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09 de Outubro de 2003 às 11:51

A transparência não é uma questão de grau

Não é só a economia que é informal, é o Estado que é informal, como é evidente no caso Martins da Cruz.

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Boa notícia: Portugal está no grupo dos 25 países menos corruptos do mundo. Má notícia: Portugal é percebido como o terceiro mais corrupto da União Europeia, só à frente da Itália e da Grécia. Prémio de consolação: Os países do alargamento aparecem todos atrás de nós.

Estes dados constam do índice de percepção internacional de corrupção de 2003 da ONG Transparency International. O índice foi apresentado esta semana e classifica 133 países de zero a 10, sendo estes os mais transparentes. Os lugares cimeiros estão ocupados por nórdicos (Finlândia, Islândia, Dinamarca e Suécia), pela Nova Zelândia, Austrália e Singapura, todos com notas acima de nove. A análise tem por base inquéritos realizados por instituições independentes como World Economic Forum, Banco Mundial, Economist Inteligence Unit, entre outras.

Portugal está em 25º lugar, em terreno positivo (com 6,6), logo a seguir à França e a Espanha, significativamente à frente da Itália e Grécia, e sem evolução de realce em relação ao ano anterior.

A título de curiosidade, é interessante registar que deixamos lastro como colonizadores. Angola está no grupo dos piores, com nota abaixo de 2, Moçambique um pouco melhor na segunda metade da tabela (2,7) e o Brasil em 54º lugar, com nota negativa.

Valendo estes instrumentos o que valem, é claro que o país não consegue descolar da imagem de uma sociedade onde os assuntos se resolvem por vias travessas, bem integrados no estilo desleixado do “Club Med”. Não é só a economia que é informal, é o Estado (ou as pessoas que o integram, que não é exactamente a mesma coisa, mas vai dar lá perto) que é informal.

Mais um“sinal de alarme” nesta época da caça aos ministros. O caso de Martins da Cruz e Pedro Lynce não é de corrupção económica. Mas está no topo da prática generalizada da “cunha”, cujo vício de forma sustenta todo o tipo de práticas irregulares com diferentes graus de gravidade. Este episódio fez cair dois ministros, porque, e muito bem, o exemplo tem de vir de cima. Mas muitos dos que criticam o comportamento de Martins da Cruz já tentaram recorrer a expedientes, evidentemente à sua escala, para resolver problemas.

Quando não há poder nem amigos, fala o dinheiro. Só que a transparência não é uma questão de grau: ou há ou não há. E se o exemplo tem de vir de cima, a mudança tem de começar por baixo.

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