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A Crise

É verdade que, como a Alemanha, os americanos andam a financiar-se a 0%. Mas sem exportações não há crescimento sustentado. E o fim caótico do euro nos próximos meses seria o óbito político de Obama, ele que é adorado pelos europeus. Ironias da vida.

(1) A crise do euro já não é realmente uma crise; tornou-se no estado natural da zona euro, um coma sem fim, mas com muito sofrimento. A voragem dos mercados não acalmará enquanto apostar contra o euro compensa quem tem dinheiro para emprestar. Quem tem dinheiro e quer ganhar ainda mais dinheiro não vai ajudar as economias endividadas por amor à literatura ou à história. Infelizmente, por muito que digam alguns gurus, os mercados são racionais e o que nos dizem é que certas economias não são credíveis para quem tem dinheiro e quer ganhar mais. Por isso, a zona euro começa a ser um cemitério económico. Por um lado já temos os caídos, com um futuro de empobrecimento inevitável, como Portugal e a Grécia. Temos depois os que vão cair em breve, a Espanha e a Itália. E veremos quanto tempo levará a França longe da ribalta, um país onde o Presidente cessante não fez as reformas necessárias e o novo Presidente pretende gastar o que não tem.

O futuro do euro (e da União Europeia) depende da Alemanha (e os seus aliados). Eles têm o dinheiro para inverter a mensagem dos credores. Outros podem falar de políticas de crescimento, austeridade estúpida, "eurobonds", plano Marshall ou "New Deal" para a Europa. Mas quem decide é quem paga. E quem paga é a Alemanha. Tudo o resto é retórica de quem não tem dinheiro para decidir seja o que for.

A Alemanha tem de decidir. É uma ilusão pensar que pode prolongar a actual situação de incerteza para financiar a sua dívida a 0% e as suas exportações para a China. Ou paga para salvar a zona euro, ou não paga. E, não querendo pagar, a única alternativa viável é uma saída ordenada da zona euro por parte da Alemanha. Com enormes custos a dividir por todos. Tanto Merkel como a oposição preferem esperar pelas eleições gerais da Primavera para optar. Percebe-se. Salvar o euro é impopular com uma vasta maioria do eleitorado (que terão de financiar 2 ou 3 biliões de euros nos próximos dois ou três anos). Voltar ao marco é complicado para as elites financeiras, bancárias, empresariais e mesmo políticas (pois a União Europeia não sobreviverá ao fim do euro). Assim sendo, infelizmente, de Julho de 2012 à Primavera de 2013 seguiremos com a estratégia de anunciar muita coisa e fazer bem pouco. E se assim continuarmos durante os próximos seis meses, tanto a opção de salvar o euro como a opção de uma saída ordenada e negociada serão mais custosas. Todos perdem. Mas em democracia as coisas são assim.

(2) Diziam uns senhores muito sapientes que a crise do euro era planeada pelos americanos para salvar a economia deles. Nunca se percebeu muito bem como é que um euro fraco e um dólar forte ajudavam a economia deles (pois, como seria de esperar, o dólar forte acabou com as exportações e aumentou as importações). Agora, claro está, as autoridades americanas querem que a Alemanha salve o euro. Porque a crise do euro é um problema também para eles. É verdade que, como a Alemanha, os americanos andam a financiar-se a 0%. Mas sem exportações não há crescimento sustentado. E o fim caótico do euro nos próximos meses seria o óbito político de Obama, ele que é adorado pelos europeus. Ironias da vida.

Professor de Direito da University of Illinois
nuno.garoupa@gmail.com

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