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20 de Dezembro de 2004 às 14:04

A tarefa de Mexia

Mexia sabe o que está a fazer e parece fazê-lo com todo o gosto. Mostra-se convicto e animado. Parece até distraído dos combates politiqueiros, enfrentando-os como a uma questão de tráfego.

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Andam os ministros muito sossegados, porque a hora é da política pura e dura, e António Mexia continua a aparecer muito activo, dando conta de muitas matérias, muitas inaugurações, e permitindo-se continuar a lançar ideias.

Uma das quais é a linha de metro com pneus, de Campo de Ourique a Sta. Apolónia, para cobrir, por baixo, parte do caminho dos antigos eléctricos. Com esta ideia, simultaneamente boa e má, Mexia encarna o perfil clássico de ministro iluminado das Obras Públicas de um Estado centralizado, onde o poder dos burgos ainda não emergiu mas...

Mexia sabe o que está a fazer e parece fazê-lo com todo o gosto. Mostra-se convicto e animado. Parece até distraído dos combates politiqueiros, enfrentando-os como a uma questão de tráfego.

E, se repararmos bem, várias vezes ficamos a ouvi-lo mais como gestor e não tanto como ministro. Por exemplo, quando ele diz que as portagens nas Scut são indispensáveis para a sustentabilidade do Plano Rodoviário Nacional.

Dá pois ideia que António Mexia é diferente. Intrinsecamente qualquer coisa que não se sabe bem o quê. No limite, pode ser que seja apenas um «project-finance man». Mas entretanto, ele é o engenheiro do programa eleitoral de Santana Lopes.

Um engenheiro que conhece a macro e a micro economias de trás para a frente, que sabe toda a teoria do comércio internacional e esteve na sala de parto da Autoeuropa, que sabe de mercados de capitais, de energia e de gestão.

Mas não só. Mexia esteve na génese do Compromisso Portugal, cuja visão gerou um auditório dos mais exigentes e um programa concreto de reformas para o país.

E Mexia também esteve na Galp onde, ao que parece, a sua visão de criação de valor para o accionista não encantou Carlos Tavares. Porém é certo que, tendo chegado o seu momento, Mexia entrou no Governo enquanto Tavares saía.

E logo deu um ar do seu estilo quando, em três tempos, secou a poderosa intriga que medrava na TAP. Apesar disso, muitos continuam sem compreender como entrou na esfera de gravidade de Santana Lopes e, sobretudo, como é que ao fim destes meses nela permanece, visivelmente reforçado.

Como é possível que um homem tão capacitado se envolva numa confusão tão grande? Como é possível que empreste a sua credibilidade e competência ao que aparentemente não tem futuro?

Como é possível que não tenha visto o que quase todos viram? Tudo o que sabemos é que o programa eleitoral do PSD irá, por certo, unir o politicamente correcto com o economicamente académico, os trinta e tal pontos do Compromisso Portugal com o dito optimismo inconsciente de Santana Lopes, uma combinação de sonhos com qualquer coisa de bom-senso.

E sabemos ainda que António Mexia parece ser a ponte de diálogo possível entre Santana Lopes e o mundo real das empresas, entre o ecrã das televisões e a empreitada que nos toca à porta, entre as sugestões vagas e as medidas concretas. Parece.

Eis portanto um homem intrinsecamente qualquer coisa que não se sabe ainda o quê.

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