renovar as estruturas, as orgânicas e os dirigentes. Na economia, começa a emergir uma nova geração de empresários e de dirigentes associativos. Chegou a hora de os “jovens turcos” poderem demonstrar o seu valor e os seus valores, num compromisso moderno e vigoroso com o desenvolvimento económico e o progresso.

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