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A poesia e a prosa

François Mitterrand dizia que a maior qualidade que um político deveria possuir era "indiferença". É essa falta de sentimentos que anima hoje a nossa classe política. Mas não se sabe se será pelas melhores razões.

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François Mitterrand dizia que a maior qualidade que um político deveria possuir era "indiferença". É essa falta de sentimentos que anima hoje a nossa classe política. Mas não se sabe se será pelas melhores razões. O resultado final da CPI ao negócio PT/TVI é uma tristeza sem salvação. É um acordo retórico que alivia todas as consciências. Até aquelas que sabem que houve uma estratégia para controlar a comunicação social no âmbito de operação de gulodice maior: dominar o Estado e parte do sector financeiro nacional. Isto é dominar o pulmão, o coração e o músculo deste País. Hoje é proibido sofrer, e por isso é que este relatório final é uma espécie de Prozac libertador. Quem teve a ideia e definiu a estratégia ficará sempre na sombra, como nas grandes teorias conspirativas. Mesmo no teatro do absurdo podíamos hesitar entre o "sim" e o "não". O País optou, como gosta de fazer, pelo "nim". Portugal está a tornar-se um país indiferente. Encolhe os ombros a tudo: ao BPP, ao BPN, à PT/TVI, aos submarinos. O País está como João Rendeiro: está na África do Sul enquanto Queiroz lá se mantiver. O problema é que estamos a perder tempo. E tempo não é só dinheiro: é futuro. Portugal vive indiferente ao futuro porque acredita no destino. E a classe política também. O Governo está em coma, mas Sócrates acredita que sairá dela. O PSD e Cavaco esperam, pacientemente, o momento certo para lhe dar o golpe fatal. Neste jogo de olhares de pistoleiros que esperam o momento certo de disparar, o País foge. Foge debaixo dos nossos pés. A poesia da política não existe. E a prosa da governação também não.
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