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Opinião
15 de Julho de 2011 às 12:49

A conspiração dos teóricos

(Onde o autor, assarapantado com as teorias da conspiração contra o País, o euro, a União Europeia e a própria Federação Portuguesa de Futebol, suscitadas pela última notação da Moody"s, avança com a hipótese de haver uma urdidura, sim, mas de comentadores, votados a promover a paranóia entre a população e a aumentar as receitas das multinacionais farmacêuticas).

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Pessoalmente, adoro teorias da conspiração e mal seria que não fosse assim tratando-se de um cinéfilo militante que já viu das mais delirantes para a imaginação e até, às vezes, sem violentar o bom senso mínimo exigido.

Ele há-as de todos os tipos, desde sempre, e agora até reparo que bem jovem me vi exposto a elas, então numa versão maligna de antisemitismo, quando me passaram para as mãos, em papel de sebenta, "Os protocolos dos Sábios do Sião", em vez do ansiado "As diabruras do Zequinha", em idêntico papel.

Esse famoso documento apócrifo, como tal declarado por tribunal britânico, revela o alegado plano sionista para dominar o mundo e consequentemente serviu de fundamento para muita perseguição até a do nazismo. As denúncias como se vê podem ser bem menos inócuas do que as que se têm visto por aí em avalanche, criando elas próprias, parece, uma conspiração de anticonspiradores.

Para as ditas teorias, o meu ponto de apreciação divertida atinge o ponto máximo quando desafiam o simples senso comum e mesmo assim afectam elevadíssimo número de crédulos, tantas vezes independentemente de inteligência e cultura. Aquela famosa do 11 de Setembro, sustentando que o governo americano congeminou o atentado das torres gémeas, é um notável caso, pois independentemente de qualquer malevolência que se atribua aos gringos, a coisa deparava com o problema menor da montagem despercebida dos mecanismos de implosão, uma tarefa para meses de trabalho, pelo que acreditar em tal balela exigia ter o cérebro feito em serrim.

Longe da minha cabeça a pureza geral , num mundo inefável e livre de malévolos conspiradores e conspirações, umas sempre indetectáveis, outras que a luz da verdade denuncia, às vezes até por coisas mínimas.

Lembro-me da teia chocante criada pelas companhias de tabaco, certificando a inocuidade do fumo para a saúde, quando se provou, em julgamento que deu origem à maior indemnização da história americana, que o cigarro é tão só "um veículo de introdução de nicotina no corpo" e que os prevaricadores estavam conscientes do facto. Mas o cepticismo é uma virtude de preceito ou não estivesse até no âmago do espírito científico e, por isso, este modesto autor faz disso uma causa sua que trata como virtude.

Se aqui quisesse fazer filosofia de trazer por casa sobre conspiração, diria que implica interesses vigentes, interessados, agentes manipuladores, racionalidade na acção em vista do objectivo, ocultação e concertação. E sendo isto assim, há pés ou cabeça em dizer como tantos disseram, em delírio analítico, que os fdap da Moody's , na sua notação sobre a dívida da república, estavam apenas a servir inconfessáveis interesses destinados a "defender a força do dólar contra o euro" e até "a visar a destruição da União Europeia", por estas palavras ou outras semelhantes? Realmente!....

Qualquer arguente minimamente hábil desfiaria, querendo, inflacionadas quantidades de argumentos que até poderiam por referir desde o início que o único capital sério que a Moody's pode pretender possuir é a credibilidade e que os hara-kiri são para o mundo da honra, não para o dos negócios. Mas para uma crónica ligeira, basta lembrar que o interesse americano quanto ao dólar está em mantê-lo fraco, desiderato que a administração quase despudoradamente promove, ou não estivesse com a balança de transacções em frangalhos. Se quiséssemos encontrar culpados neste filme, era mais fácil encontrar chineses. Quanto a destruir a União Europeia - Deus me valha - pode-se asseverar sem receio que ninguém no mundo desejaria tal vendaval de instabilidade e que para atingir tal objectivo bem bastam os europeus. Advogado, autor de " Ganhar em Bolsa" (ed. D. Quixote), "Bolsa para Iniciados" e "Crónicas Politicamente Incorrectas" (ed. Presença). fbmatos1943@gmail.comAssina esta coluna semanalmente à sexta-feira
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