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(125) - Linic, Volvo, Mazda, Ucal

O único anúncio que me arrancou uma gargalhada desde há muito tempo foi um do champô Linic que passa na televisão. Não, não é o do rapaz que guia um descapotável e o cão, que com ele vai sempre atrás, fica cheio de caspa. Esse tem pouca piada. É outro, é

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A multidão aproxima-se do palco para acompanhar o grupo de heavy metal, mas de cada vez que o cantor de longa cabeleira a faz andar à volta, como é vulgar entre os praticantes deste tipo de música, a multidão de fãs afasta-se momentaneamente do palco para não levar com uma nuvem de caspa em cima.

Ao contrário deste, a maior parte dos «anúncios engraçados» não dá vontade nenhuma de rir, nem mesmo de sorrir. Os anúncios ao «novo motor D5 de 185 CV» da Volvo usam uma única fotografia para fazer uma espécie de fotonovela em dois tempos, com as palavras de alguém ao lado do condutor em duas posições: uma ao fundo da estrada (»Atenção à...») e a outra próxima do observador (»... curva»).

A fotografia simula a velocidade do carro mostrando as ervas da borda da estrada e as jantes do Volvo como se fotografadas em movimento rápido. O artifício do anúncio é simples e chama a atenção: basta uma fotografia para sugerir duas e, através das poucas palavras ficcionadas dum suposto passageiro, conota-se velocidade e segurança. Por aí tudo bem. Mas falta-lhe a piada contida como promessa.

Um outro carro, O Mazda 3, promete «Feliz Natal» em letras garrafais. São «3 meses grátis» do Pai «Ho-ho-ho!» Natal. O anúncio termina desejando um «Feliz Mazda 3» ao leitor. O choque da mensagem ao se divulgada ainda em Outubro chama a atenção sem qualquer dúvida. Mas é um pouco enjoativo falar tão cedo do Natal. Ainda se o anúncio tivesse saído em pleno Verão tinha piada. Mas agora não tem.

Verdadeiramente espectacular, original, profundo, mágico, é o slogan da campanha da Ucal: «Ucal é... Ucal». As tautologias como esta resultam, caso contrário não tinham sido inventadas há milhares de anos para uma carreira de êxito até aos nossos dias. Mas usar a tautologia com o nome da Ucal, como se fosse um Ferrari dos leites? «Ucal é... Ucal»? Percebem-se as reticências. Não há mais nada a dizer: «Ucal é... Ucal.»

Como se não bastasse, o anúncio de imprensa pretende ser piadético. A frase diz: «Beba cálcio directamente da fonte.» Fala do leite como se costuma falar das águas «naturais», as que vêm da fonte. E qual é a fonte do cálcio? Não exactamente a vaca, mas, para sermos mais precisos, as tetas da vaca a que a Ucal se associa visualmente.

Para fazer a graça visual, o publicitário deitou o pacote de leite (porque as vacas são um animal «horizontal») e colocou na parte inferior do «quadril traseiro» do pacote a fotografia das tetas de uma vaca. Os elementos visuais do pacote (fabricante, marca, reprodução de azulejo de leiteira a mungir a vaca) tiveram de ser colocados horizontalmente para facilitar a leitura ao observador. O pacote diz: «Enriquecido em cálcio», frase em que a proposição «em» confunde, pois quer dizer que o leite é enriquecido «com» cálcio mas numa frase – de sentido oposto – semelhante a «rico em cálcio». Sem literatura adicional, o anúncio não permite compreender se o fabricante adiciona cálcio, mas o site do fabricante (Parmalat) confirma que este leite «foi enriquecido em cálcio para reforçar a presença» do nutriente. Portanto, parte do cálcio que o observador pode beber neste leite não vem directamente da fonte sugerida (as tetas da vaca), ao contrário do que diz e mostra o anúncio.

Conclusão: da mesma forma que a «Ucal é... Ucal», este «publicitário é... publicitário».

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