Opinião
Como desbloquear a produtividade de Portugal?
De acordo com dados da Comissão Europeia, em 2023, a produtividade por pessoa empregada em Portugal era de 80,5% da média da UE, ocupando a 21.ª posição entre os 27 Estados-membros. Embora este número represente um progresso em relação aos 76,4% de 2019, ainda estamos muito atrás de países como Alemanha, Países Baixos ou Dinamarca.
A produtividade de um país é um dos mais importantes fatores do bem-estar e da qualidade de vida dos seus cidadãos. Países que conseguem maximizar a eficiência dos seus recursos humanos, tecnológicos e financeiros tendem a proporcionar melhores condições de trabalho, salários mais elevados, e serviços públicos de qualidade superior. No entanto, quando analisamos os números de produtividade de Portugal, torna-se claro que ainda há um longo caminho a percorrer para nos alinharmos com os países mais produtivos da União Europeia.
A produtividade é crucial para diversas dimensões da sociedade, afetando diretamente o crescimento económico, os salários, a competitividade, a atratividade do país para investidores estrangeiros e, claro, a qualidade de vida dos cidadãos. Países mais produtivos geram mais riqueza com menos recursos, o que permite aumentar o poder de compra e melhorar as condições de trabalho, e mais oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional. O aumento da produtividade também está diretamente relacionado com a criação de empregos , uma vez que empresas mais produtivas tendem a expandir-se, gerando novas oportunidades para o mercado de trabalho.
A produtividade tem também implicações sociais profundas e beneficiar a inclusão social. Uma economia mais produtiva é capaz de financiar melhor serviços públicos essenciais, como Saúde, Educação e Segurança Social, criando uma sociedade mais justa e equilibrada.
De acordo com dados da Comissão Europeia, em 2023, a produtividade por pessoa empregada em Portugal era de 80,5% da média da UE, ocupando a 21.ª posição entre os 27 Estados-membros. Embora este número represente um progresso em relação aos 76,4% de 2019, ainda estamos muito atrás de países como Alemanha, Países Baixos ou Dinamarca. Tendo vivido durante um longo período na Dinamarca, gosto sempre de a usar como referência, até porque é um dos países com maior produtividade da UE, aproximadamente 130-140% da média da UE. A alta produtividade dinamarquesa contribui para uma melhor qualidade de vida, uma vez que está vinculada a serviços públicos de excelência, como saúde e educação, e condições de trabalho mais favoráveis. A Dinamarca possui um sistema de bem-estar social robusto, sustentado por uma economia altamente produtiva. A Dinamarca é também uma referência mundial em termos de inovação e utilização de tecnologia nas suas empresas e na administração pública. A digitalização da economia dinamarquesa é avançada, e as empresas investem fortemente em tecnologias que aumentam a eficiência e a produtividade. Também o sistema de ensino dinamarquês é conhecido pela sua alta qualidade enquanto que a formação contínua e a especialização contribuem para um capital humano altamente qualificado e, portanto, mais produtivo.
O desafio da produtividade em Portugal exige mais do que diagnósticos e, por isso, lançámos recentemente o Laboratório de Produtividade — o mais recente projeto do recém-criado Nova SBE Public Policy Institute, com o apoio da Fundação Haddad. Este laboratório surge com o objetivo de mobilizar investigação rigorosa e soluções inovadoras para a melhoria da produtividade e de ser uma ponte entre o mundo académico, o setor privado e o governo.
O laboratório tem como missão a produção de conhecimento acionável, ou seja, investigação que não apenas diagnostica os problemas, mas também propõe soluções concretas e aplicáveis, com o potencial de serem implementadas rapidamente. A sua abordagem é multifacetada, combinando investigação de ponta, inovação, educação, tecnologia e internacionalização.
Através de várias iniciativas, o Lab propõe transformar a produtividade numa prioridade nacional. Entre as suas ações, destacam-se: 1) investigação-ação: lançamento de "calls" para projetos de investigação coletiva, envolvendo investigadores, alunos de pós-graduação, e parceiros externos, com foco em temas como as diferenças de produtividade entre países, os determinantes da produtividade das empresas e trabalhadores, e a relação entre produtividade e qualidade de vida; 2) "workshops" e seminários: organização de eventos focados na discussão das principais questões relacionadas à produtividade; e 3) promoção de dados e políticas públicas: uma das grandes barreiras ao aumento da produtividade é a falta de dados detalhados e precisos sobre as suas várias dimensões.
Os desafios são evidentes: a baixa produtividade de Portugal afeta o crescimento económico, limita os salários e prejudica a competitividade das empresas. Contudo, os próximos anos podem ser um ponto de viragem se conseguirmos desbloquear o potencial da nossa força de trabalho e melhorar a eficiência das nossas empresas e organizações. A chave para isso está na educação, na inovação, e, claro, na colaboração entre os diversos atores da sociedade — do mundo académico ao setor privado e ao governo.
O desafio é grande, mas para desbloquear a produtividade de Portugal é necessário um esforço coletivo e uma aposta firme em investigação, inovação e políticas públicas que promovam a eficiência e a competitividade. Se conseguimos trabalhar juntos e focar nos problemas reais, a produtividade pode deixar de ser um obstáculo e passar a ser a chave para o futuro de uma economia mais forte, mais justa e mais inclusiva.