Opinião
Notas da semana de Marques Mendes
Nas notas da semana na SIC - e de que o Negócios publica os excertos - Marques Mendes diz que o PSD devia concentrar-se na mobilização para as autárquicas, em vez de guerras internas, e em ser oposição eficaz ao Governo "porque António Costa está a entrar no eleitorado do PSD".
Primeiro ponto: este não é só um problema português. É um problema europeu.
- Roménia (o mais grave) – 5 mil casos
- Itália (sério) – 1.500 casos
- França – 134 casos. 15 graves (pneumonias e encefalites)
- Portugal – 21 casos confirmados; 15 em investigação.
Por que é que temos um problema reduzido? Porque temos uma taxa de vacinação de 95% (aos 5 anos de idade).
Segundo ponto: porquê este surto? Por causa das bolsas dos não vacinados. É isso que permite a circulação do vírus. Se a população estiver totalmente vacinada, o risco de circulação do vírus e de contaminação não existe. É o que se chama "imunidade de grupo".
Terceiro ponto: é indispensável a vacinação. Para evitar a doença e reduzir a probabilidade de complicações. Está totalmente provado em termos científicos. Não é uma questão de opinião. É uma questão de ciência.
Dir-se-á: mas a vacinação tem efeitos secundários. Pode provocar outras doenças. Já se falou no autismo, por exemplo. Mas é preciso dizer: está provado em termos estatísticos que essas doenças não aumentaram com a introdução das vacinas. Logo, não há uma relação entre uma coisa e outra. Se houvesse relação causa/efeito, com milhões de vacinados, essas doenças aumentavam exponencialmente. E não aumentaram.
Finalmente: devíamos reflectir em 3 questões simples:
Primeiro: as vacinas são uma das grandes conquistas da humanidade. São as responsáveis pelo aumento da esperança de vida.
Segundo: há muitos países no mundo que aspiram por uma vacina. Nós que as temos não as podemos desprezar. Temos que dar valor àquilo que temos.
Terceiro: a liberdade de uns termina quando colide com os direitos dos outros. Não há liberdades absolutas.
Programa de Estabilidade
Ocorreu esta semana o debate parlamentar sobre o Programa de Estabilidade. Ninguém no país se apercebeu desse debate. Não teve história. E essa é a grande novidade deste debate.
Há um ano, o debate sobre o PE foi dos debates mais crispados do ano. Houve confronto a sério; dúvidas sobre a duração do Governo; dúvidas sobre a aprovação em Bruxelas.
Um ano depois, o debate foi um pró-forma. Só para cumprir calendário. Passou completamente ao lado do país. Os portugueses preocuparam-se com o sarampo, com as eleições em França, com o atentado em Paris, com o Sporting/Benfica. Tudo menos o Programa de Estabilidade.
Curioso é: por que é que isto sucede? Porque no espaço de um ano o país mudou muito.
Mudou economicamente. Há hoje perspectivas de crescimento que não havia há um ano.
Mudou socialmente. Há hoje um ambiente de distensão e alívio que não havia há um ano.
Mas, sobretudo, mudou muito politicamente:
Primeiro: este Programa de Estabilidade seria o PE do PSD/CDS se estes dois partidos estivessem no poder. António Costa recentrou-se. E retirou espaço de manobra e discurso à oposiçao. PCP e BE criticaram mais que Passos e Cristas.
Segundo: vive-se hoje uma atmosfera de estabilidade. Já ninguém acredita que o Governo possa cair ou que Bruxelas esteja contra o Governo. Mais ainda. Já todos acreditam que as eleições serão só em 2019.
Rating de Portugal vai subir?
- A DBRS manteve o rating de Portugal. Uma outra Agência de Notação – a Standard & Poors – veio sinalizar que Portugal está a ter melhorias. O que é que tudo isto significa.
Que mais lá para o final do ano o rating de Portugal tenderá a melhorar;
Para tal, vão contribuir três factores:
O Programa de Estabilidade – que agrada a Bruxelas, aos mercados e às agências de rating;
O crescimento da economia – e as previsões apontam para que Portugal cresça este ano cerca de 2% ou ligeiramente acima dos 2%;
E a saída de Portugal da "lista negra" dos défices excessivos – a decisão da Comissão será em Maio; confirmada a seguir no Eurogrupo; e sancionada no Conselho Europeu de Julho.
- A capitalização da Caixa conta para o défice? E aqui chegados há uma novidade importante a ter em atenção:
Ao que apurei, Bruxelas prepara-se para considerar que a injecção de capital na CGD não conta para o défice. Boa notícia.
As próprias autoridades estatísticas nacionais já concordaram com esta interpretação.
Porquê? Primeiro, porque a capitalização da Caixa não foi considerada por Bruxelas como ajuda do Estado; depois, porque a UE já anteriormente tinha considerado que a capitalização dos bancos ficaria de fora do défice.
