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09 de Março de 2004 às 13:54

A autopsicografia de Cavaco

O “suspense” estava criado. O evento estava na agenda política. Os jornalistas estavam lá todos. Os comentadores haviam treinados a capacidade profética. Cavaco conseguira, mais uma vez ...

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O “suspense” estava criado. O evento estava na agenda política. Os jornalistas estavam lá todos. Os comentadores haviam treinados a capacidade profética. Cavaco conseguira, mais uma vez, gerir as expectativas públicas e nem precisou do efeito tabu, que ainda ensaiou, em torno do eventual anúncio de candidatura a Belém.

Não, ontem não foi esse o engodo que levou tanta gente a estar atenta à apresentação do segundo volume da autobiografia política de Cavaco. Esta Parte 2 volta a desiludir quem, como na Parte 1, esperava saber segredos insondáveis da alta e da baixa políticas portuguesas.

Mas o “frisson” repetiu-se, provando a habilidade do professor em, silenciosamente, colocar-se nas aberturas dos telejornais e consolidar a imagem que pretende. Sob os holofotes do poder, Cavaco contou muitas infelicidades na relação com os jornalistas.

Mas na protecção da não-carreira partidária, é líder na criação de factos. Afinal, Cavaco sempre foi um líder do povo, competente e avaro, mas que resiste pouco à auto-imagem projectada – a célebre imagem do trepador de coqueiros é de fazer inveja a qualquer W. Bush de peru plastificado na mão.

O lançamento de ontem serviu para várias coisas. Primeiro, para destilar veneno sobre dois alvos: Mário Soares, o “inimigo de estimação”, acusado de falta de isenção para actuar como contrapoder; Pedro Santana Lopes, o ex-”enfant terrible”, chamado indirectamente de deselegante por antecipar o tema das presidenciais.

Segundo, para revermos os traços estruturais de um político disfarçado de economista. Exemplo é o da revelação da técnica muito própria de Cavaco nos processos de remodelação governamental: uma folhinha rascunhada com nomes, tipo lista caseira e não partilhada de méritos e deméritos de governantes e candidatos a ministros.

Já nos tínhamos esquecido deste orgulho em decidir em costas de envelopes. É disto que o meu povo gosta.

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