Opinião
A culpa de quem os fez
O João, o Nuno e o Zé são os meus ídolos! Assim mesmo. Sem meias tintas ou hesitações. Pela integridade humana, a vertigem de se acrescentarem diariamente, fascinando-se e aprendendo com outros brilhos e olhares.
O João, o Nuno e o Zé são os meus ídolos! Assim mesmo. Sem meias tintas ou hesitações. Pela integridade humana, a vertigem de se acrescentarem diariamente, fascinando-se e aprendendo com outros brilhos e olhares.
O somar do saber tem-los tornado cada vez mais conscientes da nossa esmagadora ignorância individual, e, por isso mesmo, cientes de pouco ou nada valermos em ilhas de vaidade umbiguista.
Deslumbra-me a força interior com que atravessam os ventos, cada vez mais dominantes, da ignorante-arrogância, dos que crêem já ter nascido ensinados ou disso fazem verbo existencial, na sua inevitável mediocridade.
São adultos eternamente meninos, pela nobreza de alma e de valores, o rigor de princípios, a noção de que o Estado somos cada um de nós, e que o esfaquear daquele, é o trair do futuro dos nossos filhos.
Às vezes, confesso, apetece-me sentar-me no banco da vida, desistir de remar contra ventos e marés, num Mundo onde prolifera a aparência, a vacuidade e a ausência de valores. Depois, olho o João, o Nuno e o Zé, e ergo-me de novo, envergonhado do meu cansaço.
Vejo-lhes os filhos e, através deles, a esperança multiplicada num Mundo melhor, mais solidário, menos devorador, menos autista. Onde cada ser humano deixe de ser um casulo de solidão e se atreva a estender a mão, como o fazia em menino. Porque esse é, ou deveria ser, o único sentido da vida.
Leio os jornais e as revistas, "devoro" rádios e televisões e do pouco que sei, só descubro imprecisões, erros de palmatória, e dou comigo a imaginar, se aquilo se passa sobre o que sei, o que será que consumo diariamente, de boa-fé, igualmente prenhe de distorções?
Sobre a mesa do estúdio, leio um título de primeira página da edição de domingo de um jornal desportivo (não interessa qual); "Vamos lá Portugal - Deco certo no Onze"! ... alguém o viu em campo contra Angola?
A folhear outro matutino, generalista, assombro-me literalmente com o delírio de que a poetisa Noémia de Sousa teria estado no funeral do cantor Raul Indipwo. A minha querida mestre moçambicana, de quem a lei da morte nos privou há uns anitos.
Deve ser do meu mau feitio. Assim me dizem. Nunca tive paciência para a incompetência, o encolher dos ombros perante a mediocridade, desde que varrível debaixo da porta. Desde que as chatices decorrentes da calinada fossem inferiores às dores de cabeça a corrigi-la.
É por isso que o João, o Nuno e o Zé são os meus ídolos, porque nunca me deixaram ou vão deixar acomodar, na típica reacção corporativa, onde se confunde a crítica construtiva e fundamentada, com o ataque pessoal e/ou o insulto à classe.
Mesmo que a isso fosse tentado. Porque o não sou. Confesso que sou daqueles jornalistas que assim me o tornei por acreditar no valor da palavra dita e escrita e na responsabilidade assim duplamente imputada, a quem nela ganha palanque;
A de servir quem a recebe e de levar ao limite da sua inspiração e transpiração, a busca do rigor. Porque a verdade só trai quem a viola.
É por isso que o João, o Nuno e o Zé são os meus ídolos, porque lhes conheço a bondade de alma, o carinho existencial e, acima de tudo, o facto de serem apenas e isso tudo, seres HUMANOS.
Por nos fazerem a todos acreditar, pelo exemplo, que no jogo da vida está longe de valer tudo. Que - mesmo que seja esse o preço da integridade e da excelência humana - é preferível parar e respirar uns degraus mais abaixo, do que nos empoleirarmos em ombro alheio.
É por isso que o João, o Nuno e o Zé são os meus ídolos.
E a culpa, é de quem assim os fez.