A partir de tudo isto, quais as vantagens concretas de tudo isto? Duas vantagens, sobretudo:
A melhoria do rating será um bom sinal para os investidores. Um sinal no sentido de incentivar o investimento em Portugal.
A saída do Procedimento de Défice Excessivo vai fazer baixar os juros da dívida. E podem baixar em 1 ponto percentual. Foi por exemplo o que sucedeu em Chipre, em 2015, quando saiu do PDE.
A luta pela liderança do PSD
Voltaram as guerras interna no PSD. Demissão do Presidente da Concelhia de Lisboa; almoço de apoio a Luís Montenegro; Relvas a defender primárias no PSD.
Não há em tudo isto grande novidade. Sempre que o PSD está na oposição há ruído e guerras internas. Por maioria de razão agora, quando as coisas não correm bem.
A novidade é a ideia de primárias para eleger o líder do partido. A ideia em si até pode ter algumas virtualidades, embora também tenha vários defeitos. Mas considerar que esta questão deve ser uma prioridade do PSD, a seguir às eleições autárquicas, não faz sentido.
Não faz sentido porque seria virar o PSD para dentro. Significaria o Governo a tratar do país e o PSD a discutir guerras de aparelho. António Costa esfregava as mãos de contente.
Não faz sentido porque, em vez de haver um Congresso para discutir política, tínhamos um Congresso a discutir estatutos. Podia interessar ao aparelho mas não interessava aos portgueses.
O grande objectivo do PSD, a seguir às autárquicas, deve ser o de fazer uma clarificação política: quem é o líder que vai às eleições de 2019? Qual a sua estratégia? Qual o seu programa alternativo ao do PS? E a este respeito há três questões a colocar:
Primeira: Passos Coelho, a seguir às autárquicas, demite-se ou recandidata-se? E a minha resposta é: ele não se demite. Vai recandidatar-se. Qualquer que seja o resultado autárquico.
Segunda: no Congresso do início de 2018 vai ter adversário ou não? Palpita-se que sim. Que vai ter adversário. E que esse adversário será Rui Rio. Só pode ser alguém que não pertença à direcção de Passos Coelho. E, a suceder, será uma disputa mais renhida do que se imagina.
Terceira: e Luís Montenegro? Acho que pode um dia ser candidato a líder, mas não a curto prazo. Só daqui a três, quatro ou cinco anos. Se ele é uma espécie de nº 2 de Passos Coelho não pode ser candidato contra Passos Coelho.
Para já – ainda falta um ano – o PSD devia concentrar-se em duas coisas:
Mobilização para as autárquicas, em vez de guerras internas;
Ser oposição eficaz ao Governo, porque António Costa está a entrar no eleitorado do PSD.
Domingues vs Centeno
No próximo dia 28 volta a polémica dos sms da Caixa, com a audição de António Dominges na nova Comissão de Inquérito. O depoimento de António Domingues é o momento-chave. O momento da clarificação. Quem falou verdade? António Domingues ou Mário Centeno? Este é o momento do tira-teimas.
E para isso há, pelo menos, três perguntas sacramentais a fazer a António Domingues:
Primeira: teve garantias do MF de que não seria obrigado a apresentar declarações ao TC?
Segunda: essas garantias foram-lhe dadas verbalmente ou por escrito?
Terceira: e, se foram escritas, por que via? Por carta, por email, por sms?
Aqui chegados, só há uma de duas conclusões a tirar desta novela:
Ou sai bem António Domingues e sai mal Mário Centeno; ou sai bem Mário Centeno e sai mal António Domingues. Não é possível meio termo. Falta saber quem fala verdade.
Ou António Domingues confirma e prova que tinha um compromisso de Mário Centeno para não apresentar ao TC as declarações de património e rendimento e sai bem deste filme; ou não é capaz de sustentar o que tem dito e insinuado e então o antigo Presidente da Caixa não fica bem nesta novela.
E é bom que tudo fique clarificado, para pôr fim a esta novela e passarmos à fase seguinte.
Notas finais
- Previsão – Crescimento económico do 1º trimestre – francamente bom e acima das expectativas. Só dois números:
Crescimento do investimento – cerca de 9%;
Receitas da Segurança Social – aumento de 5%.
- Cumprimento à APPICAP (Associação do Calçado)
Ao presidente cessante – Fortunato Frederico (sai, celebrando um acordo histórico para igualdade salarial entre homens e mulheres);
Ao novo presidente – Luís Onofre – pela sua eleição. Ele que é talvez o empresário português de calçado mais conhecido no mundo da moda.
- Lembrança – IRS solidário
Todos podem consignar 0,5% do seu IRS a uma instituição de carácter social;
Não perdem nada. Em vez de esse dinheiro ir para o Estado vai para uma IPSS. E as instituições precisam.
Basta dizê-lo ao preencherem a declaração de IRS.
Saudação à Associação Portuguesa de Imprensa
Vai homenagear este ano as 31 publicações centenárias que existem – 31 jornais com mais de 100 anos.
Açoriano Oriental – o mais antigo (182 anos)