Opinião
IA: a bomba que detonou nas nossas organizações e ainda poucos repararam
Um estudo recente apresentado no World Economic Forum (“Future of Jobs Report 2025”) mostra que, se por um lado, a IA pode substituir cerca de 92 milhões de empregos, por outro, poderá criar aproximadamente 170 milhões de novos empregos, o que se traduz num ganho de 78 milhões de empregos adicionais, o que é equivalente ao dobro do mercado de trabalho da Alemanha.
Vive-se em muitas organizações uma sensação estranha. Existe uma espécie de ilusão generalizada de que uma “bomba de Inteligência Artificial (IA)” não explodiu no meio das nossas organizações. Na realidade, essa explosão já aconteceu e os estilhaços estão por todo o lado, mas ninguém parece ter notado — ou, tendo notado, não sabemos ainda bem o que fazer em relação a isso. Esta disrupção tecnológica está a reduzir drasticamente os custos de funções essenciais e a desencadear transformações profundas nas estruturas organizacionais.
A universidade não só não é exceção como é talvez o melhor exemplo de imobilidade perante a “bomba de IA” que, entretanto, detonou nas nossas organizações. Por exemplo, ao longo de décadas as universidades desenvolveram processos caros de produção de conhecimento e tudo isto acaba de ser posto em causa. Por exemplo: qual é o futuro da produção de artigos científicos e da respetiva revisão pelos pares? Qual é o papel das ferramentas de “investigação profunda” na produção de conhecimento, quando sabemos que os modelos de investigação tratam do trabalho pesado da publicação académica a um custo mínimo e começam já a produzir resultados surpreendentemente bons? E, sabendo que a IA pode produzir currículos, produzir materiais de apoio, produzir as atividades em sala de aula, transformar conteúdos em podcast, qual é o papel dos docentes no processo? E qual é o futuro da avaliação baseada na produção de teses e trabalhos por parte dos alunos?
Porém, o impacto final desta “bomba” está ainda por determinar. Por exemplo, um estudo recente apresentado no World Economic Forum (“Future of Jobs Report 2025”) mostra que, se por um lado, a IA pode substituir cerca de 92 milhões de empregos, por outro, poderá criar aproximadamente 170 milhões de novos empregos, o que se traduz num ganho de 78 milhões de empregos adicionais, o que é equivalente ao dobro do mercado de trabalho da Alemanha.
Por outro lado, o relatório “State of Gen AI in the Enterprise 2025” publicado pela Deloitte conclui que 68% das organizações globais já reportam melhorias significativas nos seus processos de inovação, eficiência operacional e gestão de risco graças a estas tecnologias. Além disso, 74% dos empregadores afirmam que estas tecnologias superaram as expectativas no que respeita ao retorno do investimento.
Finalmente, 42% dos líderes identificam a conformidade regulatória como um dos principais riscos associados à IA, o que mostra como o Ato Europeu para a IA pode ser um entrave à competitividade das empresas europeias face às norte-americanas e asiáticas.
Na Nova SBE estamos a lançar um conjunto de iniciativas para ajudar as organizações e a sociedade a adaptarem-se a esta nova realidade. Elas incluem a criação de um instituto intitulado Digital Data and Design Institute at Nova SBE (um instituto “gémeo” de outro com o mesmo nome em Harvard, i.e. o Digital Data and Design Institute at Harvard) para, em parceria com Nova SBE e a NOVA Medical School, desenvolver estudos, projetos e formação que ajude a preparar a nossa sociedade, incluindo organizações públicas e o nosso tecido empresarial, para um mundo em que IA será omnipresente.
Através do nosso Instituto iremos lançar o AI Experimentation Lab — uma infraestrutura tecnológica de ponta, concebida para testar interações entre humanos e sistemas de IA em ambientes controlados, cumprindo os mais elevados padrões segurança. As simulações e as questões a explorar são infinitas. Em breve daremos mais detalhes…
Estamos também a preparar programas educacionais em parceria com várias universidades internacionais que nos permitam ajudar os nossos alunos a navegar nos desafios da mudança tecnológica em curso.
E o que pode o leitor começar a fazer para garantir que quando der pela bomba, não leva com os estilhaços? Usar, praticar, familiarizar-se e experimentar… mas, acima de tudo, que não abdiquemos do que é nosso: o papel insubstituível do humano — no pensamento crítico, na empatia, na ética e na criatividade — mantendo o controlo dos processos que envolvem IA.