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A sorte está nos "Grandes" números

O processo de recrutamento espera-se que seja dos mais afectados. Em certas empresas em vez de confiar nas médias, na licenciatura e na faculdade, os candidatos são analisados pela forma como resolvem certas tarefas e jogos e o seu comportamento na "internet" e redes sociais

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A análise estatística de grande quantidade de informação facilitada pelas novas tecnologias, já permite prever muito do futuro.

Recentemente ao visitar a "startup" de "ecommerce" de uma amiga em Lisboa, deparei-me com um facto interessante. Junto com os tradicionais "designers", programadores, "marketeers", etc., ela tinha contratado um matemático para a equipa inicial. Numa empresa em que os recursos são limitados, quem é que se lembra de contratar um matemático? Quando me mostrou mais em detalhe o trabalho que estava a desenvolver, ficou claro o valor de ter alguém com uma formação em estatística, pois conseguiam perceber com grande precisão onde e quanto podem investir em marketing para ter o melhor retorno do investimento em publicidade.

A minha amiga é mais uma na recente tendência de "big data" que existe a nível mundial. Livros como Freakonomics ou os vários do autor Malcolm Gladwell vieram popularizar as análises e as correlações estatísticas. Análises tão controversas como a correlação da queda do crime em Nova Iorque com a legalização do aborto, vinte anos antes, passaram a fazer parte das conversas de café.

Mas o que é "big data"? É a capacidade de analisar grande quantidade de informação estatística e correlacioná-la, o que só agora é possível devido às novas tecnologias. A quantidade de informação recolhida aumenta diariamente, os dados recolhidos pelo seu telemóvel, cartão de crédito, carro, etc. podem agora ser relacionados para prever o seu comportamento futuro. E as empresas cada vez mais começam a utilizar estas ferramentas no seu dia-a-dia. A Amazon anunciou na semana passada estar a desenvolver um sistema em que prevê as compras dos seus clientes antes de as fazerem, possibilitando o envio do produto para o centro de distribuição mais perto da casa. Se, por exemplo, estiver para sair a nova temporada do "Game of Thrones" em DVD, e havendo uma probabilidade de determinada pessoa a querer comprar, a Amazon poderá enviá-la antecipadamente. Já reparou como no "Facebook" a publicidade que aparece cada vez mais tem a ver com temas que lhe interessam? Não, não é coincidência.

O processo de recrutamento espera-se que seja dos mais afectados. Em certas empresas em vez de confiar nas médias, na licenciatura e na faculdade, os candidatos são analisados pela forma como resolvem certas tarefas e jogos e o seu comportamento na "internet" e redes sociais. Num caso interessante foi identificada uma relação entre ser bom programador e seguir um "site" de "internet" de banda desenhada Japonesa.

Mas se pensamos que o futuro depende cada vez mais das máquinas, o que está a merecer especial atenção é a apreciação de características que não são avaliadas pelas máquinas. O caso do basebol nos Estados Unidos (documentado no filme Money Ball com Brad Pitt) é um exemplo. Quando todas as equipas começam a utilizar estatística para escolher os jogadores, o factor diferencial volta a ser, outra vez, humano e o "feeling" dos treinadores.

A questão ética e da privacidade são muito relevantes no "big data". Não vamos ter mais casos de discriminação? Sim, é verdade que podem acontecer, mas eles já acontecem nos dias de hoje. Apesar de muitas pessoas dizerem não ter preconceitos, quantas conseguem realmente tomar decisões independentes da raça, religião, orientação sexual, ou mesmo da universidade onde estudou, ou clube de futebol favorito? Ao mesmo tempo podem também romper-se alguns estereótipos. Gladwell no seu livro mais recente fala de vários casos de grande sucesso profissional de pessoas que à partida estariam "limitadas" por dislexia. Quem sabe, não se encontram correlações de todas estas análises que permitam eliminar preconceitos actuais e identificar as chamadas "limitações" como factores críticos de sucesso em certas profissões.

No "ecommerce", com a quantidade de dados recolhidos, este tipo de análise é cada vez mais acessível e cada vez mais é também difícil ser competitivo no sector sem as ter em conta.

Se ainda não contratou o matemático para a sua empresa... se calhar é hora de fazê-lo.

Partner litsebusiness.com e professor de e-commerce e marketing digital na Nova SBE
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