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Opinião
01 de Julho de 2011 às 12:06

A esquina do Rio

Um programa do Governo é uma declaração de intenções.

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Programa
Um Programa do Governo é uma declaração de intenções. O programa apresentado esta semana é uma declaração bem intencionada. Como qualquer programa bem intencionado, o que interessa é ver como as coisas se passarão, nomeadamente em áreas como a justiça, a saúde, a educação e a solidariedade social. A vontade reformista dos dois partidos da coligação é grande e isso, além de bom, é necessário. O facto deste ser um programa de uma coligação é também, como agora já se pode ver claramente, um avanço em relação ao programa isolado de qualquer dos dois partidos do Governo.

Por isto mesmo é que as coligações são importantes, e bem melhores que um governo de maioria absoluta de partido único. O facto de ser um programa negociado entre parceiros de coligação permitiu introduzir algum realismo e pragmatismo, sem tirar clareza de objectivos e sem deixar de definir metas concretas. Mas, sobretudo, evidenciou que um programa do Governo não pode ser entendido como uma cartilha imutável, como uma declaração dogmática de uma qualquer fé.

Um Programa de Governo, fundamentalmente, não pode ser encarado como um "business plan" de uma empresa - porque aqui os resultados não são só medidos do ponto de vista dos resultados quantitativos, mas também, e fundamentalmente, dos resultados qualitativos alcançados na vida das pessoas e no País. Mobilizar os portugueses para os maus momentos que aí vêm passa por demonstrar que as medidas duras se destinam a criar condições para podermos, daqui a uns anos, voltar a estar de cabeça erguida e com menos dificuldades. A importância da política de comunicação, verdadeira e constante, nestes tempos difíceis, é enorme. O mundo está cheio de exemplos de boas e más práticas em circunstâncias destas. Esperemos que por aqui o Governo saiba separar o trigo do joio e escolha as boas práticas, sem sorrisos de conveniência, nem mentiras, nem desfasamento da realidade. Disso, já estamos todos fartos.


Ver
A ideia é engraçadíssima - dar a um conjunto de fotógrafos uma consola de jogos portátil, com capacidade de fazer fotografias a três dimensões e desafiá-los a usarem o brinquedo para mostrarem como é o mundo visto por eles sem ser através de uma máquina fotográfica normal. A ideia foi da Nintendo, que desafiou cinco fotógrafos profissionais a trocarem as suas máquinas habituais por uma consola Nintendo 3DS. O resultado dos trabalhos feitos por Mário Príncipe (Moda), António Luís Campos (Natureza), José Carlos Carvalho (Família), Rodrigo Cabrita (Fotojornalismo) e Miguel Barreira (Desporto), podem ser vistos até 10 de Julho no MUDE, na Rua Augusta 24. Em meros dez anos, a fotografia deixou de ser um resultado das máquinas fotográficas - que passaram de objectos independentes para funções incorporadas em outros aparelhos, como telemóveis e estas consolas de jogos. Fascinante.


Ouvir
Bill Evans gravou em 1961 o disco "Explorations", o seu segundo registo sob a designação Bill Evans Trio, que integrava o contrabaixista Scott LaFaro e o baterista Paul Motian - uma formação de uma qualidade superior. Evans tinha 32 anos e tinha ganho reputação como músico de estúdio (por exemplo em "Kind Of Blue", de Miles Davis) e dava os primeiros passos para se afirmar como o intérprete que em pouco tempo se afirmaria como um dos mais talentosos e criativos pianistas de jazz. No ano que antecedeu esta gravação, os três músicos trabalharam intensamente e estabeleceram a base do que seria uma nova forma de interagir em trio, abrindo o campo à improvisação individual, mas mantendo uma sólida base de grupo. La Faro e Motian, eles próprios também músicos geniais, compreendiam exactamente o que Bill Evans pretendia e este disco é um histórico registo de um momento de rara criatividade, em torno de originais de Irving Berlin, Miles Davis e Dizzie Gillespie, entre outros. Para além dos oito temas que constituíam o LP original, este CD inclui quatro temas extras, dois dos quais permaneciam inéditos até agora, tudo integralmente remasterizado digitalmente a partir das fitas originais. "Explorations", CD Original Jazz Classics Remasters, da Riverside/Universal.


