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A idade de ouro do Benfica

Nos últimos anos o Benfica balança, quase sempre, entre a nostalgia e o destino.

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Compreende-se o problema: ganhar deixou de ser um hábito natural na Luz. Em cada época os adeptos sonham com a glória perdida, seja a dos anos de 1960, seja a dos senhores Mortimore, Hagan ou Eriksson. Deixou mesmo de dar espectáculo, com aquele futebol de ataque que atordoava quem ousasse desafiá-lo. No ano passado, por momentos, julgou-se que a maldição terminara: o Benfica foi campeão, pela terceira vez em duas décadas. O que não é um orgulho: é uma humilhação. Era também o resultado do sonho sucessivamente prometido, e sempre adiado, da gestão do sr. Luís Filipe Vieira. Mas este ano o Benfica voltou a chocar com a realidade. Começou a época a perder a Liga, afundou-se na Taça de Portugal e, sobretudo, teve uma postura pedinte na Liga dos Campeões e na Liga Europa. No último jogo contra o Braga arrastou-se em campo, sem ideias e sem estofo físico. Para se ser campeão de alguma coisa, como acreditava o sr. Jesus no início da época, é preciso mais alguma coisa.

A entrevista do sr. Vieira à Benfica TV foi um regresso minorado à realidade porque, no meio de algumas análises correctas, o presidente encarnado driblou algumas questões pertinentes. Duas delas têm essencialmente a ver com a gestão do clube que, ao contrário do que deixa entender o sr. Vieira (que diz agora ir delegar muito menos, como se alguma vez o sr. Rui Costa tivesse algum peso efectivo na gestão do futebol), tem sido sofrível. Os múltiplos milhões de euros gastos em reforços deixaram o Benfica refém do ritmo e das lesões em três postos determinantes: quando os srs. Maxi Pereira, Gaitán e Sálvio esgotaram o fôlego o Benfica pareceu uma equipa asfixiada, apenas disfarçada pelo fulgor do sr. Coentrão, pela sobriedade do sr. Luisão e pelo génio do sr. Aimar. A tonelada de contratações já feitas, e a fazer, mostra que o erro persiste. Deveria haver uma lógica de contratações para lugares específicos e não por simpatia.

Há outra questão que tem a ver com a gestão. Sabe-se que hoje o futebol é um mundo complicado onde se cruzam velhos valores e um mercado sem fadiga. Não há equipas estanques e estáveis. É difícil falar de nacionalidades e escolas de formação (para já não falar do célebre "amor à camisola"). No Benfica não conseguem despontar jogadores das camadas jovens. Pergunta-se: como é que um jogador como o sr. David Simão, que está no Paços de Ferreira, não está na Luz? Será que o sr. Roderick terá alguma vez uma oportunidade a sério? Têm sido demasiados erros de gestão e comunicacionais (onde nem falta um sr. Jesus que deveria ter aulas de diálogo até se quer experimentar outros mercados). Será que agora o Benfica e o sr. Vieira aprenderam? O Benfica é tão grande que lhe permite sobreviver nas suas inúmeras contradições. Faltam-lhe títulos e, sobretudo, falta-lhe uma nova idade de ouro.
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