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A régua de ouro

O grande drama de Obélix é que tendo bebido a poção mágica quando era criança nunca mais poderia voltar a ingeri-la.

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O grande drama de Obélix é que tendo bebido a poção mágica quando era criança nunca mais poderia voltar a ingeri-la. A regra de ouro é algo parecido: no dia em que se ingerir, só haverá duas formas de a largar, ou pela cicuta ou pela força.

Em Portugal julga-se que a regra de ouro terá tanta força como outras normas constitucionais: será um disfarce que ninguém tem intenções de aplicar. Talvez por isso Passos Coelho venha proclamar aos contribuintes que a regra de ouro não é de direita nem de esquerda. É verdade: a regra de ouro não é moral nem imoral: é amoral. A regra de ouro é uma régua de ouro. Por isso ninguém a pode reclamar de forma séria. É uma forma de expiação da culpa por parte de quem passa a vida a pecar na política. Mas isso, claro, resolve-se com o populismo. O que Passos Coelho vem dizer, a dizer que a regra de ouro não tem alma, nem ideias, nem dúvidas, nem filosofia, é que algo em que acreditamos porque não existe. Mas isso implica outra coisa.

Ao aceitá-la sem discussão, mostra-se onde chegou esta Europa: a desvalorização das ideias reduziu o indivíduo e a sociedade à sua dimensão económica. E traduz a derrota da democracia: aceitamos uma ideia sem a discutir. Não é grave: se em Portugal não se discute o futuro da Europa ou do euro porquê discutir a grilheta da regra de ouro? Neste momento a discussão política é um enorme vácuo. O Governo não dialoga e o PS dialoga consigo próprio. É por isso que é indiferente a regra de ouro ser de direita, de esquerda ou ser uma trituradora ou uma ceifeira debulhadora. Para quê discutir algo que condiciona o nosso futuro? Afinal, para quê ter ideias em Portugal?

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