Audiovisual
O Programa do XIX Governo consagra um capítulo de 275 palavras para a comunicação social e a principal novidade é que a privatização de um dos canais da RTP será feita "oportunamente e em modelo a definir face às condições de mercado", o que exclui, aparentemente, um cenário de privatização a curto prazo, que chegou a ser anunciado já para este ano. Para o assunto em causa, a dimensão é adequada e o abandono de ideias feitas é louvável. Mais adiante, no Programa de Governo da área da cultura, é feita uma referência à ligação do cinema ao serviço público e privado de televisão em Portugal. Mas ainda não foi desta que, em vez de se pensar apenas numa redutora política de cinema, se passou a falar de uma necessária política de audiovisual que integre as várias componentes que utilizam imagem em movimento e que são, no mundo contemporâneo, fundamentais para a preservação da cultura e da língua.


Arco da velha
O mundo está a mudar: em apenas quinze dias Marcelo Rebelo de Sousa falhou palpites políticos duas vezes seguidas: quando vaticinou como certa a eleição de Fernando Nobre para a presidência da Assembleia da República e quando deu como certo Bernardo Bairrão no cargo de Secretário de Estado da Administração Interna. Ficarei sempre na dúvida se foi uma falha ou uma ilusão de óptica.


Semanada
No Domingo Marcelo Rebelo de Sousa anunciou que Bernardo Bairrão seria secretário de Estado; na segunda-feira de manhã o indigitado anunciou a sua renúncia aos cargo de administrador na Media Capital para assumir um cargo no Governo; na segunda-feira à tarde o seu nome não aparecia na lista oficial dos novos secretários de Estado; na terça-feira o ministro Miguel Macedo confirmou que o tinha convidado e lamentou que ele não integrasse o elenco do executivo; começaram os rumores de que teria sido excluído por ser contrário à privatização da RTP; na terça-feira à tarde é conhecido o programa do Governo, que não aponta modelo nem datas para a dita privatização.


Ler
A edição britânica da revista "Wired" está a ficar mais interessante para os europeus que a sua congénere americana. Por um lado aborda temáticas que nos são mais próximas, por outro, mesmo a nível das informações sobre novas tendências ou produtos, tem claramente em conta o mercado europeu. A edição de Julho, que recomendo, tem vários pontos de interesse mas o maior de todos é um levantamento das características e métodos acção que fazem de Steve Jobs um dirigente excepcional. A "Wired" chama a este conjunto de artigos "The Steve Jobs MBA". Os seus autores vêm de diversas áreas, da filosofia à gestão, passando pelo design, a invenção ou o marketing e incluem nomes como Alain de Botton, Richard Seymour, Guy Kawasaki, Tim Wu e Leander Kahey, além de citações do próprio Jobs. São 37 observações que constituem os pontos fulcrais da forma de agir de Jobs ao longo de 12 páginas que incluem ainda um cronograma da evolução da Apple no mundo digital.


Provar
No género salgados ao balcão há uma pequena maravilha que é um ex-libris do Chiado e de Lisboa. Falo da pequena empada de vitela da Pastelaria Bénard, na Rua Garrett 104. Por apenas um euro e vinte podem avaliar se estou a exagerar. Não conheço outro salgadinho igual em qualidade e sabor como este. Quanto ao resto, sobre a Bénard, limito-me a reproduzir esta deliciosa história contada por Lourenço Viegas, que já escreveu neste jornal: "Tinha um amigo que fazia o seguinte número: telefonava a perguntar: 'não te está a apetecer ir comer um bife à Bénard?'. Era normalmente no Inverno e raramente recuso propostas. Quando lá chegávamos, eu pedia um bife e ele dizia que não queria nada, só uma água das pedras, por favor, mas que me fazia companhia. Ele gostava de ir à Bénard. Não de almoçar na Bénard. Era um sábio".



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